Como é que os patinadores artísticos não ficam tontos?

CNN , Faith Karimi
21 fev 2022, 10:40
Anna Shcherbakova durante os Jogos Olímpicos de Pequim 2022 (Getty Images

Os melhores patinadores artísticos giram em velocidades tão incrivelmente rápidas - até seis rotações por segundo - que até podem fazer as pessoas do público sentirem-se um pouco tontas.

O público curioso dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim quer saber porquê. "Porque não ficam os patinadores artísticos tontos?" foi uma das principais pesquisas do Google na última semana.

Portanto, como fazem estes atletas aqueles movimentos vertiginosos sem cair?

Os patinadores artísticos ficam tontos?

Não muito, porque aprenderam a minimizar esses efeitos.

Apesar de ocasionalmente caírem quando aterram, os patinadores artísticos rodam principalmente no ar sem perder o equilíbrio. Tal acontece pois condicionaram os corpos e cérebros a esmagar a sensação de tontura, dizem os especialistas.

A patinadora americana Mirai Nagasu, que ganhou uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos na Coreia do Sul em 2018, afirma que sente as rotações mas aprendeu a recentrar o foco ao longo dos anos.

“Penso que aprendemos uma habilidade contra o momento linear que nos atinge em quanto rodamos”, diz.

Mirai Nagasu patina no Bryant Park, em Nova Iorque (Getty Images)

Kathleen Cullen, professora de engenharia biomédica na Universidade Johns Hopkins, tem uma resposta mais científica. Estuda o aparelho vestibular, responsável pela sensação de equilíbrio e movimento, e afirma que rodar sem cair de tontura é uma arte aperfeiçoada ao longo do tempo.

No início das carreiras, os patinadores e outros atletas ficam tontos quando rodam, diz Cullen. Mas acabam por treinar o cérebro a interpretar melhor esta sensação.

"Há uma coisa fundamental e profunda que acontece no cérebro de pessoas como dançarinos e patinadores com muita prática. É basicamente uma mudança na forma como o cérebro processa a informação”, afirma.

“Quando fazemos uma rotação, estamos a ativar canais semicirculares, sensores de rotação. Estão cheios de fluidos e sentem a nossa rotação. Mas quando paramos, o fluido tem inércia e tende a continuar a mover-se, dando uma falsa sensação de movimento”.

Com vários anos de treino, os cérebros dos patinadores adaptaram-se e aprenderam a ignorar este erro, diz Cullen.

“Isto é feito ao longo do tempo em cada sessão de treino, dia a dia, enquanto o cérebro compara as suas expectativas com o que está a receber dos recetores sensoriais”.

Madison Hubbell e Zachary Donohue, dos Estados Unidos, durante os Jogos Olímpicos de Pequim 2022 (Getty Images)

Resumindo, diz Cullen, a maioria das pessoas sente o mundo a rodopiar mesmo quando param de rodar. Mas os atletas olímpicos, e em particular os patinadores, geralmente não o sentem pois os seus cérebros mudaram para combater a sensação.

Os atletas também aprendem maneiras de reduzir as tonturas. Por exemplo, focarem-se numa referência fixa ou objeto parado minimiza a tontura e a perda de equilíbrio.

“Os bailarinos normalmente rodam a cabeça a cada volta para se fixarem numa referência visual. Similarmente, no final de uma rotação, os atletas fixam os olhos num ponto específico da parede para terem uma referência fixa”, afirma.

A patinadora Zhu Yi, da China, durante o programa curto dos Jogos Olímpicos de Pequim 2022 (Getty Images)

O cérebro e o ouvido interno estão em constante comunicação com o corpo e um com o outro para alcançar o equilíbrio, diz Brigid Dwyer, professora assistente de neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Boston.

"Para a maioria das pessoas, no entanto, as tonturas só são um potencial problema durante atividades mais rápidas ou bruscas”, diz Dwyer. "Incrivelmente, quando é preciso, os nossos cérebros podem ser preparados ao longo do tempo para lidarem melhor com as tarefas que encontramos que nos deixam tontos”.

Aqui ficam outras questões populares no Google sobre patinagem artística:

Porque é que alguns patinadores usam collants sobre as botas?

Mirai Nagasu diz que tudo se resumo a uma escolha pessoal.

Alguns usam collants sobre as botas se estas estão danificadas, diz. Outros, como Courtney Hicks, afirmam que usar collants sobre as botas ajuda a elongar a aparência das pernas.

Mas as modas mudaram nos anos recentes, com muitos patinadores a optarem por usar collants que mostrem as botas, diz Nagasu.

Patinadora Courtney Hicks, durante um evento em Nagano, no Japão, em novembro de 2015 (Getty Images)

O que é a área de “beijos e choro”?

Após o programa, os patinadores artísticos esperam pelas pontuações numa apropriadamente chamada área de “beijos e choro”. Aqui, os espectadores têm um pequeno vislumbre dos atletas num dos seus momentos mais tensos.

Muitos patinadores celebram beijando os treinadores – não aconteceu muito durante a pandemia, devido às máscaras – ou desfazem-se em lágrimas de desilusão.

“É suposto ser um trocadilho. Ou damos beijos por estarmos felizes com a nossa pontuação, ou é tão mau que choramos”, afirma Nagasu.

Kaori Sakamoto, do Japão, reage à pontuação atribuída durante os Jogos Olímpicos de Pequim 2022 (Getty Images)

Porque é que alguns patinadores usam luvas?

Os patinadores podem facilmente tropeçar. E bater no chão a alta velocidade não é brincadeira.

“O gelo pode ser duro quando caímos, especialmente devido à altura de onde caímos e do momento linear das nossas rotações”, diz Nagasu.

As luvas também mantêm as mãos dos patinadores quentes durante a competição.

Num desporto altamente competitivo, onde cada pequena vantagem pode fazer a diferença, muitas atletas não deixam nada à sorte.

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