"Não brinque, senhor Putin": um pedido no dia em que a Rússa vai tomar uma decisão fundamental

21 fev 2022, 16:22

A guerra da desinformação está em curso enquanto ninguém sabe se a outra guerra, a da invasão da Ucrânia, vai mesmo acontecer - apesar de haver quem diga que já está mesmo em curso. Sucedem-se os apelos a Putin para recuar mas sem efeitos aparentes. Hoje a Rússia deve anunciar uma decisão sobre as repúblicas separatistas ucranianas que vai condicionar muito da guerra por acontecer ou por evitar

A escolha é entre o “sim ou o sim”. Foi desta forma que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, apresentou a Vladimir Putin as opções acerca da decisão de reconhecer a independência das repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, na região do Donbass, na reunião de emergência do Conselho de Segurança russo. A decisão poderá dar à Rússia o pretexto de que necessita para auxiliar militarmente as duas repúblicas, ocupando o território ucraniano. 

A reunião, presidida pelo antigo líder russo Dmitry Medvedev, viu vários dos membros da cúpula do presidente russo defender o reconhecimento da soberania das regiões separatistas. Medvedev afirmou mesmo que não existem "sinais de melhoria" e que a "única saída" é o reconhecimento legal da independência desses territórios.

Putin não deu a reposta, mas assegurou que a Rússia está a analisar o pedido feito pelos dois territórios separatistas do leste da Ucrânia para Moscovo reconhecer a sua independência. “O objetivo da nossa reunião de hoje é escutar os nossos colegas e determinar os nossos próximos passos nesse sentido”, disse, acrescentando mais tarde que a decisão vai ser tomada ainda esta segunda-feira.

Mas os ares de conflito reinaram durante o encontro, com o presidente da Rússia a insistir que a Ucrânia representa um grande perigo para a soberania russa. “A utilização da Ucrânia como instrumento de confronto com o nosso país representa uma ameaça grave, muito grande para nós”, destacou Putin, afirmando que a prioridade de Moscovo “não é o confronto, mas a segurança”.

Ataques e e troca de acusações

Por volta das 09:30 locais, cerca de 06:50 em Portugal Continental, um posto de controlo fronteiriço em território russo, a menos de 150 metros de distância do território ucraniano, foi completamente destruído. A alegação foi feita pelo Serviço Federal de Segurança (o FSB, agência que sucedeu o KGB) através de um comunicado, onde diz que “um obus não identificado disparado do território da Ucrânia destruiu completamente um posto de guarda fronteiriço”, cita a agência francesa AFP.

Um porta-voz das forças armadas ucranianas em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, negou qualquer fogo de artilharia contra o posto fronteiriço no sector de Rostov e referiu-se a um ato de desinformação russa. “Não podemos impedi-los de produzir esta falsa informação (…), mas insistimos que não estamos a disparar sobre nenhuma infraestrutura civil ou sobre a região de Rostov”, disse Pavlo Kovalchuk à AFP.

Os Estados Unidos e vários países europeus têm alertado para a “encenação” de “operações de bandeira falsa” por parte das forças de segurança russa, de forma a justificar uma invasão à Ucrânia.

Cimeira de Biden com Putin

Moscovo garantiu esta segunda-feira que não existem "planos concretos" para uma cimeira entre Vladimir Putin e o presidente norte-americano, Joe Biden, após o presidente francês, Emmanuel Macron, ter proposto o encontro de forma a se encontrar uma solução diplomática para o conflito na fronteira com a Ucrânia.

O anúncio foi feito pelo porta-voz do Kremlim, Dmitry Peskov, que disse aos repórteres que "é prematuro falar sobre quaisquer planos específicos para a organização de qualquer tipo de cimeira". 

Citado pela agência de informação russa TASS, o representante da presidência russa classificou a situação na fronteira com a Ucrânia como "extremamente tensa" e que o intensificar das violações de cessar-fogo são causa de uma "preocupação profunda". "A situação é realmente extremamente tensa, e até agora não vemos sinais de diminuição do nível de tensão. Provocações e bombardeamentos estão a tornar-se cada vez mais intensos, é claro, isso causa uma preocupação muito profunda", reforçou.

Não brinque com vidas humanas

O chanceler alemão, Olaf Scholz, vai falar ao telefone com Vladimir Putin esta segunda-feira à tarde, de acordo com um anúncio feito pelo governo alemão, justificado pela intensificação do conflito com a Ucrânia.

Horas depois do anúncio, a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock pediu esta segunda-feira ao presidente russo, Vladimir Putin, para não "brincar com vidas humanas", numa altura em que muitos cidadãos de ambos os lados da fronteira têm as suas vidas ameaçadas por um possível conflito militar.

"Apelo insistentemente ao governo russo, ao presidente russo: não brinque com vidas humanas” Baerbock disse em Bruxelas na chegada à reunião do Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros.

A ministra alemã classificou de "verdadeiramente irresponsável" o "jogo" que está a ser feito com a sociedade civil e com as pessoas que vivem nas áreas ocupadas. “Os ataques, o conflito violento que vivemos nas últimas 72 horas, é realmente alarmante, o cessar-fogo está a ser interrompido repetidamente e as vidas das pessoas estão altamente ameaçadas por causa da interrupção do fornecimento de água e energia”, afirmou.

“Voltem para a mesa de negociação. Está nas vossas mãos. Estamos sentados à mesa a cada hora e a cada minuto", acrescentou.

Companhias aéreas suspendem voos para a Ucrânia

As companhias aéreas Lufthansa e Swiss Air anunciaram esta segunda-feira que vão suspender os voos com destino às cidades de Kiev e Odessa, devido aos receios de um conflito militar entre a Ucrânia e a Rússia. Horas depois, a transportadora francesa Air France cancelou dois voos com destino a Kiev marcados para esta terça-feira.

"A segurança de nossos passageiros e tripulantes é a nossa principal prioridade em todos os momentos", afirmou a companhia aérea alemã Lufthansa, que acrescenta que a suspensão se mentém até ao final de fevereiro. 

A Swiss Air garante que os voos com destino a Kiev vão ficar suspensos até ao dia 28 de fevereiro - já a partir desta segunda-feira. Na semana passada, a companhia aérea neerlandesa KLM suspendeu todos os voos para Kiev.

Europa

Mais Europa

Patrocinados