Um elogio: obrigado, portugueses, pelo vosso comportamento com o tempo; uma preocupação: é preciso ver o que vai acontecer entre domingo e segunda-feira (meteorologia, a entrevista a Patrícia Gaspar)

20 out 2023, 09:32

A tempestade Aline veio e foi: deixou danos mas não danos enormes. Mas deixa presságios: "Estes fenómenos serão cada vez mais frequentes"

A depressão Aline já passou mas a situação meteorológica continua a obrigar a cuidados redobrados, uma vez que pode haver um novo agravamento das condições meteorológicas entre domingo e segunda-feira. Em entrevista ao Novo Dia, da CNN Portugal, Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, fez um balanço dos estragos deixados pela tempestade na quinta-feira e revelou qual o plano da ANEPC para os próximos dias.

"Ontem, felizmente, apesar dos fenómenos que tivemos, de facto o impacto foi felizmente menos gravoso, embora haja alguns danos elementares, sobretudo danos em infraestruturas, veículos, etc.. Felizmente não temos danos pessoais graves e isso é importante, é um ponto importante, à exceção das sete pessoas que ficaram desalojadas, mas que estão devidamente encaminhadas. Agora é fundamental perceber qual será efetivamente o grau de gravidade da situação a partir do próximo domingo e é isso que vamos aferir agora, diariamente, com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Neste momento a Proteção Civil baixou o nível do alerta para amarelo, estávamos em laranja, baixou para amarelo e, portanto, temos aqui sexta e sábado, são dois dias, hoje e amanhã, dois dias absolutamente fundamentais para aferir em concreto o que é que vamos ter no próximo domingo e, eventualmente, até na segunda-feira", afirmou.

Patrícia Gaspar considera que o "dispositivo de resposta funcionou bem", muito graças ao "incremento do nível de alerta" que levou ao "aumento da prontidão dos meios". "Penso que, sobretudo ao nível daquilo que são os comportamentos, nós temos evoluído muito e isso é uma nota muito positiva para todos os portugueses".

No entanto, acrescenta, além dos meios também os portugueses têm respeitado cada vez mais as recomendações da Proteção Civil, de forma que não se veem tantas situações "erradas" ou "de risco" como acontecia no passado. 

"Acho que as recomendações, os avisos que têm sido feitos têm tido acolhimento, têm tido um espelho depois naquilo que é o comportamento dos portugueses e cada vez mais, felizmente, vemos menos situações muito erradas que aconteciam no passado, em que as pessoas se expunham demasiado ao risco e que, de facto, acabava por ter depois consequências graves e negativas para estas pessoas".

Lisboa e as bacias de retenção

Patrícia Gaspar comentou ainda a situação vivida a dezembro de 2022 em Algés e Alcântara (distrito de Lisboa), quando as duas zonas alagaram por causa das chuvas torrenciais.

"Perante um cenário desta natureza, e sabendo nós inclusive que estamos numa verdadeira crise climática e a viver um período de alterações climáticas em que fenómenos extremos, do ponto de vista meteorológico, são cada vez mais prováveis, cada vez podem acontecer com maior frequência e tendo maior impacto nas nossas comunidades, há obviamente aqui um trabalho de fundo que é muito importante fazer e que está a ser feito pela esmagadora maioria das autarquias. Eu acredito que as obras e que a intervenção que está a ser feita em Lisboa são uma intervenção de fundo e eu acredito que podem vir a resolver os problemas que nós temos há anos aqui na capital sempre que há um episódio desta natureza e que acontecem depois as famosas inundações em meio urbano e, portanto, essa é uma intervenção de fundo que é absolutamente necessária".

A secretária de Estado deu ainda como exemplo Setúbal, onde foi comandante distrital durante quatro anos, revelando que "foi feita uma intervenção muito grande" com uma baía de retenção a montante e que estará a dar resultado. "Setúbal tinha historicamente cheias em meio urbano, na zona do centro da cidade. Foi feita uma intervenção muito grande que permitiu que houvesse uma baía de retenção a montante e que eu penso que está a surtir efeito porque há muitos anos que já não ouço falar das cheias que nós tínhamos em Setúbal".

Patrícia Gaspar diz mesmo que, enquanto as obras não estiverem concluídas, as autoridades vão continuar a preparar-se para estes fenómenos - "que serão cada vez mais frequentes" - , tomando "as medidas no momento que são necessárias para, sobretudo, proteger as vidas e evitar ao máximo os danos nas infraestruturas", mesmo que isso implique "retirar temporariamente pessoas de determinadas zonas de risco".

"Há circunstâncias em que essa é a única forma de agir, é retirar as pessoas para garantir que elas não são afetadas e, quando a situação passa, as pessoas podem regressar. Portanto, é esta conjugação que nós vamos ter de ir fazendo. E, como disse, cada vez mais teremos de ir fazer isto porque estes fenómenos serão cada vez mais frequentes, infelizmente." 

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