"A pós-Rússia será um desafio para a próxima geração, tal como o pós-comunismo foi um desafio para a geração anterior"

CNN Portugal , CNC
8 mai 2023, 16:20
Vladimir Putin (LUSA)

Uma análise ao que há de vir

Janusz Bugajski, analista político norte-americano e autor de vários livros sobre a Europa, a Rússia e as relações transatlânticas, faz algumas previsões sobre o clima político russo e o que acredita ser a iminente queda da Rússia. Em entrevista ao Kyiv Post, argumenta que, apesar da propaganda existente, o regime russo está muito instável, essencialmente devido a fatores económicos e à inerente estrutura do regime - tudo isto pode ser agudizado perante uma eventual derrota na Ucrânia.

"O declínio económico, um orçamento cada vez mais apertado, um regime personalista sem linhas de sucessão e uma derrota militar iminente na Ucrânia desencadearão conflitos." Janusz Bugajski esclarece que estes conflitos vão surgir entre a elite russa, o que vai desencadear uma luta de poder entre as diferentes facções existentes em várias regiões do país. "Já vemos sinais de conflito entre as diferentes instituições de poder, mortes misteriosas de mais de uma dúzia de oligarcas e frequentes purgas da liderança militar." 

O analista comenta ainda que, com as perdas territoriais em solo ucraniano, o próprio poder de Putin está lentamente a desmoronar-se, sendo impossível esconder estas perdas do regime e da população. E acrescenta: "A rutura acelerar-se-á depois de Putin morrer ou ser destituído e à medida que as lutas internas pelo poder se intensificarem e alguns líderes regionais virem uma oportunidade para formar novos Estados, à semelhança do que aconteceu durante o colapso da URSS".

Janusz Bugajski admite que, após uma eventual queda de Putin, Moscovo vai tentar manter sob a sua alçada as regiões que produzem recursos energéticos e matérias-primas valiosas, mas que "os atores políticos considerá-los-ão uma base valiosa para a criação de Estados independentes". "Também não se deve partir do princípio de que o processo de substituição de Putin será pacífico ou rápido ou que surgirá um líder que seja aceite por todos. (...) Isso enfraquecerá a capacidade do centro para impor o seu domínio em todo o país."

Apesar de a Rússia possuir uma extensa linha de defesa militar, as perdas - não só territoriais na Ucrânia mas também as perdas humanas sofridas, vão fazer com que "Moscovo dependa cada vez mais das milícias e das forças policiais locais para reprimir a agitação e tentar derrubar quaisquer governos alternativos". Somado a isto há o facto de a polícia local não ser de confiança e um outro ponto: os veteranos de guerra da Ucrânia "vão ter muitas queixas contra o regime e vão fornecer recrutas para as milícias republicanas e regionais independentes".

O analista defende também que o Ocidente precisa de estar preparado para o fim do regime de Putin e todas as consequências que isso implica. Janusz Bugajski faz o aviso: "Washington e Bruxelas têm de sair da sua mentalidade de status quo e começar a planear todas as eventualidades na Rússia, incluindo guerras civis, secessões pacíficas, colapso económico generalizado, repercussões regionais (guerra, movimentos de guerrilha, refugiados, etc.). (...) A pós-Rússia será um desafio para a próxima geração, tal como o pós-comunismo foi um desafio para a geração anterior".

Relacionados

Mundo

Mais Mundo

Patrocinados