Vestiu "um fato que não é dele" num "momento de embaraço da juventude". O melhor, o pior e a surpresa da entrevista de Pedro Nuno Santos

22 nov 2023, 17:58
Pedro Nuno Santos, candidato à liderança do PS (LUSA)

De uma nova geringonça aos elogios a António Costa, passando pelo reconhecimento de um momento “infeliz” em 2011, muito foi dito por Pedro Nuno Santos na entrevista à TVI/CNN Portugal. O tom que adotou na entrevista pode trazer frutos ao mostrar “maturidade”, mas também penalizar o candidato à liderança do PS por ter fechado portas a um acordo com a direita. Surpresas não houve muitas, mas o ex-ministro das Infraestruturas admitiu que agora é um homem de “contas certas”. É o que dizem as comentadoras da CNN Portugal Helena Matos e Anabela Neves.

Para a comentadora da CNN Portugal Helena Matos, o melhor da entrevista de Pedro Nuno Santos é também o pior. Para Anabela, o candidato à liderança do PS pode ter afastado uma parte dos militantes ao rejeitar abrir o partido a outras opções política, deixando a porta aberta a uma nova geringonça.

O melhor

Moderação e contenção. Este foi, segundo Helena Matos, o tom usado pelo candidato à liderança do PS na entrevista à TVI e à CNN Portugal. “Se ele procurava passar uma imagem de moderação e de pessoa contida conseguiu”, garante a comentadora, afirmando que este é o maior ponto a favor de Pedro Nuno Santos.

Este tom, de acordo com Helena Matos, andou de mãos dadas com o ex-ministro das Infraestruturas durante toda a entrevista, mas destacou-se num determinado momento: “Há temas em que essa circunstância o marca mais, por exemplo quando é questionado sobre como reagiria se não ganhasse e se viabilizaria um Governo PSD. Quase se atrapalha”.

Ora, este tom contido e moderado vem substituir aquele que é o seu habitual. “Ele tem um tom muito empolgado de falar e de comentar e é por isso que arrebata”, explica a comentadora. Isto acontece numa altura em que se fala de um posicionamento mais radical de Pedro Nuno Santos dentro do espectro político do próprio PS, ao contrário de José Luís Carneiro, conotado com uma posição mais centralizada.

Para Anabela Neves, também o tom é o aspeto mais positivo, que “ajudou a que a entrevista corresse bem e a que fosse clarificadora”. Enquanto Helena Matos fala da “moderação”, Anabela Neves destaca, por sua vez, a “serenidade” e a “atitude de Estado” adotada pelo ex-ministro das Infraestruturas. “Pedro Nuno Santos quis apresentar-se sem aquelas marcas mais negativas que eventualmente ficaram mais associadas a ele por causa da forma como saiu do Governo e dos confrontos que teve com o primeiro-ministro”, diz.

De um jovem deputado com um “registo mais turbulento”, o agora candidato a líder do PS afasta-se, segundo a comentadora, de uma “eventual falta de maturidade” a que pudesse ser associado. “Há uma maturidade adquirida no exercício das funções”, remata.

O pior

Pedro Nuno Santos não fecha a porta a uma nova geringonça. “Foi um sucesso”, “Não fechamos portas”, disse.

O candidato a líder do PS “rejeita uma receita à direita e até diz que o PSD com a IL é tão ou mais radical do que se tivesse também o Chega”, afirma Anabela Neves.

Esta é “uma escolha estratégica” por parte de Pedro Nuno Santos que, segundo a comentadora da CNN Portugal, “pode penalizá-lo em termos de eleições”. E porquê? “Isto pode afastar uma parte do PS que neste momento acha que o partido tem de voltar a abrir-se a outras opções depois do sucesso da geringonça”, explica Anabela Neves.

Já para Helena Matos o melhor da entrevista é também o pior: “o tom moderado e contido”. “Esse tom dá a sensação de que está num fato que não é o dele, dá a sensação de uma pessoa em esforço para ser o que não é”, justifica.

A comentadora afirma que Pedro Nuno Santos é “melhor num tom declarativo muito centrado no seu eu do que num discurso explicativo”, passando a imagem de alguém que está “num registo que está a criar”.

A maior surpresa

Duas comentadoras, a mesma conclusão: esta foi uma entrevista sem grandes surpresas.

Apesar de não encontrar “nenhuma revelação surpreendente”, Helena Matos aponta que “a forma como Pedro Nuno Santos se apresentou” não foi habitual. A moderação e contenção no discurso, que para a comentadora é tanto o melhor como o pior da entrevista, podia não ser o esperado por muitos.

“A maior surpresa é mesmo a questão de tentar firmar um tom que não é o que lhe associamos naturalmente”, explica, reiterando a forma “arrebatadora” e “empolgada” de falar e comentar que lhe associa.

Anabela Neves, que também não vê “grandes surpresas”, sublinha os elogios ao primeiro-ministro. “O tom mais elogioso da herança de Costa contrasta com o que ouvimos nas cinco escassas semanas em que esteve na SIC Notícias a comentar e tinha sempre algum reparo a fazer às opções do Governo, nomeadamente sobre uso do excedente orçamental”, afirma.

À exceção da TAP, em que reiterou que a companhia aérea devia pertencer maioritariamente ao Estado, diz Anabela Neves, Pedro Nuno Santos “não teve grande discordância com o legado” do primeiro-ministro demissionário e “assumiu-se como um herdeiro de António Costa”.

A polémica declaração sobre não pagar a dívida pública

Foi um “momento infeliz” e “está relegada para o seu tempo”. As circunstâncias eram distintas. Foi desta forma que Pedro Nuno Santos justificou a polémica em torno das declarações sobre a dívida pública em 2011, quando disse que Portugal não tinha de a pagar e que podiam tremer as pernas aos banqueiros alemães que se estava a marimbar.

“Ele tentou e tenta mostrar que esse tempo passou e que desde aí foi pivot de uma solução de esquerda que reduziu também a dívida pública e contribuiu para as contas certas”, diz Anabela Neves, que garante que o candidato à liderança do PS se “saiu bem” a lidar com a questão.

A comentadora da CNN Portugal considera que Pedro Nuno Santos “deixou” esses pensamentos “no passado” e olha para tal como “verdadeiro”. “Era mais novo, deputado, não tinha funções governativas e estávamos com a ameaça da Troika e uma necessidade de resgate internacional”, justifica.
Também para Helena Matos as declarações do ex-ministro das Infraestruturas fazem parte do passado. “Ele consegue apresentar hoje como um momento embaraçoso de juventude e criar alguma simpatia com todos nós porque todos temos momentos embaraçosos na nossa juventude”, diz.

Em vez disso, admite a comentadora, o que “não explicou e pode ter um embaraço real no presente é a questão da TAP”, que “não pode ser associada a um momento embaraçoso da juventude”.

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