O novo selecionador tem currículo inatacável e reúne consenso quase inédito num país «clubitizado». Acima disso, é uma pessoa muito bem formada. Minimizar o impacto desportivo do castigo será crucial para justificar aposta de longo prazo
Fernando SantosPor duas razões
Não sendo um treinador especialmente amado pelos adeptos dos três grandes, o sucessor de Paulo Bento na Seleção consegue reunir
Havia outras hipóteses interessantes, mas nenhuma delas tinha a força de Fernando Santos.
Jesualdo Ferreira
José Peseiro
Um
Sobre esta via, recordo que
Desafio: ser melhor que Paulo Bento
Já não fará muito sentido voltar ao tema «será que Paulo Bento devia mesmo ter saído já da Seleção»
Mas há uma questão central a pôr-se neste «dia 0» de Fernando Santos como selecionador: será que vai ter condições para fazer um trabalho melhor
Esta dúvida leva-nos para a área que deverá ser objetivo prioritário de Fernando Santos no comando técnico nacional: se o seu currículo retira quaisquer dúvidas sobre as suas competências para o cargo, o que garante que tenha melhores instrumentos do que o seu antecessor para enfrentar os grandes problemas da Seleção?
A realidade é esta: a qualidade dos jogadores «selecionáveis» baixou
Considero que Paulo Bento teve balanço positivo
Porque é que é importante recordar isto agora?
Falando claramente: será provável que Fernando Santos consiga chegar à meia-final do Euro-16? Não. Nada provável, mesmo.
A gestão de expetativas será, por isso, uma necessidade do novo selecionador nacional. Vai precisar de tempo. Vai ter que pedir paciência.
Vamos ter todos que nos habituar à ideia de que, continuando Portugal a ter uma boa seleção, já não é uma candidata ao título ou, pelo menos, à chegada à final ou às meias-finais de grandes competições.
E isso não muda com esta mudança no comando técnico: Fernando Santos terá que encontrar a dose certa
Vai exigir muito trabalho, planeamento e organização (tudo qualidades que Fernando Santos mostrou na sua carreira, sobretudo nestes quatro anos na seleção grega).
O castigo
Fernando Santos tinha tudo para ser a escolha óbvia para suceder a Paulo Bento. Só não terá sido tão imediata por força do tal castigo de oito jogos de foi alvo por parte da FIFA, na sequência de expulsão no encontro dos oitavos com a Costa Rica, que ditou a eliminação nos penalties no Mundial-2014.
Uma sanção deste calibre, sobretudo porque se aplicará precisamente em jogos oficiais ao serviço de seleções
Aliás, diria até que numa situação normal, um castigo de oito jogos seria motivo para que um treinador fosse descartado como opção para suceder a Paulo Bento.
Mas a história de Fernando Santos com a Seleção Nacional não é uma história qualquer: as hipóteses de «casamento» já tinham sido tão concretas que a união, neste contexto (Paulo Bento de saída em fase tão inicial do apuramento para o Euro-2016 e Fernando Santos ainda disponível, depois de não renovar com a Grécia), se tornou inevitável.
Será fundamental que, no plano desportivo, seja minimizado o impacto do castigo da FIFA a Ferrnando Santos, para os interesses da Seleção. A chave estará no modelo encontrado e que só deverá ser conhecido na totalidade na apresentação desta quarta-feira, na sede da FPF
É importante para um selecionador poder estar no banco? Claro que é. Mas não é tudo e desde que o modelo apresentado seja funcional, poderá ser um problema contornável. Sejamos francos: se, por acaso, os resultados desportivos nos jogos em que Fernando Santos não puder sentar-se no banco não forem positivos, é óbvio que este tema ganhará um impacto enorme.
Donde, Fernando Santos foi mesmo uma aposta a longo prazo e não apenas uma solução para garantir o apuramento para o França-2016.
Os objetivos
Diria que Fernando Santos tem três grandes objetivos: um imediato (pôr Portugal na fase final do Euro-2016); outro a curto/médio prazo (o de travar a queda livre da Seleção, iniciada no Mundial e agravada com o escândalo da derrota com a Albânia, mantendo-a como Seleção competitiva); e um terceiro mais abrangente e de longo prazo (o de introduzir qualidade na Seleção principal aproveitando melhor o talento dos futebolistas que, nos últimos anos, conseguiram bons resultados nas seleções jovens).
A relação com Ilídio Vale e Rui Jorge será, por isso, uma das chaves, mas, na verdade, essa já era uma via apontada pelo tal Gabinete Coordenador Técnico Nacional, criada a 26 de agosto, semanas antes da demissão de Paulo Bento.
O peso de CR7
É outro ponto importante para avaliar o trabalho de Fernando Santos na Seleção. Cristiano Ronaldo confere um suplemento de qualidade indiscutível à Seleção Nacional. É o capitão, o melhor jogador da equipa, talvez o melhor do Mundo. Mas a principal força de uma equipa reside no coletivo. CR7 deve ser sempre a solução e nunca o problema. Quando não pode jogar, deverá haver a sensação de que temos alternativas. O novo selecionador deve procurar criá-las dentro do grupo.
Não acredito que Ronaldo tenha sido o principal motivo da saída de Paulo Bento. Mas as declarações do ex-selecionador, na entrevista à RTP Informação, ao fazer questão de dizer que «o mais completo jogador» que treinou foi João Moutinho, teria uma crítica implícita a CR7.
Com Fernando Santos, será que Ronaldo vai ser sempre a solução e nunca um problema?
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?