Norte-mericanos ultrapassam chineses nos "Vistos Gold". Como os magnatas da China estão a perder Portugal, o destino de eleição da última década

4 ago 2022, 21:28
Habitação em Lisboa (Getty Images)

Durante a última década, os magnatas chineses investiram em empresas de setores tão distintos como a energia, a saúde, as finanças e a construção e transformaram o mercado imobiliário. Esse cenário está a mudar.

Durante os últimos anos, Portugal foi o destino de eleição dos magnatas chineses que viam nos "Vistos Gold" uma porta de entrada para um país seguro, de clima ameno, custo de vida acessível e com acesso à União Europeia. Mas esse cenário está a mudar e este ano há já um indicador que o revela: pela primeira vez desde a existência dos "Vistos Gold", há mais norte-americanos a recorrer ao programa do que chineses. 

Os dados de 2022, divulgados pela Bloomberg, indicam que desde janeiro foram atribuídas autorizações de residência a 124 norte-americanos, enquanto que a chineses foram concedidas apenas 105 autorizações. Este ano, apenas 16% dos candidatos aprovados são chineses, quando em 2014 eram 81%.

Mas há menos chineses a quererem investir em Portugal? A análise da Bloomberg sugere o contrário. A publicação, especialista em assuntos financeiros, sublinha que há cada vez mais magnatas a quererem sair da China, seja pelas tensões políticas, seja pela política de "covid zero", que tem obrigado a sucessivos confinamentos. No entanto, os entraves para conseguirem um "Visto Gold" aumentaram.

Por um lado, as restrições de viagens entre Portugal e a China tornaram quase impossível o processo de candidatura, que exige uma entrevista pessoal e, por outro lado, a própria União Europeia (UE) já demonstrou uma posição firme contra os programas de autorizações de residências - Bruxelas já exigiu regulamentação mais apertada para estes passaportes dourados, que considera comprometerem "a essência da cidadania da UE". Entretanto, na China, os consultores em imigração dizem que as autoridades governamentais também têm criado mais dificuldades à saída do país, ainda que de forma mais discreta, com atrasos nas renovações de passaportes e de outros documentos necessários para o processo. 

Ora, são estes fatores que explicam a redução do número de investidores chineses em Portugal. Os números oficiais do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras mostram que foram concedidos cerca de 10 mil "Vistos Gold" desde o início do programa, em 2012, e que foram os cidadãos chineses que dominaram essas autorizações de residência. Um passaporte dourado que permite a cidadãos estrangeiros residir e trabalhar no país e circular pelo espaço Schengen pelo preço de 350 mil euros - é este o valor mínimo que os candidatos têm de aplicar na aquisição e reabilitação de imóveis.

Durante a última década, os magnatas chineses investiram em Portugal em empresas de setores tão distintos como a energia, a saúde, as finanças e a construção. Os oligarcas transformaram o mercado imobiliário e, consequentemente, a paisagem dos grandes centros urbanos onde a habitação sofreu uma grande pressão. De resto, por causa dessa pressão e numa tentativa de empurrar o investimento estrangeiro para zonas do país menos desenvolvidas, o programa "Vistos Gold" já foi limitado em Lisboa, no Porto e nas zonas costeiras de grande densidade populacional.

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