Trump continua a mentir: as últimas afirmações falsas são sobre o Iraque, o Irão e a rival Nikki Haley

CNN , Daniel Dale
5 fev, 18:00
Donald Trump à chegada a um comício no Sioux Center, Iowa, a 5 de janeiro de 2024. Scott Olson/Getty Images

O ex-presidente dos Estados Unidos continua a proferir mentiras que já foram publicamente desmentidas

O ex-presidente Donald Trump repetiu uma série de falsas alegações anteriores sobre o Médio Oriente, a candidata presidencial republicana rival Nikki Haley, o líder da minoria no Senado republicano Mitch McConnell e outros assuntos numa entrevista que foi ao ar na manhã de domingo na Fox News - incluindo a sua mentira de anos de que avisou os EUA para não invadir o Iraque. Eis um resumo não exaustivo.

Invasão do Iraque

Trump reviveu uma mentira que tem vindo a proferir desde a sua campanha presidencial de 2016 - a afirmação de que falou publicamente contra a ideia de invadir o Iraque. Ele disse na Fox: "Entrar no Iraque foi uma coisa estúpida. Lembrem-se que eu costumava dizer: 'Não o façam, mas se o fizerem, fiquem com o petróleo'".

Factos primeiro: a afirmação de Trump de que disse "Não o façam" é falsa; a afirmação foi desmentida há oito anos. Na realidade, Trump não expressou publicamente a sua oposição à invasão do Iraque em março de 2003 antes de esta ter ocorrido. No seu livro de 2000, "The America We Deserve", Trump argumentou que poderia ser necessário um ataque militar ao Iraque; quando o radialista Howard Stern perguntou a Trump, em setembro de 2002, se ele era "a favor da invasão do Iraque", Trump respondeu: "Sim, acho que sim. Gostaria que a primeira vez tivesse sido feita corretamente"; e Trump não expressou uma opinião firme sobre a guerra iminente numa entrevista à Fox em janeiro de 2003, dizendo que "ou se ataca ou não se ataca" e que o então presidente George W. Bush "ou tem de fazer alguma coisa ou não tem de fazer nada, talvez".

Trump começou a criticar a guerra em 2003, mas após a invasão, e também disse nesse ano que as tropas americanas não deveriam ser retiradas do Iraque. Tornou-se um opositor explícito da guerra em 2004. Pode ler mais aqui sobre a sua mudança de posições.

Uma pesquisa da CNN em 2019 não encontrou exemplos de Trump ter dito antes da guerra algo sobre manter o petróleo do Iraque. A Administração Trump não respondeu na altura ao nosso pedido para fornecer tais provas.

Os mísseis do Irão

Trump repetiu uma afirmação que fez em vários eventos de campanha nos últimos meses, dizendo que o Irão evitou intencionalmente atingir uma base que abrigava tropas americanas no Iraque quando lançou mísseis em direção à base em janeiro de 2020 em retaliação ao assassinato ordenado por Trump do general iraniano Qasem Soleimani.

Trump afirmou na Fox, como já fez antes, que o Irão "telefonou-me" para o informar do seu plano de falhar deliberadamente. Ele disse: "Nós sabíamos que eles não iam acertar dentro do forte", embora os observadores externos tenham ficado a pensar: "Como é que todos eles falharam?"

Factos primeiro: as afirmações de Trump de que todos os mísseis do Irão falharam a base são falsas. Como o The Washington Post observou na sua própria verificação de factos no final do ano passado, 11 mísseis iranianos atingiram a base de al-Asad que o Irão visou no ataque de retaliação. O facto de os mísseis terem atingido a base foi confirmado por imagens de satélite, pelo Pentágono e por uma visita da CNN à base dias depois do ataque. A CNN noticiou a partir do local: "Dez dos 11 mísseis atingiram posições americanas na extensa base aérea iraquiana no deserto. Um atingiu um local remoto do lado dos militares iraquianos." Segundo a CNN, "os mísseis iranianos, que utilizaram sistemas de orientação a bordo, conseguiram destruir locais militares sensíveis dos EUA, danificando um complexo de forças especiais e dois hangares, para além da unidade de alojamento dos operadores de drones dos EUA".

Embora nenhum soldado americano tenha morrido, mais de 100 foram diagnosticados com lesões cerebrais traumáticas ligeiras. O general Mark Milley, que era presidente do Estado-Maior Conjunto na altura, disse aos jornalistas que acreditava que a intenção do Irão era matar; ele louvou "as técnicas defensivas que as nossas forças usaram" pela ausência de mortes.

Trump não forneceu qualquer justificação para a alegação de que o Irão lhe telefonou para descrever o ataque e oferecer garantias. Como noticiou o The Post, o primeiro-ministro iraquiano disse ter recebido um aviso geral do Irão de que estava prestes a iniciar a sua resposta e a atingir as tropas americanas.

Primárias de New Hampshire

Trump disse que as primárias de New Hampshire, que venceu em janeiro, eram o único lugar onde Haley tinha hipóteses de ganhar - afirmando que isso se devia "ao facto de os democratas serem estupidamente autorizados a votar nas primárias republicanas, e os independentes também".

