Três primeiros episódios da série estrearam-se esta quinta-feira e revelam muitos vídeos pessoais e fotografias nunca antes vistas. Harry e Meghan falam ainda sobre o "preconceito inconsciente" vivido dentro da família real que adensou as dificuldades vividas pelo casal nos meses antes de abandonarem o seu papel como membros seniores da realeza britânica. E o desentendimento com o pai de Meghan é um dos lamentos de Harry
Os três primeiros episódios do documentário do príncipe Harry e Meghan Meghan na Netflix estrearam-se às 8:00 desta quinta-feira. Depois da antevisão feita no trailer, já se sabia que os duques de Sussex queriam contar a sua versão da história depois de se terem afastado dos seus deveres como membros seniores da família real britânica em março de 2020.
No início do documentário é revelado que as entrevistas dos participantes foram concluídas em agosto deste ano, ou seja, no mês anterior à morte da rainha Isabel II (assinala-se esta quinta-feira três meses da morte da monarca), e que a família real não quis comentar o documentário. No entanto, de acordo com a CNN Internacional, nenhum membro da família real foi contactado para comentar a série e o Palácio de Buckhingham afirmou na terça-feira que tal não vai acontecer.
O documentário começa com Harry sentado na sala do aeroporto em Londres depois da decisão de sair da família real, num vídeo gravado pelo próprio e que parece contradizer a vontade de levar uma vida afastada das câmaras e dos holofotes. São, no entanto, vários os vídeos gravados por Harry e por Meghan (e muitas fotografias nunca antes vistas), a conselho de um amigo, como revela o duque, que fazem parte dos episódios e que dão uma visão mais intimista (Meghan aparece mesmo de toalha na cabeça, sentada no chão de casa) da vida do casal junto dos filhos, Archie e Lilibet.
No primeiro vídeo, Harry justifica a decisão do afastamento com a segurança da família, com a qual ficou "genuinamente preocupado" por causa da constante invasão da imprensa britânica, que explorava a vida da família real britânica, em especial a sua e a da mulher após o casamento. O príncipe diz mesmo que era o seu "dever" "desmascarar esta exploração e suborno que acontece nos meios de comunicação social".
"É muito difícil olhar para trás agora e pensar 'que raio aconteceu?', 'como é que chegámos aqui?'. (...) Ninguém sabe toda a verdade. Nós sabemos toda a verdade, a instituição sabe toda a verdade e os media sabem toda a verdade porque têm estado envolvidos nisso."
Noivado foi "reality show orquestrado"
Os pontos condutores ao longo dos três episódios foram dois: Harry queria proteger a família e Meghan era alvo de perseguição da imprensa britânica como a princesa Diana tinha sido. Mas havia ainda um ponto a juntar a isto tudo: a questão racial, que fez Harry acusar a família real de "preconceito inconsciente" que agravou as dificuldades do casal nos meses que antecederam a sua saída da família real.
"Aceito que há muitas pessoas no mundo que discordam fundamentalmente com aquilo que eu fiz e como eu o fiz. Mas eu sei que tinha de fazer tudo o que conseguisse para proteger a minha família, especialmente depois do que aconteceu com a minha mãe."
O casal, que falou sobre como viveu os primeiros meses do namoro numa bolha, com viagens de duas em duas semanas para se verem, que viajou para o Botswana no início do namoro e sobre os constrangimentos do namoro à distância, revelou ainda como viveu a última noite antes do mundo descobrir que, sim, estavam numa relação. E como a partir daí tudo se tornou mais difícil, levando ao comunicado de 8 de novembro de 2018 em que Harry pede à imprensa que respeite Meghan, dizendo que "uma linha tinha sido ultrapassada".
No documentário, Harry diz mesmo que teve de agir para proteger Meghan, mas que quando falou disso junto da família real viu que isso era tomado como algo "normal".
