Foi encontrado no fundo do mar o navio que tentou salvar o Titanic

CNN , Amarachi Orie e Christian Edwards
2 out 2022, 10:00
Investigadores encontraram os destroços do navio que tentou salvar o Titanic (CNN Internacional)

Foi encontrado no fundo do mar da Irlanda o navio que tentou avisar o RMS Titanic do iceberg que o afundou na sua viagem inaugural. 

A 15 de abril de 1912, o navio mercante britânico SS Mesaba enviou uma mensagem de rádio ao Titanic enquanto atravessava o oceano Atlântico. Publicitado como um navio impossível de afundar, o Titanic recebeu a mensagem, mas não chegou ao centro de controlo principal do navio. Mais tarde, nessa noite, o Titanic atingiu o icebergue e afundou-se. Mais de 1.500 pessoas morreram naquele que continua a ser o mais infame naufrágio do mundo.

O Mesaba perdurou como navio mercante até ser torpedeado por um submarino alemão enquanto estava em escolta em 1918. Vinte pessoas, incluindo o comandante do navio, morreram. 

Há mais de um século que a sua localização exata era desconhecida, porém os cientistas encontraram recentemente os destroços do Mesaba, através da utilização de sonares de pesca. Trata-se de uma ferramenta de levantamento offshore que utiliza ondas sonoras para permitir o mapeamento do fundo do mar com tal detalhe que a super estrutura pode ser revelada em imagens sonares. Consequentemente, esta técnica possibilita aos investigadores da Universidade de Bangor e da Universidade de Bournemouth no Reino Unido a identificação afirmativa do naufrágio do navio no mar da Irlanda. 

De acordo com uma reportagem, esta foi a primeira vez que os investigadores conseguiram localizar e identificar com êxito o naufrágio. 

“Peças do puzzle” 

Michael Roberts, um geocientista marítimo da Universidade de Bangor, no País de Gales, liderou os levantamentos sonares na Escola de Ciências Oceânicas da universidade. 

Há vários anos que trabalha com o setor das energias renováveis marinhas para estudar o efeito dos oceanos nas infraestruturas geradoras de energia. Por conseguinte, os naufrágios provaram ser uma valiosa fonte de informação neste campo. 

“Sabíamos que havia muitos naufrágios no mar da Irlanda”, disse Roberts à CNN, acrescentando também que os seus métodos de investigação poderiam fornecer “informações úteis sobre o que acontece quando as coisas vão parar ao fundo do mar”. 

Mas foi apenas quando Roberts começou a trabalhar com Innes McCartney, arqueólogo marítimo e investigador na Universidade de Bangor, que as “peças do puzzle” começaram a encaixar. 

“O McCartney estava muito interessado em utilizar essa tecnologia em naufrágios para os identificar”, disse Roberts. Desse modo, a equipa de investigadores começou a mergulhar mais a fundo nos mistérios não resolvidos para “desvendar as suas verdadeiras histórias”. 

“Antes, podíamos mergulhar em alguns locais para identificar visualmente os destroços por ano. As capacidades sonares únicas do Prince Magod (navio de investigação construído para o efeito) permitiram-nos desenvolver um método de análise de destroços a um custo relativamente baixo. Podemos associar estes dados à informação histórica sem uma interação física dispendiosa com cada local”, acrescentou McCartney no comunicado. 

Roberts disse que o custo da descoberta e identificação de cada naufrágio situava-se entre £800 (900 euros) e £1.000 (1.130€). 

Uma descoberta revolucionária para a arqueologia marinha 

O Prince Madog encontrou 273 naufrágios espalhados por 19,424.900 quilómetros quadrados do mar da Irlanda, uma área aproximadamente do tamanho da Eslovénia. Os destroços foram digitalizados e comparados com a base de dados de destroços e outros do Gabinete Hidrográfico do Reino Unido. 

Muitos dos naufrágios recentemente identificados, incluindo o Mesaba, tinham sido incorretamente identificados no passado, afirmaram os investigadores. 

McCartney descreveu a técnica de sonar de feixes múltiplos como “uma descoberta revolucionária para a arqueologia marinha”, permitindo aos historiadores utilizar os dados que ela fornece para preencher os espaços vazios na sua história. 

O Prince Madog foi comissionado pela Universidade de Bangor e é gerido e operado pelo fornecedor de serviços offshore O.S. Energy. “Permite-nos sair até 10 dias de cada vez e ir a cada navio”, disse Roberts. “Fazíamos 15, 20, 25 naufrágios por dia. O Prince Madog é o que está por detrás deste processo todo.” 

De acordo com o comunicado, a tecnologia que o navio utiliza tem o potencial de ser tão eficaz para arqueólogos marinhos como a utilização da fotografia aérea em terra pelos arqueólogos. 

“Muitos destes naufrágios encontram-se em águas profundas. Não há luz lá em baixo, portanto não se consegue ver muita coisa”, disse Roberts. “Se um mergulhador descesse e nadasse o comprimento do naufrágio, jamais obteriam o tipo de imagens que nós obteríamos devido à dimensão destes destroços. Há tanto sedimento que simplesmente não se consegue ver tudo.” 

“Portanto, é uma forma muito eficaz de visualizar estes objetos através da utilização do som para ver algo que não se pode ver a olho nu, tal como uma ecografia durante a gravidez.” 

Embora a tecnologia tenha o potencial de desvendar as histórias de todos estes navios perdidos, Roberts acrescentou que os investigadores “têm também estado a examinar estes locais de naufrágio para compreender melhor como os objetos no fundo do mar interagem com os processos físicos e biológicos, o que por sua vez pode ajudar os cientistas a apoiar o desenvolvimento e crescimento do setor da energia marinha”. 

Os detalhes de todos os destroços encontrados foram publicados num novo livro de McCartney, “Echoes from the Deep”. 

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