No final da segunda derrota consecutiva do FC Porto para a Liga, com a correspondente perda de 6 pontos em 2 jogos, Sérgio Conceição falou de coragem ou da falta dela: “Há coragem para expulsar o Pepe, mas não há coragem para expulsar o Di María ou o Hjulmand. É isto o futebol português”.
Coragem.
Sim, há demasiado tempo que é preciso coragem da arbitragem para enfrentar certos ambientes e certos comportamentos.
E, às vezes, perante eles, os árbitros deixam-se intimidar. E esse é o ponto que interessa considerar: é preciso eliminar todos os focos de coação para os árbitros poderem aplicar, com equidade, as leis do jogo, independentemente dos ambientes e desses focos ilegítimos de pressão.
Desta maneira, a Liga portuguesa não é mais nada senão um enorme embuste.
Enquanto não se derrubar este muro, existirão entorses graves na Liga portuguesa, com consequências para a Verdade Desportiva em linha com uma situação crónica de embuste, denunciada há muitos anos, eu diria décadas, nestes espaços de análise e opinião.
O problema não está obviamente na expulsão de Pepe, que mais uma vez fez tudo para ser expulso, no caso vertente do jogo com o Vitória, desrespeitando a figura do árbitro.
Dois pares de binóculos na cara de Fábio Veríssimo, com o juiz de campo a explicar por gestos que foram duas as vezes em que Pepe o insultou, não poderiam ter outra consequência.
O problema é quando não existem consequências e é essa crónica impunidade na nossa Liga que fez com que o capitão do FC Porto se achasse com estatuto, no seu Estádio e perante o seu público, para dizer e sublinhar junto do árbitro que precisa de ir ao oftalmologista.
Pepe não se lembrou dos efeitos da Operação Pretoriano e da muito maior fragilidade da claque dominante, fragmentada, esvaziada e sem a liderança musculada que controlava os passos dos agentes desportivos, nomeadamente os árbitros, e prejudicou o FC Porto, com a sua atitude irrefletida. Foi isso que mudou: a impunidade não anda à solta
Sabem o que mudou? O ‘chefe’ da claque está preso.
E Conceição, de resto, acabou por reconhecer a justeza da expulsão de Pepe, falou da falta de coragem para, na mesma jornada, no “dérbi eterno”, se expulsar Di María e Hjulmand. E não é que, desta vez, o excessivo treinador do FC Porto, tantas vezes protagonista de situações que fazem mal ao Desporto e ao futebol português, tem do seu lado a razão conveniente?
Sim, Di Maria deveria ter sido expulso (um escândalo não ter sido, naquilo que foi um punhal cravado nas costas da videoarbitragem e da Verdade Desportiva) e Hjulmand deveria ter visto segundo amarelo — e só não o viu porque o experiente Artur Soares Dias, percepcionando o erro clamoroso de Luís Godinho no lance da conduta violenta de Di Maria sobre Pedro Gonçalves, aplicou uma das mais repugnantes ‘leis’ do futebol e da arbitragem - a lei da compensação.
É isto, de facto, o nosso futebol. O nosso futebol consente, até, que quem mais prevarica, que quem mais exerce pressões ilegítimas sobre os árbitros, e oriente os jogadores nesse sentido, se coloque na posição de autoridade moral.
Não há noção do ridículo OU a noção de inimputabilidade — face à falência e à inoperância dos regulamentos — é assim tão magistral? É claro que o nervosismo aumentou.
É isto, de facto, o nosso futebol.
Demasiadamente centrado nas ajudas que as arbitragens possam dar, numa espécie de obsessão fatal.
É isto, de facto, o nosso futebol: demasiado centrado nas queixinhas e nos queixumes, demasiado centrado na tarefa de em campo se tentar enganar o árbitro, demasiado centrado através dos bancos em tentar condicionar as decisões de arbitragem. com os jogadores a simularem faltas e a atirarem-se para o chão a simularem lesões. É ISTO, lamentavelmente, O NOSSO FUTEBOL.
Como diz o outro, JOGUEM À BOLA. Vós, jogadores, concentrem-se apenas no jogo. Dêem tudo pelo jogo.
E vós, treinadores, preocupem-se apenas em preparar as equipas para JOGAREM À BOLA, como sempre se vê na Premier League, recentemente no 4-3 do Chelsea-Manchester United ou no 2-2 de ontem do United com o Liverpool
Invistam no jogo porque, mesmo sendo uma Liga periférica, a Liga portuguesa — se os presidentes e dirigentes, se os treinadores e os jogadores se concentrarem apenas no jogo e nas soluções para o melhorarem — está a desperdiçar uma oportunidade de ouro para se rentabilizar. Por causa de uma mentalidade retrógrada, manhosa e ilegítima. Que urge desmantelar.