Com o rei Carlos III a subir ao trono, o que muda para cada membro da família real?

CNN , Max Foster
10 set 2022, 16:16
Rei Carlos III

Deus salve a rainha, viva o rei. A segunda era isabelina chegou ao fim e a família real irá agora reagrupar-se em torno de um novo monarca para a próxima era da história britânica.

O que mudará para cada um dos membros da realeza?

Carlos

No momento em que Isabel II morreu, o filho mais velho, Carlos, tornou-se automaticamente monarca. Como soberano, escolheu tomar o nome de rei Carlos III.

Todos os direitos e responsabilidades da Coroa são agora assumidos pelo rei Carlos III.

Torna-se chefe de Estado, não só no Reino Unido, mas de 14 outros reinos da Commonwealth, incluindo a Austrália e o Canadá. Vai tornar-se chefe da Commonwealth de 56 membros, apesar de essa não ser uma posição hereditária, depois de a sua sucessão ao cargo ter sido acordada pelos líderes da Commonwealth, numa reunião em Londres em 2018.

Tornou-se chefe das Forças Armadas Britânicas, do poder judicial e da função pública, e é o Governador Supremo da Igreja de Inglaterra. Ele é o Fons Honorum (fonte da honra), o que significa que todas as honras, como os títulos de cavaleiro, serão agora dadas em seu nome.

O Reino Unido não tem uma constituição codificada, pelo que o papel da monarquia é definido por convenção e não por lei. Tem o dever de se manter politicamente imparcial, o que significa que será submetido a um maior escrutínio se continuar a exprimir as opiniões pelas quais é conhecido.

Promoveu medicamentos alternativos e técnicas de agricultura biológica. Em 1984, bateu-se contra os "troncos de vidro e torres de betão" da arquitetura moderna. Passou décadas a alertar para os perigos das alterações climáticas. Nos memorandos denominados "aranha negra", levantou as questões que o preocupavam diretamente com os ministros.

Num documentário da BBC para assinalar o seu 70.º aniversário, Carlos reconheceu ter causado polémica com as suas intervenções passadas. Mas prometeu não se intrometer em assuntos controversos quando fosse soberano, afirmando que agiria dentro "dos parâmetros constitucionais".

Isabel manteve-se "acima da política" e nunca se expressou em nenhum sentido sobre qualquer assunto e, como resultado, raramente dividia opiniões. Conseguiu manter o apoio popular e o apoio em todos os partidos no parlamento, que era o único órgão com o poder de a destronar.

Nunca saberemos o que ela discutiu nas suas audiências regulares com os seus primeiros-ministros, a começar por Churchill, mas Carlos tem uma personalidade mais opinativa. Irá ficar calado sobre questões políticas em público, mas continuará a fazer lobby em privado? Irá a primeira-ministra agir quanto a isso?

As audiências ministeriais são um dos vários deveres constitucionais que se espera que o Rei Carlos III cumpra e irão pô-lo em contacto regular com os decisores políticos. Ele nomeia o primeiro-ministro, abre sessões parlamentares, aprova legislação e nomeações oficiais, recebe as credenciais de embaixadores estrangeiros e acolhe líderes mundiais em visitas de Estado.

Carlos também adotou a posição simbólica como Chefe da Nação, o que significa que se torna o símbolo da identidade nacional, da união e do orgulho. Representa a continuidade e celebra a excelência em nome do país. É por isso que vemos o monarca a inaugurar eventos nacionais e a liderar comemorações.

As pessoas procuravam esperança em Isabel em tempos de crise, mas irão unir-se da mesma forma em torno do Rei Carlos III? Ele é menos consensual, não só pelas suas opiniões sinceras, mas também pelo mau sabor que ainda resta do seu divórcio acrimonioso da sua extremamente popular primeira mulher, Diana.

Todas as residências reais oficiais, incluindo o Palácio de Buckingham e o Castelo de Windsor, estarão agora sob o seu controlo. Há também outras residências, como Balmoral, na Escócia, e Sandringham, em Norfolk, que a Rainha possuía em privado, e a nação terá de ver a quem as deixa no testamento.

De qualquer forma, a riqueza de Carlos disparou. Receberá agora a Bolsa Soberana, que cobre o custo das suas funções oficiais e terá agora 86,3 milhões de libras (99,2 milhões de euros) para o exercício de 2021/2022. Assumirá a gestão da Coleção Real, que inclui uma das mais valiosas coleções de arte do mundo. Ficará também com o Ducado de Lancaster, uma vasta propriedade de mais de 10 mil hectares de terra, imóveis nas melhores zonas de Londres e um portfólio de investimentos.

O rei Carlos III tornou-se um dos homens mais ricos da Inglaterra de um dia para o outro.

Camilla

Carlos e Camilla participam na Ordem da Jarreteira na Capela de São Jorge, a 13 de junho, em Windsor (Getty Images)

Durante anos, a grande questão à volta da mulher de Carlos ensombrou o seu título. Na altura em que o casamento foi anunciado, em fevereiro de 2005, o comunicado oficial dizia: "Pretende-se que a Sra. Parker Bowles use o título SAR A Princesa Consorte quando o Príncipe de Gales subir ao Trono." Foi um sinal muito claro de que Camila não usaria o título de Rainha. O seu gabinete, em Clarence House, distanciou-se dessa afirmação nos anos que se seguiram, no entanto, dizendo que era um assunto do monarca reinante.

