Uma trivela que abusou dos esteróides
A 3 de junho de 1997, no estádio Gerland, em Lyon, Roberto CarlosRoberto Carlos à França: este fica para outra vez
Não é preciso uma busca exaustiva: só entre golos de laterais em Campeonatos do Mundo, a galeria, fundada por Nilton Santos em 1958, inclui obras de arte assinadas por Carlos Alberto
Mas, depois, esta história chega a junho de 1978, e torna-se obrigatório escrever um capítulo à parte, dedicado a Manoel Resende de Matos Cabral, que o mundo do futebol ficou a conhecer como Nelinho.
Do Barreiro a Buenos Aires
Recomendado por Otto Glória, o lateral carioca passou pelo Barreirense com apenas 20 anos, na época 1970/71, sem brilho nem glória.
Nelinho ao centro, entre Câmpora e José Carlos
Fez meia dúzia de jogos numa equipa que penava para não descer de divisão. Lesionado e desiludido, voltou para o Brasil em fevereiro de 1971, a tempo do Carnaval e de reinventar uma carreira de alto nível, quando se mudou para o Cruzeiro de Belo Horizonte, em 1973. Foi aí que a potência do seu tiro de pé direito lhe valeu uma dupla alcunha: Nelinho Pé de Chumbo ou o Canhão da Toca, em referência ao centro de treinos do clube, a Toca da Raposa. Estas imagens ajudam a perceber os motivos:
Integrando uma das melhores equipas da história do clube, o sucesso – traduzido em quatro títulos estaduais e uma Taça Libertadores, em 1976 – valeu-lhe a titularidade na seleção brasileira ao longo de cinco anos, com passagens por dois Mundiais. E se, em 1974, tapado por um Rivelino implacável
Uma trivela com esteróides
Depois de um primeiro golo
Não foi o único a pensar assim, enquanto Nelinho recebia a bola com um toque que a levava um pouco para lá da quina da área: o guarda-redes italiano, Dino Zoff, recorreu à calculadora mental para antecipar a trajetória do cruzamento, riscando a opção remate das possibilidades, como o faria qualquer guarda-redes que não estivesse familiarizado com o Canhão da Toca.
Anos mais tarde, Nelinho viria a dissecar o momento mágico, numa reportagem para a SportTV do Brasil: «Quando dominei aquela bola, vem-me à cabeça o seguinte: pela posição em que estou ele vai achar que eu vou cruzar. Por isso vou bater pro gol, vou dar a curva ao contrário
Já foste, Dino…
Quem ainda não conhece a peça, que espere mais um pouco sem clicar no link lá de baixo. Porque a trajetória de banana do remate, dado com a parte de fora do pé direito, no que apetece descrever como uma trivela que andasse a abusar dos esteróides, é tão incrível que justifica o recurso à física para desmontar o impossível.
Foi o que tentou fazer a SportTV. Usando a tecnologia, explicou que a bola saiu a 115 kms/hora do pé direito do Canhão da Toca. Que demorou 1,4 segundos a percorrer os 40 metros que a separavam do poste direito da baliza italiana. E que foi a rotação, duas vezes sobre o próprio eixo, que a fez efetuar uma mudança de rota em arco, que lhe permitiu anular um desvio inicial de 10 metros para contornar Zoff e anichar-se no ponto mais inacessível para o guarda-redes.
Tudo explicado? Decidam por vocês mesmos. Por mim, troco todas as explicações acerca disto por um botão de repeat