Chefe do governo espanhol e presidente da Comissão Europeia estão no país de onde mais de 80% dos barcos com migrantes partiram para Espanha no mês passado, numa altura em que a UE se prepara para debater e votar o novo Pacto de Migrações e Asilo
A presidente da Comissão Europeia e o chefe do governo espanhol deslocaram-se esta quinta-feira à Mauritânia para assinar um acordo que reduza o número de partidas de migrantes da África Ocidental para a União Europeia, a cerca de dois meses de os líderes europeus debaterem e votarem o novo Pacto Europeu de Migrações e Asilo.
"Estamos aqui para reforçar a parceria UE-Mauritânia, [...] para mais cooperação em segurança regional e migrações", escreveu Ursula Von der Leyen na sua conta oficial na rede social X, antes de, juntamente com Pedro Sánchez, se encontrar com o presidente mauritano, Mohamed Ould Ghazouani, na capital do país, Nuaquexote. A visita oficial tem ainda em vista um estreitar da cooperação UE-Mauritânia no setor energético.
In Nouakchott together with @sanchezcastejon
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) February 8, 2024
We are here to step up the EU-Mauritania partnership.
With Global Gateway investments for the green and digital transition.
And further cooperation on regional security and migration. pic.twitter.com/QJipEO3VhM
A importância da Mauritânia no contexto das entradas de requerentes de asilo em território europeu tem ganhado destaque desde que o Ministério da Administração Interna de Espanha divulgou dados oficiais a indicar que mais de 80% dos barcos que chegaram às Ilhas Canárias em janeiro deste ano tiveram origem no país africano.
Segundo o governo espanhol, cerca de 7.720 pessoas atravessaram o Atlântico de barco rumo às Canárias no mês passado, no âmbito das redes de tráfico a operar em África, no correspondente a um aumento de mais de 1.000% em relação a janeiro de 2023, quando foram detetadas 566 entradas irregulares em território espanhol.
A par da Mauritânia, também o vizinho Senegal está na mira das autoridades europeias numa altura em que os líderes da UE e o Parlamento Europeu se preparam para debater e votar o novo Pacto de Migrações e Asilo do bloco em abril.
Parte do acordo hoje assinado, indicou o El País no início da semana, prevê 200 milhões de euros para a Mauritânia reforçar o controlo dos barcos que partem da sua costa e gerir as centenas de milhares de migrantes e refugiados que vivem atualmente no país, bem como travar as redes de tráfico humano a operar no território.
O caminho para este acordo começou a ser trilhado em outubro, quando a UE e Ghazouani começaram a delinear planos para mais investimento estrangeiro na Mauritânia, a fim de acelerar a descarbonização do país e desenvolver novas fontes de oferta energética, incluindo hidrogénio, energia solar e eólica. O acordo é apoiado pela Comissão Europeia, França, Alemanha, Espanha e o Banco Europeu de Investimento.
A par de Marrocos, a Mauritânia também esteve envolvida no escândalo de corrupção que abalou a UE no ano passado, batizado Catargate, sob o qual o governo de Ghazouani terá pagado 200 mil euros a Pier Antonio Panzeri, um dos alegados líderes do esquema de tráfico de influências, em troca de benefícios nos processos de decisão comunitários.