Não se sabe se a decisão de Hamzah de renunciar ao título lhe devolverá a total liberdade, uma vez que, desde o corte com a família, o príncipe só foi visto uma vez em público, a 11 de abril
O príncipe Hamzah, filho do rei Hussein da Jordânia, renunciou ao título, um ano depois de ter estado em prisão domiciliária por ter acusado os líderes do país de corrupção, incompetência e perseguição.
Numa carta (em árabe) divulgada no Twitter, citada pela Associated Press, o príncipe revela que renuncia porque os seus valores "não estão alinhados com as abordagens, tendências e métodos modernos" das instituições jordanas.
Apesar de não criticar o irmão, o rei Abdullah II, de forma direta, o tom da carta revela que o corte com a realeza não está sanado, como a família real quis transmitir até agora.
Hamzah, que agora renuncia ao título de príncipe, chegou a ser herdeiro ao trono da Jordânia, nomeado pelo irmão, após a morte do pai, em 1999. No entanto, foi destituído também pelo irmão, em 2004.
Tentativa de destabilizar o reino
Em abril de 2021, o irmão do rei foi acusado de estar envolvido numa tentativa de destabilizar o reino e foi colocado em prisão domiciliária. Na altura, Hamzah negou as acusações e disse estar a ser punido por se manifestar contra a corrupção oficial.
Mas, segundo o Palácio Real, no mês passado, o príncipe pediu desculpas pelo seu envolvimento na tentativa, numa carta enviada ao irmão. Na missiva, Hamzah escrevia que esperava que "pudessem virar a página na história do país e da família".
Em declarações à Associated Press, o analista Amer Sabaileh afirma que o anúncio de Hamzah pode reacender a divisão da família real, que muitos acreditavam ter sido resolvida com o pedido de desculpas do príncipe, uma vez que a decisão de renunciar ao título foi tomada de forma unilateral e anunciada na sua conta pessoal do Twitter, sem consultar a família real.
"Ele está a tentar recuperar a velha narrativa. Estamos a voltar ao ponto em que ele diz que não está satisfeito, que ainda está desiludido e que não há reconciliação", afirmou Sabaileh.
Não se sabe, no entanto, se a decisão de Hamzah de renunciar ao título lhe devolverá a total liberdade, uma vez que, desde o corte com a família, o príncipe só foi visto uma vez em público, a 11 de abril.
HM King Abdullah II, HRH Crown Prince Al Hussein, and TRH Princes El Hassan bin Talal, Feisal bin Al Hussein, Ali bin Al Hussein, Hamzah bin Al Hussein, Hashim bin Al Hussein, Talal bin Muhammed, Ghazi bin Muhammed, Rashid bin El Hassan visit the tomb of HM the late King Talal pic.twitter.com/8IPjsrDks2
— RHC (@RHCJO) April 11, 2021
Acusações e ordem de silêncio
A discussão entre os filhos do rei Hussein foi um caso raro de guerras familiares reais que veio a público e que levou a Jordânia a impor uma "ordem de silêncio", proibindo notícias sobre o tema ou assuntos relacionados com a família real.
O rei Abdullah acusou o irmão de insurreição, mas depois veio dizer que a discussão foi resolvida dentro da família e que Hamzah iria permanecer no palácio, sob a proteção do rei.
Por causa do mesmo assunto, dois ex-funcionários séniores foram envolvidos no suposto esquema e condenados por insurreição a 15 anos de prisão. No entanto, os detalhes sobre o caso nunca foram tornados públicos.
Quem é Hamzah?
Hamzah recebeu o título de príncipe herdeiro em 1999, ano da morte do pai, o rei Hussein, como era desejo do monarca. Mas, em 2004, o rei Abdullah destituiu-o do trono e nomeou o seu filho mais velho como herdeiro do trono jordano.
O príncipe Hamzah estudou no colégio interno para rapazes Harrow School, em Londres, e na Real Academia Militar de Sandhurst. Mais tarde, estudou na Universidade de Harvard, antes de seguir o curso de piloto na Força Aérea da Jordânia.
Casado com a princesa Basmah Bani-Ahmad desde 2012, o casal tem quatro filhas e dois filhos.