«A minha mãe não sabe como é que nunca virei ladrão ou traficante»

27 jul 2021, 23:30
Matheus Nunes

Matheus Nunes recordou dificuldades da infância e lembrou papel do padrasto e do padrinho no seu crescimento

Matheus Nunes é um caso raro no futebol. Há três anos, jogava nos distritais de Lisboa, no Ericeirense. Há pouco mais de uma década, passou dificuldades no Brasil: nunca conheceu o pai e viveu numa favela. Um dos campeões nacionais pelo Sporting em 2020/2021 diz que, ainda hoje, a sua mãe não sabe como é que não seguiu caminhos menos bons na vida, como roubar ou até ser um traficante, nos seus tempos de infância no Brasil.

Na mais recente edição do podcast «ADN de Leão», do Sporting, o médio luso-brasileiro começou por recordar como foi ser campeão e, depois, dissertou sobre a vida que teve quando era mais jovem.

«Foi indescritível [ser campeão], começou a passar-me o filme todo na cabeça. Tu vês nos filmes que acontece. Começo-me a ver quando era pequenino, coisas que mais me marcaram durante a infância… as dificuldades que passava. Antes de conhecer o meu padrasto, passei muita dificuldade na minha vida. Não tinha comida para comer. Jogava [todos os dias à bola na favela], chegava a casa com a sola do pé toda preta. A minha mãe gritava para mim: “não toques no sofá!”», começou por dizer, explicando depois como conseguiu seguir um rumo. Admite, naturalmente, que o padrasto e o padrinho tiveram papel fundamental no seu crescimento como pessoa.

«É acreditares no teu sonho. Primeiro, tens de acreditar. Depois, também tens de ter as pessoas certas na hora certa. Se eu não tivesse conhecido o meu padrasto, nunca tinha vindo para Portugal. Se eu não tivesse vindo, nunca tinha conhecido o meu padrinho. Se não tivesse conhecido o meu padrinho, nunca tinha oportunidades que tive se calhar. É rodear das pessoas certas, acreditar, trabalhar, também o talento», expressou.

«Depende da pessoa que tu és. Se eu tivesse na favela e tivesse virado um traficante de droga, se calhar não tinha conhecido ninguém que conheci, mas como segui no caminho certo… a minha mãe hoje em dia, quando eu falo com ela, diz isso, não sabe como é que nunca virei ladrão ou um traficante de droga, tinha condições para isso. Pessoas amigas seguiram esse caminho e perdi contacto. Para mim acho que é um caso raro no futebol, porque eu vim mesmo muito de baixo. A maioria das pessoas que conheço em Portugal nunca tiveram nem perto o tipo de vida que eu tive. Graças a Deus, não desejo nada do que passei para ninguém», afirmou Matheus Nunes, que nunca conheceu o pai biológico.

«Sempre fui habituado a ter responsabilidade, porque cresci em casa sem pai, então sempre fui habituado. Só fui educado pela minha mãe [Cátia Regina]. Sempre cresci com um certo tipo de responsabilidade em casa. Tenho [irmãos], mas houve um período em que fomos viver para uma favela e aí o meu irmão só viveu aí dois meses, entretanto foi viver com o pai dele. Aí não tinha outra figura masculina em casa. Nunca conheci o meu pai. Era eu, a minha mãe, a minha irmã mais velha, o meu irmão mais velho. Entretanto nos últimos dez anos é que tenho as minhas duas irmãs mais novas e o meu padrasto [John], que considero como pai, não é sangue do sangue, mas é como se fosse», partilhou o jogador de 22 anos.

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