Médicos de Saúde Pública deixam aviso: cuidado, a informação científica sobre redução do período de isolamento "não é muito robusta"

Agência Lusa , BMA
29 dez 2021, 16:34
Coronavírus

Há vários países a reduzir o tempo de duração do período de isolamento de pessoas infetadas. Madeira também já o fez, ao reduzir de dez para cinco os dias de isolamento

A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considerou esta quarta-feira que a informação científica que suporta a redução do período de isolamento de doentes com covid-19 “não é muito robusta”, defendendo que as vantagens desta medida devem ser discutidas.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, disse à Lusa compreender as razões que levam a pôr em cima da mesa a redução do período de isolamento profilático, mas defendeu ser “importante perceber que a evidência (informação) que suporta essa decisão não é muito robusta”.

“Nós sabemos que há uma maior carga viral num momento próximo do início dos sintomas e, portanto, essa possibilidade de reduzir o período de isolamento contribui para um maior cumprimento da medida, no sentido em que é metade do tempo de isolamento anteriormente preconizado, mas do ponto de vista da evidência (informação) científica que a suporta ela não é assim tão robusta e, portanto, acho que temos de discutir as vantagens da medida”, defende.

Para o médico de Saúde Pública e epidemiologista, a decisão é uma questão “mais operacional” do que propriamente de saúde.

“Eu percebo que é uma questão mais operacional e que fruto da enorme transmissibilidade [da variante Ómicron] isto compromete muito o posicionamento da economia, porque estamos efetivamente a pôr muita gente em casa em isolamento - e, portanto, reduzir esse tempo para metade, naturalmente, reduz o impacto de forma muito significativa”, justificou.

Questionado se perante o aumento exponencial de casos covid-19, e a confirmar-se a menor gravidade da infeção causada pela variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2, devia deixar-se que as pessoas se imunizassem naturalmente, o epidemiologista afirmou que “a questão da imunidade natural talvez não seja o caminho”.

“A questão que se coloca a meu ver é se estamos dispostos a assumir o que isso implica, que é respetivamente passarmos a lidar mais com a doença do que com a infeção”, salientou. “Se acharmos que o nosso sistema de saúde aguenta suportar depois o impacto dos novos casos na prestação sem comprometer quer a oferta covid, quer a oferta de cuidados de saúde para outras doenças, então essa é uma possibilidade”, afirmou.

As autoridades de Saúde norte-americanas reduziram de dez para cinco dias a duração do período de isolamento das pessoas que testam positivo para a covid-19, desde que estejam assintomáticas, e o Governo britânico reduziu esse prazo de dez para sete dias para pessoas vacinadas que ficaram infetadas. Por cá, a Madeira reduziu de dez para cinco dias.

Segundo fonte dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, esta orientação está em sintonia com indicações crescentes de que as pessoas infetadas com covid-19 são mais contagiosas dois dias antes e três dias depois de desenvolverem sintomas.

Portugal registou hoje um novo máximo de novas infeções diárias desde o início da pandemia (26.867), segundo a Direção-Geral da Saúde. Desde março de 2020, já morreram 18.921 pessoas em Portugal e foram contabilizados 1.330.158 casos de infeção.

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