Entre Linhas: onze razões para seguir o futebol português

3 abr 2014, 10:00
Paços Ferreira vs Marítimo (LUSA)

Memórias do tempo passado a escrever nomes em cadernos pretos

«[Bruno de Carvalho] deu-me os parabéns e disse para eu continuar assim porque havia coisas boas para mim pela frente»


Derley
, goleador do Marítimo, é uma das boas razões para se acompanhar o futebol português.

O meu estranho ritual de adolescência envolvia um mero caderno preto de linhas, uma revista de início de época e uma paixão incontrolável pelo futebol. Mas não era um futebol qualquer: era o nosso.

Só isso explica que, um par de décadas mais tarde, continue a acompanhar diariamente este fenómeno. Não era – penso – ignorante mas tenho poucas memórias das polémicas que envolveram o futebol português enquanto eu preenchia aqueles cadernos pretos.

Normalmente começava pela parte de trás do caderno, talvez por vergonha, e perdia horas a fazer plantéis virtuais, a escolher jogadores pelo que lia nos jornais, via no Domingo Desportivo e mais alguma razão que agora me escapa.

Sei que em toda a década de 90 terão surgido várias catástrofes, polémicas ao virar da esquina e premonições sobre o fim do futebol português. Tenho uma vaga ideia disso. Lembro-me que os dirigentes eram maus como agora, os árbitros eram maus como agora, mas miúdos como eu não se interessavam pelo ruído.

Passava o tempo a procurar nomes fora dos grandes. A fazer uma seleção de portugueses da Liga, a fazer outra de estrangeiros, a fazer uma equipa de potenciais reforços para os maiores clubes. Conhecia todos os bons jogadores do campeonato ou pelo menos conseguia convencer os meus amigos de que assim era. E, tenho a certeza, sentia-me feliz.

Nessa altura, preocupava-me apenas em saber mais sobre o pontapé do Heitor, a arte de Milinkovic, a inteligência de Edmilson Dias Lucena, o talento de Karoglan ou a velocidade de Lewis.

Agora tenho a obrigação de saber nomes de juízes, membros de comissões obscuras, vice-presidentes e treinadores-adjuntos. Sobra menos espaço e tempo para procurar nomes entre os escombros da catástrofe.

Mesmo assim, tento manter o hábito.

O ranking do Maisfutebol (ver aqui) é uma excelente ferramenta para perceber quem anda a jogar bem no nosso campeonato.

Nos meus cadernos pretos ficaram dezenas de nomes de jogadores que nunca chegaram a um grande e eu não percebia porquê. Entretanto, comecei a descobrir as comissões, os empresários privilegiados e os fundos de investimento.

A praga subsiste mas a crise faz com que vários clubes apertem o cinco e olhem para dentro, para as soluções mais fáceis e acessíveis. O diálogo ligeiro entre Bruno de Carvalho e Derley prova que o presidente do Sporting – entre os defeitos de comunicação evidentes – tem consciência do valor do brasileiro e o clube está a acompanhá-lo. É bom sinal.

Olhar para os bons valores que andam pela Liga é um dos exercícios mais saudáveis para quem gosta de futebol. Por um lado, a escola portuguesa continua a ser uma das melhores do mundo. Por outro, nunca deixaremos de ser um campeonato apetecível para o inesgotável filão brasileiro. O mercado abriu-se a outras latitudes mas a língua de Camões continua a dominar.

A cinco jornadas do final da Liga, agora sem caderno preto, fiz o meu onze de valores interessantes fora da esfera dos grandes. No fundo, são boas razões (entre outras que poderiam entrar na lista) para continuar a seguir com atenção o futebol português e esquecer os focos de polémica.

Espero ver alguns destes jogadores em outros patamares na próxima época. Sobretudo, se tal não acontecer, torço para que fiquem por aqui, por perto, à espera de uma oportunidade.

O meu onze: Vagner (Estoril, 27 anos); Gabriel Moura (Gil Vicente, 25 anos), Paulo Oliveira (V. Guimarães, 22 anos), Miguel Rodrigues (Nacional, 21 anos) e Djavan (Académica, 26 anos); Evandro (Estoril, 27 anos), Danilo Pereira (Marítimo, 22 anos) e Pedro Tiba (V. Setúbal, 25 anos); Candeias (Nacional, 26 anos), Derley (Marítimo, 26 anos) e Rafa Silva (Sp. Braga, 20 anos).

PS: não foi um exercício fácil, naturalmente, e fiquei com um nome para o caderno da próxima época: Ricardo Horta, 19 anos. O franzino extremo do Vitória de Setúbal, formado no clube do Sado e no Benfica, empolga pelo atrevimento em campo. A seguir.

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