As melhores jogadoras do mundo declaram guerra à FIFA

2 out 2014, 23:50
Nadine Angerer e Marta (Reuters)

Um grupo onde estão as mais conhecidas jogadoras de futebol colocou um processo em tribunal por causa do Mundial 2015. Angerer, Marta, Wambach e outras queixam-se de discriminação

As armas foram sendo limpas, as duas fileiras foram-se formando com a ameaça de um conflito já existente e prestes a rebentar em consequências. O que aconteceu. Um grupo de jogadoras de futebol com as melhores praticantes do mundo à cabeça declararam guerra à FIFA e foram para tribunal por causa da relava artificial no Mundial 2015.

A ação foi colocada nesta quarta-feira no Tribunal de Ontário e foi movida contra a FIFA e a Associação de Futebol do Canadá, país onde vai realizar-se o próximo Mundial feminino. O grupo de jogadoras queixosas invoca discriminação sexual. O Campeonato do Mundo 2015 vai realizar-se em seis estádios - Vancouver, Edmonton, Winnipeg, Ottawa, Moncton e Montreal – e todos têm atualmente relva artificial.

«Os Campeonatos do Mundo masculinos são disputados em relva natural enquanto a federação do Canadá e a FIFA estão a relegar as jogadoras para a relva artificial. As diferenças têm importância: os campos artificiais alteram a forma de jogar, têm inerentes riscos para a integridade física e são considerados de qualidade inferior», resumiu para «BBC», Hampton Dellinger, advogado das jogadoras, que são quase 50 e representando 12 países.

Neste grupo estão, como refere o «The Equalizer», três vencedoras do prémio de melhor futebolista do ano FIFA: a alemã Nadide Angerer (atual detentora do troféu); a norte-americana Abby Wambach (sua antecessora) e a brasileira cinco vezes vencedora, Marta. E ainda outras estrelas como a espanhola Verónica Boquete, ou a francesa Camille Abily.



As ameaças do processo judicial começaram em julho passado. As jogadoras queixam-se de serem discriminadas pelo género, pois as suas competições são relegadas para a relva artificial, considerada de pior qualidade e pior para o jogo. E apontam, por oposição, que os próximos Mundiais masculinos (2018 e 2022) já estão previstos para campos com relva natural.

Mas, mais do que isso, a sua batalha é também pela integridade física, pois a relva artificial é mais propensa a lesões e mais abrasiva para o corpo. A batalha das futebolistas – já designada como «turf war» («guerra à relva artificial») – ganhou proporções planetárias desde então e várias estrelas dessa dimensão têm-se associado à causa
, como fizeram os basquetebolistas Kevin Durant ou Kobe Bryant a respeito de Sydney Leroux.


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A «turf war» foi ganhando dimensão. Em agosto deste ano, Abby Wambach dizia à CBS: «Nós temos mesmo de travar esta luta.» A petição «FIFA: o Mundial tem de ser jogado em relva natural» tinha no passado dia 26 de setembro mais de 11 mil assinaturas, contando com mais de 70 jogadoras internacionais por 16 países – destacando-se a grande presença de norte-americanas, alemãs ou suecas.

Há pouco dias, parece ter sido detonado o explosivo que faltava para o conflito ganhar existência factual. A responsável da FIFA para as competições femininas foi ao Canadá visitar os estádios. No dia 30 de setembro declarou a respeito do Mundial 2015. «Jogamos em relva artificial e não há plano B.»

As futebolistas não querem boicotar o Mundial, mas, nesta altura, há um tribunal civil que vai decidir sobre questões de direitos em relação a uma competição desportiva. À «BBC», a FIFA declarou «não ter sido informada oficialmente sobre o assunto», enquanto a federação canadiana emitiu um comunicado referindo «abster-se de fazer comentários antes de uma análise detalhada» sobre o tema.

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