"Não somos os carneirinhos do partido". Os jovens socialistas têm ansiedades, propostas para o país: só querem é "ser ouvidos"

7 jan, 08:30
Jovens do PS

Fizemos uma pausa nos trabalhos do 24º Congresso do PS. E sentámo-nos à mesa com três jovens socialistas. Numa reunião magna que tem como lema “Um Futuro com História”, eles certamente serão parte do futuro. Falam da importância da “jota”, antecipam quem estará à frente do país daqui a cinco anos e dizem que medidas tomariam se fossem eles o próximo primeiro-ministro 

A política é uma coisa para jovens? 

A nossa pergunta é servida com provocação. Isabel Costa, 26 anos, vinda de Barcelos e auditora de profissão, é rápida na resposta: “É um território para jovens. Para mudarmos as coisas temos de fazer parte”. 

Mesmo que o desinteresse dos jovens na política seja cada vez maior. Manuel Nunes, 19 anos, estudante de Lisboa, admite que tem “vindo a decrescer o número de jovens nos partidos”, mas realça que “há cada vez mais jovens a assinar petições”, o que demonstra interesse nas causas, como o combate às alterações climáticas. 

Então, como é que se explica este cenário? “A maioria dos partidos não estão focados numa matéria. E os jovens, apesar de defenderem determinada causa, têm receio de que ela seja diluída pelas restantes. Não querem ficar associados. Não se reveem nas políticas, porque são matérias mais genéricas”, explica Caroline Pereira, cientista de 29 anos, vinda de Bragança. 

Contudo, estes jovens insistem na importância da Juventude Socialista a que pertencem. “Só os jovens é que fazem políticas para os jovens. Têm de mostrar que a sua voz é ouvida”, junta Manuel Neves. 

“Temos um percalço, que é a descredibilização da política em Portugal”, junta Caroline Pereira. Porquê? “Temos muitos casos e casinhos”. Ainda assim, insiste, a estratégia para chamar mais jovens para a política é ter “a porta aberta”. 

Fazer parte de uma “jota” é integrar a “carneirada”, ser parte do rebanho? 

São unânimes na resposta: não. Embora percebam bem o âmbito da pergunta. “Pluralidade é o que vivemos no partido, mas não é a imagem que passa para fora”, confessa Caroline Pereira. 

“Carneirada? Não concordo. Há muita pluralidade, há muitas facetas. Não somos carneirinhos do partido. Somos uma voz que é ouvida”, reage Manuel Neves, lembrando um conjunto de propostas que partiram da JS e que, apesar da resistência inicial entre alguns socialistas, vingaram: a interrupção voluntária da gravidez, o casamento entre pessoas do mesmo género ou, no futuro, a despenalização do consumo de canábis. 

Onde vês Portugal daqui a cinco anos? 

A resposta é difícil. Exige tempo para pensar. Mas há algo em que são unânimes: será Pedro Nuno Santos quem estará à frente do país nessa altura. 

“Não sei onde vejo o país. Mas temos uma luta comum, pela defesa da democracia”, aponta Isabel Costa. 

E Manuel Neves concretiza: “Tenho receio de que Portugal possa ter dois partidos. O partido do centro e o da extrema-direita", evidenciando a preocupação com a ascensão da extrema-direita em vários países - e inclusive em Portugal, com o crescimento registado pelo Chega. 

Já Caroline Pereira lembra que esse retrato é praticamente impossível de traçar hoje porque “vivemos períodos de grande estabilidade”. 

“Gostaria que tivesse uma aposta maior nos jovens, com salários dignos e capacidade de compra de habitação. Queria que os nossos direitos fossem efetivamente reconhecidos”, descreve. 

Pedro Nuno Santos teve oportunidade de fazer, mas persistem os problemas em áreas que tutelou, como a habitação. Como é que consegue convencer o eleitorado? 

A defesa do novo secretário-geral do PS é cerrada. “Um político assume-se. Pedro Nuno Santos tem-se assumido”, começa Manuel Neves, lembrando que no discurso deste sábado o líder socialista reconheceu a existência de problemas e vontade para continuar a resolvê-los. 

“Não é só o carisma, mas a coragem em assumir e fazer. Sentimos que com Pedro Nuno vamos ter ação”, remata Caroline Pereira. 

Isabel Costa dá o exemplo da localização do novo aeroporto de Lisboa, onde Pedro Nuno Santos sempre assumiu uma posição clara quanto a Alcochete. “Ele não tem medo daquilo que as pessoas vão pensar dele. Um político Não pode ter medo disso”. 

Se fosses primeiro-ministro, qual seria a primeira medida a adotar? 

Manuel Neves cita de cor os artigos da Constituição para formular as suas vontades: “todos os graus de ensino gratuitos” e “uma casa para cada cidadão”. Admite que a última é ousada, mas não há problema em sonhar. 

Isabel Costa concorda na ideia de aumentar o parque habitacional público. “São problemas por falta de pensamento político há 20 ou 30 anos”, justifica. E também aponta a “propina zero”, porque isso permitiria atenuar os encargos de muitas famílias. 

Caroline Pereira socorre-se das preocupações dos jovens do interior. Com a vontade de que a ferrovia chegue a todos os distritos – como prometido, aliás na moção de Pedro Nuno Santos. “Somos um país tão pequeno que não faz sentido não estarmos ligados como um todo”. 

Mas esta jovem socialista, embora tente, não consegue fugir ao tema da habitação: sugere uma fórmula para o controlo de rendas, tendo em conta o rendimento das pessoas. 

Liderar a JS é agora o caminho para chegar à liderança do PS? 

Todos concordam: não. “As juventudes são a voz das ideias dos jovens, não o caminho para ambições pessoais”, resume Caroline Pereira. 

Também Manuel Nunes argumenta que “as juventudes não são só lugares”. “Estamos aqui para sermos ouvidos”. E há muito para apontar daqui em diante. 

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