Então, em fevereiro de 2022, a Rainha expressou o seu desejo de que a sua nora fosse conhecida como Rainha Consorte quando Carlos se tornasse Rei, numa mensagem que marcava o início do seu ano de jubileu de platina – uma declaração que parecia resolver permanentemente o assunto.

Os desejos da Rainha foram bem recebidos pelo próprio casal. Nesse mesmo fim de semana, um comunicado divulgado por um porta-voz disse ter ficado "comovido e honrado pelas palavras de Sua Majestade".

Onde irá viver o casal? Tradicionalmente, o novo monarca mudar-se-ia para o Palácio de Buckingham, mas, em 2011, a BBC noticiou que Carlos estava a ponderar mudar toda a sua corte para Windsor e transformar o Palácio de Buckingham num centro de eventos. Seria uma mudança drástica e controversa, mas também poderia reforçar o Rei Carlos III como o novo chefe.

William e Catherine

William e Catherine fotografados com os filhos, George, Charlotte e Louis, e a rainha, Carlos e Camilla no Palácio de Buckingham durante as celebrações do jubileu de platina, a 5 de junho (Getty Images)

Até agora, Carlos foi responsável por cobrir os custos do seu herdeiro, o Príncipe William.

William herdou agora do pai o título de Duque da Cornualha, que vem com uma propriedade que no ano passado obteve um rendimento de 23 milhões de libras (26,5 milhões de euros). O dinheiro vai diretamente para William e torna-o financeiramente independentemente rico

O seu novo título é SAR O Duque da Cornualha e Cambridge e a tradição dita que, como primeiro na linha de sucessão ao trono, ele também se tornará Príncipe de Gales - mas isso é algo sobre o qual o monarca terá de fazer um anúncio específico. Se o fizer, Catherine tornar-se-á Sua Alteza Real, A Princesa de Gales e Duquesa da Cornualha e Cambridge.

William e Catherine poderão solidificar a sua própria corte independente, que está atualmente sediada no Palácio de Kensington, no oeste de Londres, num apartamento que foi remodelado pouco depois do casamento. Parece improvável que William queira mudar-se, por isso as antigas residências do Rei, incluindo Clarence House e Birkhall nas Terras Altas da Escócia, provavelmente permanecerão vazias até que Carlos as ofereça a outros membros da família, ou encontre uma utilização alternativa. A família reside em Adelaide Cottage, em Windsor, durante o período escolar.

O Príncipe George, a Princesa Charlotte e o Príncipe Louis seguirão os títulos dos pais. São agora Suas Altezas Reais o Príncipe George, a Princesa Charlotte e o Príncipe Louis da Cornualha e Cambridge. Coloquialmente, é provável que sejam conhecidos como George, Charlotte e Louis de Gales.

Harry e Meghan

Meghan, duquesa de Sussex, e príncipe Harry participam da One Young World Summit anual em Manchester, noroeste da Inglaterra, a 5 de setembro (Getty Images)

É pouco provável que ao segundo filho de Carlos, Harry, seja oferecido um gabinete real, a menos que ele e a esposa Meghan regressem aos seus deveres reais, e o Rei também precisará de confirmar que poderão continuar a usar Frogmore Cottage, na propriedade de Windsor, que faz parte da propriedade real. Atualmente vivem com o filho Archie e a filha Lilibet na Califórnia, mas foram autorizados a continuar a utilizar Frogmore como residência oficial durante o reinado da Rainha.

Quando Harry e Meghan anunciaram, no início de 2020, que iriam abandonar os deveres reais, disseram que iriam "trabalhar para se tornarem financeiramente independentes". Os termos do abandono estipulavam que, embora o par continuasse sempre a fazer parte da família, deixariam de usar os seus títulos de SAR.

Como netos do monarca, Archie torna-se automaticamente Sua Alteza Real o Príncipe Archie de Sussex, enquanto Lilibet será Sua Alteza Real a Princesa Lilibet de Sussex. Se utilizarão ou não esses títulos, só saberemos na primeira vez que os pais se referirem publicamente a eles.

Príncipe Andrew e outros membros da família

Princesa Anne participa num serviço na Catedral de St Giles, a 30 de junho, em Edimburgo, Escócia (Getty Images)

O rei Carlos III torna-se também responsável pela distribuição de cargos, responsabilidades e recursos a outros membros da família real.

Carlos nunca foi próximo do irmão Andrew, que se afastou dos seus deveres reais por causa das suas ligações ao infame e falecido empresário Jeffrey Epstein. Em janeiro de 2022 foi destituído do seu título de SAR, bem como outros associados aos cargos militares e do domínio da beneficência. Isso levanta a questão de saber se o novo Rei continuará a permitir que Andrew use o seu apartamento no Palácio de Buckingham e se lhe oferecerá apoio financeiro.

Depois, temos os seus outros irmãos, a Princesa Anne e o Príncipe Edward, e parentes mais distantes, como os Gloucester e os Kent, que mantêm residências reais em Kensington.

Carlos terá de decidir o apoio familiar de que precisa para cumprir as suas funções e a quem quer oferecê-lo. Poderá revelar então o apoio que oferece em troca. Muitas destas decisões já teriam sido tomadas e os primeiros sinais reveladores de quem acha que lhe é realmente leal serão vistos através de quem manterá que residências e, em especial, que terá direito a uma atualização para melhor.

Anne e Edward, e a sua esposa Sophie, a Condessa de Wessex, devem continuar com os seus deveres públicos, após décadas de serviço dedicado, mas o novo rei terá de equilibrar esse fator contra a pressão de uma monarquia emagrecida em tempos austeros.

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