O PCP de hoje está “sintonizado completamente” com o “início do século XX” e Paulo Raimundo é alguém “que se situa neste patamar”

Agência Lusa , CE
7 nov 2022, 20:23
Paulo Raimundo

"Pode ser um excelente organizador" e um nome com peso "para dentro" mas o PCP devia estar a pensar "para as massas, para o povo". Renovadores comunistas criticam escolha de Raimundo para secretário-geral do PCP

Os renovadores comunistas Carlos Brito e Domingos Lopes criticaram esta segunda-feira a escolha de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP por ser um militante “totalmente desconhecido” e uma “completa incógnita” no palco político. Contactado pela Lusa, Carlos Brito, que deixou o partido há quase 20 anos, considerA que a escolha de Paulo Raimundo para secretário-geral do PCP “foi totalmente inesperada”. “Para mim foi uma surpresa.”

Para o antigo líder parlamentar comunista, a escolha do dirigente de 46 anos como sucessor de Jerónimo de Sousa “não é o que o PCP precisa nesta fase”, com a bancada reduzida a seis deputados e metade das autarquias que tinha perdidas. “É um nome totalmente desconhecido, embora já fizesse parte do Secretariado e da Comissão Política”, sustenta Carlos Brito, membro do movimento Renovação Comunista. Paulo Raimundo “pode ser um excelente organizador” e um nome com peso “para dentro” mas o PCP devia estar a pensar “para as massas, para o povo”.

Domingos Lopes, outro “renovador”, partilha da mesma opinião mas diverge num detalhe: “Ao contrário do que se podia esperar, não é uma surpresa”. Para o antigo dirigente comunista, que saiu do partido em 2009, o PCP de 2022 insiste no marxismo-leninismo, logo “é natural que nestas circunstâncias a direção tenha encontrado alguém que tenha este perfil, que possa perpetuar a vida do partido de acordo com estes pressupostos ideológicos”.

O PCP de hoje, continua Domingos Lopes, está “sintonizado completamente” com o “início do século XX” e Paulo Raimundo é alguém “que se situa neste patamar”. “Surpresa é existir um partido que continua a orientar-se, apesar da implosão da União Soviética e dos países socialistas, pelos mesmos pressupostos que levaram à implosão naqueles países.”

Domingos Lopes discorda que o PCP tenha escolhido alguém da “linha dura”: “Não sei se é dura ou mole. É uma linha que é tão mole que leva a que partido vá perdendo influência.” A crítica, segundo garante, “não é pessoal”, mas havia membros do Comité Central “com grande capacidade política” enquanto de Paulo Raimundo “não sabemos nada”. “Nunca vimos o Paulo Raimundo num debate político, no contraditório com a sociedade. Provavelmente, dentro do partido é capaz de ser um grande quadro, mas […] é necessário convencer não só os militantes comunistas - devia ser alguém que as pessoas  conheciam.” Os portugueses “conheciam Carlos Carvalhas” e sabiam que tinha sido candidato presidencial e à Câmara de Lisboa, enquanto Jerónimo de Sousa era deputado constituinte, recorda Domingos Lopes.

Já o renovador comunista Cipriano Justo, numa publicação no Facebook, prefere enaltecer o secretário-geral cessante, Jerónimo de Sousa, que conseguiu “afastar a direita do poder em 2015 ao subscrever um acordo com o PS”. O operário de 75 anos foi “sempre uma personalidade decisiva nas campanhas eleitorais da CDU” e a ele “se fica a dever a diminuição dos preconceitos que ainda existem sobre” os comunistas. “Sempre o tive em elevada consideração, admirando a forma como se dedicou ao mais elevado cargo para o qual os seus camaradas o elegeram. No momento da sua substituição, envio-lhe uma saudação calorosa, com votos de o continuar a ver nos combates que os comunistas têm de continuar a travar”, conclui.

O dirigente comunista Paulo Raimundo, funcionário do partido desde 2004, apresentado no site do PCP como operário, exerceu vários ofícios, desde carpinteiro e padeiro até animador cultural. Raimundo vai substituir Jerónimo, "o retrato fiel do operário e a pessoa que melhor representava no parlamento a origem social do PCP”, como o descreveu o antigo deputado António Filipe em 1996, ano em que Jerónimo se apresentou como candidato presidencial.

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