Polícias temem aumento de movimentos extremistas e preparam novos protestos esta semana

6 fev, 08:00
Protesto das Forças de Segurança (LUSA)

Plataforma que reúne os sindicatos da PSP e da GNR vai reunir-se para alinhar as próximas ações de luta, Ao mesmo tempo, responsáveis das associações policiais avisam que há grupos que podem "passar o limite da legalidade" e deixam alerta: "O Governo tem de perceber que se não negociar connosco, vão dar mais voz a estas facções, aumentando o risco de impulsos momentâneos”. Entretanto, a IGAI já recebeu as informações do ministro José Luís Carneiro sobre os casos das baixas médicas e do alegado apelo ao boicote às eleições

Novas vigílias, concentrações e pedidos de licenças sem vencimento. São estas algumas das ações de protesto das forças de segurança que estão em cima da mesa, segundo adiantou Paulo Macedo, do Sindicato dos Profissionais da Polícia à CNN Portugal. A decisão será tomada esta quarta feira numa reunião que contará com sete sindicatos da Polícia de Segurança Pública e quatro associações da Guarda Nacional Republicana. Mesmo depois da carta de António Costa, onde repudiou a “ameaça implícita de colocar em causa a normal realização" das legislativas, os responsáveis garantem que não vão desistir de protestar e alertam para o facto de puderem surgir "movimentos inorgânicos", dentro dos elementos da PSP e GNR, que adoptem medidas mais radicais. "Neste momento, não podemos garantir que estes movimentos não promovam ações que possam pisar o limite ou mesmo ultrapassar a linha da legalidade”, garante o líder sindical.

Por isso, para além da organização dos próximos protestos, esta reunião vai servir também para os sindicatos alertarem para o crescente aparecimento destes “movimentos inorgânicos” dentro das estruturas policiais e do risco de existirem ações extremistas, acrescenta Paulo Macedo.

Esta preocupação também é manifestada por Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia que pede ao Governo que receba os sindicatos, sob pena de “estes movimentos inorgânicos se alastrarem ainda mais pelas forças de segurança”. “O Governo tem de perceber que se não negociar connosco, vão dar mais voz a estas facções, aumentando o risco de impulsos momentâneos”. “Se não conseguirmos ter o controle, outros vão ter”, diz Paulo Macedo.

O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia, Bruno Pereira, adianta, por sua vez, que as próprias forças policias estão a olhar para dentro e a investigar a existência destes movimentos inorgânicos. "A polícia tem também competências na área das informações e procura e monitoriza aquilo que possam ser movimentos de subversão para podermos evitar eventos que possam colocar em causa o Estado de Direito". "Eu quero acreditar que as minhas salas de informação vão fazer o trabalho no sentido de monitorizar estes movimentos", acrescenta.

Mesmo depois do anúncio de vários inquéritos e de uma carta que António Costa escreveu aos representantes das forças de segurança a reiterar a impossibilidade de abrir um processo negocial, os sindicatos garantem que o braço de ferro é para continuar. "A carta de António Costa não tira enfoque à nossa luta", destaca Bruno Pereira.

Para já, contaram vários responsáveis sindicais à CNN Portugal, a ideia é que as ações de luta, que deverão começar já quarta-feira e manter-se até sábado, “sejam mais cirúrgicas e menos de larga escala”, como a grande manifestação que juntou 20 mil polícias no Porto, adianta por sua vez Paulo Macedo presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), sublinhando que esta estratégia pretende capitalizar na “bola de neve” de protestos que tem visto “cada vez mais polícias a aderir”. 

Paulo Santos refere ainda que “é cada vez maior o número” de polícias a aderirem aos protestos, pelo que entre os líderes e delegados sindicais “há a vontade de dar continuidade às ações de luta” e que estas podem passar por “novas vigílias, concentrações e pedidos de licenças sem vencimento”.

Entre os sindicatos que vão estar reunidos esta quarta-feira, tem havido também a preocupação de “otimizar as ações de luta”, tentando que cada protesto “não seja individualizado” e se chegue a um “acordo geral” com todas as associações. Para a segunda quinzena de fevereiro, conta Paulo Santos, é esperado um protesto da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia “que queremos que seja alargado a todos os sindicatos”.

IGAI já recebeu as informações do ministro José Luís Carneiro 

Entretanto esta segunda-feira o ministro da Administração Interna enviou mais informação ao IGAI relativamente à falta de policiamento e às “súbitas baixas médicas” que levaram ao cancelamento do jogo entre o Famalicão e o Sporting. Além disso, os vários comandos podem abrir nos p´roximos processos de inquérito internos, tendo apenas de esperar que corram cinco dias da falta de presença dos agentes - o prazo que a lei prevê  para cada elementos apresentar a justificação por não se terem apresentado ao serviço.

Há ainda outro inquérito em curso no IGAI sobre as declarações do presidente do SINAPOL que, em entrevista à CNN Portugal, admitiu a possibilidade de um boicote durante as eleições legislativas. Foi esta, aliás, a declaração que levou a duras críticas por parte de António Costa que, numa carta enviada aos oficiais da PSP e militares da GNR sublinhou ser a sua “profunda convicção, que jamais as forças de segurança perpetrariam um ato tão grave de traição à nossa Democracia".

Antes desta carta ser divulgada, já o líder da SINAPOL, Armando Ferreira, tinha convocado para esta quinta-feira uma conferência de imprensa para responder às críticas do ministro da Administração Interna que o acusou de “ameaçar colocar em causa a atividade da PSP durante os próximos atos eleitorais”.

Este domingo, Armando Ferreira,  garantiu que quis apenas "lançar um alerta" com base “num plano de hipóteses e naquilo que são os sinais que vão chegando e que são preocupantes, que, de facto, no dia 10 de Março, considerando que são as polícias que transportam as urnas e os boletins de voto, isso poderia acontecer", referindo-se a “uma forte possibilidade” de “boicote às legislativas”.

Os representantes sindicais que falaram com a CNN Portugal não adiantam para já qual será o impacto que os próximos protestos vão ter, mas admitem que casos como aquele que impossibilitou o confronto entre o Sporting e o Famalicão se repitam. “Não nos preocupa o cancelamento de um jogo de futebol”, “preocupa-nos que ministro José Luís Carneiro tenha ficado em silêncio enquanto 20 mil polícias manifestavam-se, e só se tenha preocupado quando falhou um jogo de futebol”, aponta Paulo Macedo, sublinhando que qualquer partida pode ser realizada sem policiamento e se existir risco de confrontos há a possibilidade de a fechar ao público.

O líder sindical adianta ainda que o “serviço público nunca será posto em causa” por protestos, mas refere que o policiamento a privados pode ficar condicionado, já que o gabinete jurídico do seu sindicato está a avaliar sobre se é legal os agentes policiais recusarem efetuar estes serviços extra, como é o caso dos festivais de música. 
 

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