Doentes estão a ser reencaminhadas para outras unidades
Urgência vazia, sala de partos fechada, equipamentos a serem retirados e uma sala de espera com grávidas a questionar onde terão os bebés marcam o dia em que a maternidade do Hospital Santa Maria encerrou para obras.
Ao mesmo tempo, uma equipa com seis elementos do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Maria começou a trabalhar no Hospital São Francisco Xavier, um processo de transição que “é sempre complexo”, mas que, segundo o diretor interino do Serviço Obstetrícia e Ginecologia, Alexandre Valentim Lourenço, “está a correr dentro do programado, sem sobressaltos”.
Hoje foram encerrados os pisos 2 (urgência obstétrica), 4 e 6 (bloco de partos) e na quinta-feira será encerrado o piso 5 (internamento pós-parto), onde ainda estão as mulheres que tiveram bebé no passado fim de semana e terão alta entre hoje e quarta-feira.
“Foi nossa opção não as transferir e manter esse serviço até poderem ir para casa em segurança”, disse Alexandre Valentim Lourenço em entrevista à agência Lusa no Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, de onde estavam a ser retirados computadores, móveis, material e equipamento médico, para serem guardados num lugar seguro enquanto decorrem, até março, as obras de requalificação e expansão do serviço, um investimento de cerca de seis milhões de euros.
Questionado se houve grávidas a recorrerem hoje ao serviço, o especialista contou que algumas telefonaram e ainda algumas ainda foram assistidas na urgência central, “mas durante a noite já não recorreu ninguém ao Hospital de Santa Maria e apenas uma grávida chegou ao princípio da manhã”, acabando por ser transferida para o São Francisco Xavier, após ter sido avaliada por uma equipa do hospital.
Segundo o médico, não há necessidade de transferir neste momento grávidas internadas, porque as equipas foram acautelando essa situação nos últimos dias, começando a internar “nos sítios adequados mulheres que tinham recorrido” à urgência nas últimas duas semanas. “Vamos fazer esta mudança sem sobressalto para as nossas grávidas, garantindo uma fluidez naquilo que é o contexto clínico”.
Na sala de espera da consulta, várias grávidas aguardavam a sua vez para ser atendidas e algumas comentavam onde iam ter o bebé na sequência do fecho temporário da maternidade.
Grávida de cinco meses, Jamime Severino, 43 anos, disse à Lusa que ficou “muito triste” quando soube que não podia ter ali o seu bebé, um menino, porque nunca foi “tão acarinhada” como neste hospital, onde se sente segura: “Estou a adorar”, reconheceu.
Agora a dúvida é a maternidade onde vai ter o bebé, sendo que a escolha recairá entre o Hospital de Loures e o Hospital de Vila Franca de Xira.
Estas dúvidas são partilhadas por Iara Fonseca, grávida de cinco meses, que soube hoje que não podia ter a sua bebé em Santa Maria. “A minha gravidez foi muito tranquila e gostava de ter aqui a bebé, mas se calhar vou ter em Loures” que é mais perto de casa do que o São Francisco Xavier, referiu.
Alexandre Valentim Lourenço esclareceu que as grávidas podem recorrer a qualquer uma das 11 maternidades na região metropolitana de Lisboa para ter o bebé caso tenham vagas, além de que o SNS24 e o INEM estarão a gerir esta articulação da rede entre as várias instituições.
Para o médico, o receio que possa surgir nas grávidas “tem a ver, muitas vezes, com a falta de informação que existe num processo de transição” e com o medo do desconhecido: “A partir do momento em que as coisas estão a funcionar, e que mostramos como estão a funcionar, esses receios” mostram-se “infundados e começam a ser sossegados”.
“Estamos muito esperançosos de que os próximos dias irão dissipar esse receio nas nossas grávidas e (…) e de que poderemos contribuir de uma forma muito positiva para a rede metropolitana das maternidades”, salientou.