Factos primeiro: a afirmação de Trump é falsa. Os democratas registados não estão autorizados a votar nas primárias republicanas de New Hampshire. Apenas os republicanos registados e os independentes podem votar.

Alguns independentes que se inclinam para os democratas quase de certeza que participaram nas primárias republicanas, além de alguns democratas que mudaram a sua filiação para independente antes do prazo no início de outubro. Mas Trump afirmou, sem qualquer ressalva, que os democratas estão simplesmente autorizados a votar em New Hampshire. Isso não é verdade. (E é normal que os Estados permitam que as pessoas mudem de filiação até uma determinada data para participar nas primárias de outro partido).

Candidatura às primárias de Indiana

Trump afirmou sobre Haley: "Temos uma situação em que eles se esqueceram de se candidatar, acho eu, para o Indiana. Não se candidata e não se candidata ao Indiana. É um ótimo Estado."

Factos primeiro: isto é falso. Haley não se esqueceu de se candidatar para estar nas primárias republicanas em Indiana. O prazo para apresentação de candidaturas para as primárias de 7 de maio, 9 de fevereiro, ainda não terminou. Trump já tinha afirmado anteriormente que Haley não tinha apresentado assinaturas suficientes até à data limite de 30 de janeiro para se qualificar para o boletim de voto; a campanha de Haley disse à CNN e a outros meios de comunicação social que isso não era verdade e que ela tinha apresentado assinaturas mais do que suficientes. 

De qualquer modo, a campanha não se esqueceu de se candidatar.

"Vamos estar no boletim de voto. Entregámos mais do dobro das assinaturas necessárias e elas estão a ser verificadas agora como parte do processo antes do prazo de apresentação de candidaturas, a 9 de fevereiro", disse a porta-voz da campanha de Haley, Olivia Perez-Cubas, num e-mail enviado no domingo.

Em resposta a uma afirmação semelhante de Trump, Haley escreveu nas redes sociais na sexta-feira: "Parece que ele está confuso de novo..."

Mitch McConnell e o Green New Deal

Num excerto da entrevista que a Fox exibiu na sexta-feira, Trump afirmou que McConnell apoiou gastos de biliões em "projetos que são Green New Deal". O Green New Deal (ou Novo Acordo Verde, na tradução) é uma ampla resolução do Congresso, apoiada por alguns legisladores democratas, que apela a grandes investimentos numa grande variedade de iniciativas ambientais, sociais e económicas.

Mitch McConnell: "Quero dizer, ele concordou com milhões e biliões de dólares para projetos que são do Green New Deal - sabem, eu chamo-lhe Green New Scam - biliões de dólares para o Green New Scam [no sentido de esquema]", disse Trump.

Factos primeiro: A afirmação de Trump de que McConnell apoiou "biliões" de dólares em despesas com projetos do Green New Deal é falsa, mesmo com uma definição generosa para Trump do que conta como um projeto do Green New Deal. E, tal como no passado, Trump não mencionou aqui que McConnell tem sido um opositor declarado da resolução do Congresso sobre o Green New Deal como um todo - e que o Congresso nunca aprovou efetivamente a resolução.

McConnell tem denunciado repetidamente a resolução do Green New Deal, descrevendo-a, entre outras coisas, como "radical", "socialista" e uma "confusão".

Então, de que está Trump a falar? Os ataques anteriores semelhantes de Trump foram sobre como McConnell votou em 2021 por um projeto de lei de infraestrutura bipartidário de 1,2 biliões de dólares que continha gastos que se sobrepõem a algumas das propostas da ampla resolução do Green New Deal. Por exemplo, o projeto de lei de infraestrutura de 2021 continha dezenas de milhares de milhões em gastos com a limpeza de locais de resíduos tóxicos, modernização dos transportes públicos, aumento da resiliência do país contra as mudanças climáticas, garantia de água potável e facilitação da transição para veículos com emissões zero e baixas.

Mas mesmo se contássemos tudo isto como gastos do "Green New Deal" - o que seria enganoso, dado que a lista inclui prioridades que ambas as partes financiaram muito antes de o Green New Deal ser introduzido em 2019 - o total seria de centenas de milhares de milhões, não "biliões".

McConnell opôs-se a um grande projeto de lei democrata em 2022 que gastou centenas de milhares de milhões a mais em iniciativas climáticas.

Muro de fronteira

Ao elogiar seu desempenho na política de imigração, Trump afirmou, como já fez antes, que construiu "902 quilómetros de murro".

Factos primeiro: a afirmação de Trump de "902 quilómetros" é falsa, um exagero substancial. Um relatório oficial da Alfândega e Proteção das Fronteiras dos EUA, redigido dois dias depois de Trump ter deixado o cargo e posteriormente obtido por Priscilla Alvarez da CNN, afirma que o número de muros construídos durante o mandato de Trump foi de 737 quilómetros (incluindo tanto os muros construídos onde não existiam barreiras como os muros construídos para substituir barreiras anteriores).

Mesmo nos seus discursos de campanha no final do ano passado, Trump por vezes colocava o número, mais corretamente, em "quase 804 quilómetros". Pode ler mais aqui.

*Andrew Kaczynski contribuiu para este artigo

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