opinião
Jornalista,editor de Sociedade

Sol, mentiras e um súbito amor ao segredo de justiça

28 jul 2023, 22:31

Há uma semana o Nascer do Sol mentiu, numa "notícia" não assinada de Felícia Cabrita. Caluniaram a TVI, enganaram os leitores, que, apesar de poucos, merecem respeito - e serviram de lebre a outros interesses, que não o dos cidadãos, de quem nos quer atacar. O jornal anunciou na capa que no caso Altice "Armando Pereira foi avisado pela TVI" na véspera das buscas, o que é uma mentira descarada. E optaram, esta semana, por não se retratar, nem publicar o direito de resposta que a TVI lhes enviou, depois de nunca se terem dado ao trabalho de, fazendo de jornalistas, pedirem uma reação à direção da estação. Nada. Agora, entre a sanha persecutória e a fuga para a frente, embrulharam mais umas coisas falsas, com uns floreados disfarçados de pormenores, para dar um ar de consistência. O problema é quando os próprios disparates já se contradizem uns aos outros. 

Vejamos: Armando Pereira "foi avisado pela TVI na véspera" da operação. Agora sabe-se, porque a TVI o revelou e o próprio SOL já confirma, que afinal todos os suspeitos já tinham sido alertados para a investigação 15 dias antes por via de uma professora universitária, conforme confessaram. Sendo assim, como é que só teriam sabido pela TVI na véspera, o que segundo o SOL até levou não sei quem a fugir? 

Depois, Felícia Cabrita, que dá lições de profissionalismo, já não sabe em que parte da vida é que Armando Pereira contou que fora avisado pela TVI, o que também é notável. Num texto diz assim: "Uma fonte conhecedora do processo indica que, durante as buscas, o empresário terá afirmado aos investigadores que, na véspera, fora interpelado pela TVI mas que se recusara a prestar declarações". E noutro texto já mudou o cenário para o tribunal: "Armando Pereira, durante o interrogatório, dirigido pelo juiz Carlos Alexandre e com a presença dos líderes da equipa de investigação, o procurador Rosário Teixeira e o inspetor tributário Paulo Silva, admitiu que na véspera das buscas foi contactado pela TVI com um pedido de comentário ao que se iria passar".

Esta última hipótese, juro, é para mim a mais credível, desde logo porque o inspetor tributário nem sequer esteve nos interrogatórios judiciais. Em frente.

Há depois um bocado de texto onde se lê que Armando soube da presença de um carro da TVI na zona através de um primo que terá visto o carro (será que viu mesmo). Ou seja, a TVI já não contactou Armando; foi só um primo que viu qualquer coisa. Enfim. Seria só penoso se fosse um erro lamentável, que toda a gente comete, e Felícia Cabrita podia ser ajudada a sair disto com alguma dignidade. O pior é quando as pessoas vivem de má fé.

Por último registei o ar triunfante com que fecha um texto afirmando que "a estação de Queluz de Baixo estava a par da violação do segredo de justiça". Bravo. Fez-me recordar que esta pseudo-estrela decadente do nosso jornalismo conserva, além dos ódios de estimação, uma fonte pelo menos desde os idos de 2014. Passam quase nove anos desde aquela noite fria de novembro em que, ainda o engenheiro Sócrates vinha no avião de Paris e já Felícia, no habitual estilo semi-literário, tinha uma série de artigos escritos sobre o que viria a ser a célebre operação Marquês. O jornal SOL começou a libertá-los pelas 11 da noite. 

Vem isto a propósito do segredo de justiça e das suas violações - enorme preocupação que Felícia e algum Rambo das Finanças agora denotam sobre o caso Altice e sobre a possibilidade, meu Deus, de a TVI ter percebido que poderia haver uma operação. Quando já meio mundo sabia, pelos vistos, a começar por professoras universitárias que duas semanas antes já tinham vazado a informação para os suspeitos. 

Aos senhores polícias das Finanças: quem quer preservar segredos, tem primeiro que aprender a guardá-los. A TVI não serve de bode expiatório às felícias, aos rambos do Fisco nem a ninguém.

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