"No que diz respeito a muita da família, tudo o que ela estava a passar eles também tinham sido passado. Por isso era quase como um rito de passagem. 'A minha mulher teve de passar por isso, então porque é que a tua namorada deveria ser tratada de forma diferente? Porque deve receber tratamento especial? Porque é que ela deve ser protegida?' Eu disse-lhes que a diferença era o elemento racial. Esses são os esqueletos no armário que frequentemente fazem uma aparição indesejada na vida diária desta família - por vezes, sabe, faz parte do problema e não da solução e existe um enorme nível de preconceito inconsciente."
O casal viveu o namoro da forma mais privada possível, com Meghan a ser incluída na família real aos poucos. Até que chegou o noivado, naquilo que Meghan descreve como um "reality show orquestrado", com o casal a dar à imprensa aquilo que era suposto de forma a que todos ficassem satisfeitos.
Princesa Diana sempre presente
“A minha mãe tomava todas as decisões com o coração. E eu sou filho da minha mãe.” A frase, dita por Harry, parece justificar as decisões do príncipe para proteger a família. Ao longo dos três episódios são várias as vezes em que a mãe de Harry aparece, seja com Harry ao colo, seja a ser fotografada pelos paparazzi.
Mas o documentário não passa incólume à polémica. Em maio de 2021, o príncipe William apelou a que a polémica entrevista da mãe a Martin Bashir para a BBC nunca mais fosse exibida. Depois de The Crown ter replicado a conversa na última temporada, também os duques de Sussex incluíram um excerto da mesma para reforçar o assédio dos paparazzi de que a princesa Diana era alvo.
“A minha mãe foi assediada enquanto esteve com o meu pai, mas depois de se separarem o assédio atingiu todo um outro nível”, afirma Harry no documentário.
O príncipe voltou ainda a comparar a mulher à mãe, quer pela perseguição de que foi alvo pelos paparazzi, quer pela maneira de ser.
"Tanto do que Meghan é e como ela é tão parecida com a minha mãe ... Ela tem a mesma confiança, ela tem este calor sobre ela", afirmou.
Meghan, por sua vez, garante que depois do namoro ter sido tornado público não soube lidar com a perseguição dos paparazzi, declarações corroboradas pelas colegas da série Suits, que foram entrevistadas para o documentário e que revelam que tiveram de vedar a zona das roulottes dos atores onde a série era gravada, em Toronto.
“A minha cara estava em todo o lado, a minha vida estava em todo o lado, os tablóides tinha tomado conta de tudo", afirmou a duquesa, acrescentando que pediu ajuda à polícia mas que lhe foi dito que não podiam fazer nada por causa do namorado ser quem era.
Os pais de Meghan
Doria Ragland fala pela primeira vez. A mãe de Meghan Markle é uma das entrevistadas da série e na primeira intervenção confessa que "os últimos cinco anos não foram fáceis".
Revelando como é que a filha lhe contou que namorava com o príncipe, Doria conta que tem uma boa relação com o genro, mas que o namoro dos dois lhe trouxe insegurança porque os paparazzi não lhe deixavam a porta.
"Eu senti-me muito insegura. Eu não podia ir passear o cão. Eu não podia ir trabalhar", afirmou, garantindo nunca ter falado com os fotógrafos, ao contrário do que aconteceu com o pai de Meghan.
Thomas Markle, com quem a duquesa não fala desde 2018, envolveu-se em polémica ao ser fotografado por paparazzi dias antes do casamento dos duques, ao qual não compareceu. O desentendimento entre os dois, e também a polémica com a meia irmã Samantha Markle, são abordados na série, com o príncipe Harry a afirmar que se sente culpado por a mulher não ter uma relação com o pai.
"É incrivelmente triste o que aconteceu. Ela tinha um pai antes disto e agora não tem um pai. E eu carrego isso porque se a Meg não estivesse comigo, o pai dela continuaria a ser o pai dela", afirmou o príncipe.
O primeiro volume da série termina no dia anterior ao casamento, a 19 de maio de 2018, em Windsor. No entanto, ao longo das primeiras três horas foram já sendo exibidas imagens da vida do casal com os filhos na Califórnia.
Os três primeiros episódios da série estrearam-se esta quinta-feira e os próximos três episódios estreiam-se na próxima quinta-feira, dia 15 de dezembro.