Miúdo reguila e inconformado que nasceu para ser Presidente. Um outro olhar sobre Pedro Nuno Santos

24 fev, 11:00

Em entrevista a Cristina Ferreira abriu espaço às emoções, mas também deixou algumas confissões políticas: com o amigo António Costa teve vários momentos de tensão, alguns "menos públicos"

Ainda a conversa não tinha começado e Pedro Nuno Santos já estava a chorar. O secretário-geral do PS confessou o embaraço, mas não resistiu a soltar lágrimas quando viu a vida passar em revista no programa “Dois às 10”, da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), onde foi entrevistado por Cristina Ferreira.

“Eu tenho de ter cuidado, porque senão… quer dizer, eu não posso estar a…”, soluçou ao recordar momentos de infância. Não pode estar a quê? A chorar em televisão.

Não é a primeira vez que o líder socialista se emociona em entrevistas. “É muito difícil”, confessou, lembrando os “combates muitas vezes agressivos” que teve nos últimos dias, nomeadamente o debate de quase 80 minutos com Luís Montenegro.

“Quando temos um vislumbre da nossa família sentimos falta dela, não é? É o pontinho de luz. Como é óbvio, é onde está o nosso conforto, é com quem nos sentimos bem”, continuou.

O inconformismo do privilégio

É neto de sapateiro – até chegou a ver o avô trabalhar e a ajudá-lo na oficina. Foi o próprio que o confessou assim que se atirou para o meio da corrida eleitoral, que ainda era interna. Era uma dose de realidade necessária para alguém que teve conforto durante toda a vida.

“Tive sorte, ao longo da minha vida, com a minha família, mas eu não via o mesmo à minha volta. [Há] um inconformismo muito grande com o mundo em que vivo. Isso, desde que era miúdo, senti-me inconformado com aquilo que via”, disse, afirmando que essa “irreverência” ainda se mantém hoje.

Uma diferença trazida pela escola: Pedro Nuno Santos, filho de um empresário de sucesso, estudava com aqueles que eram filhos de trabalhadores. “A diferença da minha vida e de alguns dos meus amigos, face à grande maioria, era relevante”, explicou, admitindo que sentia um misto de vergonha e culpa”.

Era privilegiado, sim, mas como consequência do trabalho de “um homem que não nasceu rico”. Era o pai, “que trabalhou, conseguiu construir empresas”. E por isso Pedro Não Santos não esteve tantas vezes com o pai como gostaria.

Miúdo reguila e filho amoroso

“Era reguila?”, perguntou Cristina Ferreira? “Isso era”, assumiu Pedro Nuno Santos. “Muito mais do que a minha irmã”, acrescentou. Sempre foi assim.

Pausa para ouvirmos elogios. A mãe lembrou um filho “excecional, amoroso, muito afetuoso”. O irmão fala num dos “melhores amigos, um dos grandes amores” da sua vida.

E os sobrinhos também. São “loucos” pelo tio Pedro Nuno Santos, que é um “apaixonado pela Catarina e pelo Sebastião”, a mulher e o filho.

“Sempre que pode vai levar o Sebastião à escola, vai levá-lo ao desporto”, contou o irmão, revelando que “é o Pedro que deita o Sebastião, que lhe conta sempre a historinha”.

Nascido para ser Presidente

Tinha 14 anos quando se inscreveu na Juventude Socialista. Foi isso que levou o irmão a juntar-se ao partido, invertendo aquilo que poderá ter acontecido antes. É que Pedro Nuno Santos acompanhava a família. Estava numa manifestação do 25 de Abril realizada na cidade. Estava ele e o irmão.

“Eu estava lá e fui à manifestação e o Pedro foi ao colo. As minhas conversas, discussões fora com amigos, e a minha atitude, provavelmente, ou quase com toda a certeza, influenciaram o Pedro”, contou o irmão.

Isto a falar de um menino que a mãe sempre acreditou que pudesse vir a ser político. “Quando ele tinha sete ou oito anos já dizia ‘ali o meu menino vai ser Presidente da República’”.

“Nós também amamos”, confessou Pedro Nuno Santos, depois de ver o vídeo em que é elogiado pelos familiares.

E, como todos, são essas pessoas que tem quando chega a casa para o receber e “darem amor e carinho”. É aí que Pedro Nuno Santos consegue “desligar”.

Mas também há medo, até pela experiência pessoal de ter passado pouco tempo com o pai. O filho, Sebastião, já nota a ausência, que “não tem gerido bem”. “Sente muito a ausência do pai, faz notar isso. E isso preocupa-me, primeiro porque queria estar com ele, isso faz-me falta também a mim”, disse Pedro Nuno Santos.

“É impossível ser um bom primeiro-ministro e ser mau pai. Acho que isso é impossível. Ser mau pai, ser mau companheiro”, referiu, admitindo que gostou do momento em que o filho foi ter consigo durante o Congresso do PS. Para o aprender a gerir, revelou, já falou com António Costa, que lhe disse que “é possível encontrar esse equilíbrio”.

Felizmente conta com o apoio da mulher, com quem está há mais de dez anos.

O amigo Costa

Tiveram vários momentos de tensão, sobretudo quando Pedro Nuno Santos decidiu, à revelia do resto do Governo, publicar um despacho a ordenar a construção do novo aeroporto de Lisboa, quando ainda não havia consenso para tal – quase dois anos depois continua a não haver.

Isso não lhe valeu a demissão, mas a polémica com a indemnização a Alexandra Reis foi a gota de água. Apesar disso, e de um aparente distanciar de posições com o ainda primeiro-ministro, o agora sucessor de António Costa garante que ambos se dão bemy.

“António Costa dá-me conselhos ainda hoje”, confessou, admitindo que, apesar disso, quer dar um “novo impulso, com nova energia, a uma nova geração”, mas sempre com “muito respeito” pelo que fez o antecessor.

“Nós falamos, foi meu primeiro-ministro. Deu-me a oportunidade de exercer funções governativas. Tivemos momentos de tensão, foram mais ou menos reconhecidos, sim. Há alguns mais públicos, outros menos públicos”, terminou, não concretizando a que se referia, mas justificando esses diferendos com duas “personalidades fortes”.

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