"Fúria, raiva e tristeza". Presidente do Parlamento Europeu reage a caso de corrupção: "Preferimos passar frio a sermos comprados"

Agência Lusa , WL
12 dez 2022, 17:04

Roberta Metsola anunciou uma reforma interna, para reforçar a transparência da organização

A presidente do Parlamento Europeu assumiu esta segunda-feira “fúria, raiva e tristeza” com o caso de corrupção que envolve membros daquela assembleia, mas garantiu que a instituição trabalha com a justiça e anunciou uma reforma interna para reforçar a transparência.

Dirigindo-se ao hemiciclo no início da sessão plenária que arrancou esta segunda-feira em Estrasburgo, França, Roberta Metsola começou por confidenciar que os últimos dias foram “dos mais longos” da sua carreira, face à investigação policial que levou à detenção de várias pessoas, entre as quais uma vice-presidente do Parlamento Europeu, a deputada grega Eva Kaili, por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Catar para influenciar as decisões da instituição relativas à celebração do Mundial de futebol naquele país.

“Tenho de escolher as minhas palavras com muito cuidado para não comprometer de forma alguma as investigações em curso ou prejudicar o princípio da presunção de inocência, e vou fazê-lo. Por isso, se a minha fúria, a minha raiva e a minha tristeza não transparecerem, acreditem que estão muito presentes, juntamente com a minha determinação para que esta casa fique mais forte” na sequência deste escândalo, declarou a dirigente maltesa.

Roberta Metsola reforçou que "a democracia europeia está a ser atacada" e, já no fecho do discurso, deixou uma garantia aos colegas de hemiciclo: "Nós somos europeus. Preferimos passar frio mas nunca seremos comprados"

Apoio à investigação

Segundo Metsola, os “planos maliciosos” de “atores malignos ligados a países terceiros autocráticos” fracassaram, até porque os serviços do Parlamento Europeu, dos quais se afirmou “incrivelmente orgulhosa”, já vinham a trabalhar “há algum tempo” com as autoridades judiciais relevantes.

Na mesma intervenção, e perante a atual situação, Roberta Metsola anunciou uma série de medidas, entre as quais uma investigação interna e uma reforma do acesso dos grupos de pressão (lóbis) às instalações parlamentares, assim como a proteção de denunciantes de atos criminosos.

“Retirei todas as funções à vice-presidente [Eva Kaili] e convoquei uma reunião extraordinária da conferência de presidentes [que reúne os líderes de todas as bancadas parlamentares] para lançar um procedimento para pôr termo ao seu mandato como vice-presidente, num esforço para garantir a integridade desta casa”, disse.

Metsola garantiu ter noção de que este processo ainda não terminou e assegurou que o Parlamento Europeia irá “continuar a prestar assistência às investigações, juntamente com outras instituições da UE, pelo tempo que for necessário”.

“Não vai haver impunidade. Nenhuma. Os responsáveis encontrarão este Parlamento do lado da Lei. Não vamos varrer nada para debaixo do tapete. Vamos lançar uma investigação interna para analisar todos os factos relacionados com o Parlamento e determinar como tornar ainda mais resilientes os nossos sistemas”, anunciou.

“Vamos lançar um processo de reforma para determinar quem tem acesso às nossas instalações, como é que organizações e pessoas são financiadas, que vínculos têm a países terceiros, vamos pedir maior transparência nas reuniões com atores estrangeiros”, prosseguiu.

Socialistas Europeus expulsam eurodeputada grega Eva Kaili

A bancada dos Socialistas Europeus (S&D) no Parlamento Europeu decidiu expulsar do grupo, “com efeito imediato”, a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili, acusada de corrupção, pedindo também o seu afastamento do cargo na instituição.

Numa nota de imprensa divulgada após uma reunião, o S&D informa que, mediante proposta da mesa, decidiu “expulsar Eva Kaili do grupo com efeito imediato, na sequência da suspensão do seu mandato” na passada sexta-feira.

“Além disso, o grupo S&D exigiu que Eva Kaili fosse afastada do cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu, durante a sessão plenária desta semana, invocando o artigo 21.º do regulamento interno”, referente à cessação antecipada de funções.

O regulamento interno da assembleia europeia prevê, no seu artigo 21.º, que um vice-presidente (ou outro responsável) cesse funções antecipadamente quando for “culpado de falta grave”, numa decisão que é proposta pela Conferência de Presidentes da instituição e adotada em plenário por maioria de dois terços dos votos expressos, constituindo a maioria dos membros do Parlamento Europeu.

“Estamos consternados com as alegações de corrupção no Parlamento Europeu. O grupo S&D tem tolerância zero para a corrupção. Apoiamos uma investigação minuciosa e uma divulgação total. Iremos cooperar plenamente com todas as autoridades investigadoras”, salientam os Socialistas Europeus na nota de imprensa.

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