Em média, foram feitas seis mil chamadas por dia para este serviço, mas apenas 30% são encaminhadas para as urgências hospitalares. Diretores das urgências dos dois maiores hospitais do país dizem que são boas notícias
Entre o dia 1 e o dia 15 de novembro, a Linha SNS 24 atendeu um total de 89.325 chamadas e, “em média”, apenas “por volta de 30%” foram referenciadas para o serviço de urgência, segundo os dados divulgados à CNN Portugal pelo SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.
Para Nelson Pereira, diretor do serviço de urgência do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, “esta é a melhor notícia de todas” e prova uma maior consciencialização dos utentes aos apelos que se vêm a repetir para que não recorram às urgências sem fazer primeiro uma triagem junto do SNS 24.
“Há um conjunto grande de doentes com doença aguda que ligam para o SNS 24 em vez de se deslocarem às urgências e encontram outro caminho, como o recurso aos cuidados de saúde primários”, reconhece Nelson Pereira.
Também João Gouveia, diretor do serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, olha com bons olhos para estes números. “Espero que haja cada vez mais uma referenciação dos doentes, deve haver uma porta de entrada na urgência do SNS e essa porta deve ser pelo Saúde 24 ou pelo INEM”, diz.
O Hospital Santa Maria esteve na semana passada em contingência devido ao grande número de utentes que se deslocaram ao serviço de urgência, mas João Gouveia admite que a situação esta semana está “francamente melhor” e que o hospital, apesar da afluência, voltou à normalidade, não estando já em contingência. “Houve uma redução do número de urgências”, revela.
“Em relação ao que vivemos no final da semana passada e no fim de semana, esta semana está francamente melhor, não estamos em contingência, mas é na mesma necessário que venham doentes apenas referenciados ou em casos mesmo de urgência”, alerta João Gouveia.
Já no São João, a procura pelo serviço de urgência continua a aumentar. Neste hospital do Porto, que tem recebido utentes de várias regiões do Norte, a afluência às urgências é ainda elevada e Nelson Pereira revela que tem havido uma maior referenciação por parte do SNS 24 para casos mais urgentes e que requerem avaliação em âmbito hospitalar.
“Há mais doentes encaminhados para a urgência por eles [SNS 24], em outubro e novembro houve um aumento, não muito significativo, mas que é real. De janeiro a setembro deste ano, tivemos uma média constante de 6,25% de utentes que vieram referenciados pelo SNS 24, é uma média constante face aos anos anteriores. Em outubro passou para 7,29% e em novembro 8,21%. Há uma tendência de aumento da referenciação, o que é positivo, é sinal de que as pessoas estão conscientes de que podem ligar antes de irem às urgências”, adianta o médico do São João.
O mês de novembro foi antecipado como caótico para o Serviço Nacional de Saúde, tanto pelos médios no terreno, como o próprio diretor-executivo do SNS, e o certo é que vários serviços hospitalares apresentam constrangimentos (alguns estão mesmo encerrados) e os hospitais que servem de ‘almofada’, como o São João na zona Norte e o Santa Maria na área metropolitana de Lisboa, começam a acusar uma grande pressão devido à maior afluência às urgências, mas descartam o cenário de caos.
Mais chamadas do que antes da pandemia
Contas feitas, em apenas quinze dias foram atendidas 5.955 chamadas por dia na Linha SNS 24, um valor idêntico às cinco mil chamadas por dia registadas durante todo o mês de outubro.
No entanto, quando comparado com os valores de 2019, ano pré-pandemia e que tem servido de bitola em termos de comparação, é notório um aumento do recurso a este serviço do Estado.
Segundo o SPMS, nos primeiros 15 dias de novembro foram feitas mais 48,8% ligações para o SNS 24 do que no mesmo período de 2019, em que se registaram 60.004 chamadas
Porém, e apesar de um maior número de chamadas para o SNS 24, o SPMS nota que apenas uma em cada três chamadas feitas para a Linha SNS 24 nos primeiros 15 dias deste mês levaram o utente a uma urgência hospitalar, o que é um valor inferior ao registado em 2019, embora não tenha apresentado à CNN Portugal dados concretos.