Podemos mexer na equipa

18 jun 2000, 20:40

Opinião de José Mourinho José Mourinho, colunista do www.maisfutebol.iol.pt, analisa a vitória de Portugal sobre a Roménia e defende que Paulo Sousa tem legitimidade para reclamar um lugar no onze inicial da selecção

Portugal venceu a Roménia, soma seis pontos, está qualificado para os quartos-de-final e o próximo jogo, frente ao actual campeão europeu, não terá qualquer influência na já confirmada liderança de grupo. Evitamos a Itália nos quartos-de-final e provavelmente obrigaremos a Bélgica a viajar até Amesterdão. É caso para dizer¿ viva o luxo! 

É inquestionável esta exclamação de alegria, mesclada com alguma surpresa pela aparente facilidade com que conseguimos tão grande desiderato, mas jamais me esquecerei, enquanto profissional de futebol, que é importante procurar no sucesso aspectos negativos que nos motivem a reflectir e evoluir. 

Em equipa que ganha pode mexer-se 

Nesta última época, em três jogos disputados entre Portugal e Roménia cada equipa só marcou dois golos, ambos de bola parada, além de um número reduzido de situações de finalização, construção de jogo e posse de bola estéreis. 

Acabo de ouvir múltiplos comentários a incidir no pouco risco, no medo de perder, no respeito pelo poder do adversário, na paciência e¿ discordo.  

Creio que Portugal entrou para ganhar e que a Roménia também o tentou fazer quando deteve mais controlo sobre o jogo. Não duvido que ambas as selecções foram impotentes para o conseguir e que da impotência nasceu a resignação evidenciada. 

Centrando-me em Portugal, não duvido da problemática posicional que nos envolve sob o ponto de vista táctico. Ao fixarmos Paulo Bento e Vidigal como «duplos-pivots» atingimos claros objectivos de equilíbrio; ao libertarmos Rui Costa, Figo e João Pinto conseguimos explorar ao máximo a criatividade destes fantásticos jogadores quando enfrentamos equipas de vocação ofensiva e reduzido número de unidades atrás da linha da bola. 

Porém, contra selecções como a Roménia, que se agrupa atrás da linha da bola e que procura, zonalmente, ocupar todos os espaços circundantes à bola, a solução é só uma: jogar com homens bem abertos, fazendo o campo largo, circular muito e rapidamente a bola, obrigando o adversário a bascular. De basculações sucessivas nasce o erro. 

Assim o jogo foi defensivamente fácil para Popescu e companhia. Nos dias de hoje, com os elevados níveis de cultura táctica que os jogadores possuem, é normal modificar-se a forma de jogar em função do potencial adversário. Definitivamente, deixei de acreditar na velha máxima «em equipa que ganha não se mexe». 

Treinador sofre 

Acredito na gestão física e psicológica dos recursos humanos que lideramos. Neste sentido, não tenho muitas dúvidas de que contra a Alemanha Humberto Coelho oferecerá descanso a alguns, enquanto outros menos utilizados irão gastar as energias e frustrações acumuladas. 

Se para alguns essa provável utilização será só por si um factor de motivação que os alimentará até ao final, para Paulo Sousa creio que logicamente não o será. 

Paulo Sousa não é um jogador qualquer. Se prova neste jogo com a Alemanha que está a um nível físico equatorial, sabendo o mais leigo da sua superior capacidade técnica, táctica e psicológica, parece-me lógica a sua ambição de voltar a ser titular no jogo da Arena de Amesterdão.  

É titular há anos, tem classe, presença, estatuto, gosta de pressão e de momentos decisivos. Paulo Bento tem trabalhado muito e oferecido fluidez na divisão do jogo. Vidigal compensa com suor e honra algumas debilidades. Para decisões como esta estão os treinadores. Coragem! 

JOSÉ MOURINHO

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