Lugar para o número 10

13 jun 2000, 18:11

Opinião de Jesualdo Ferreira Jesualdo Ferreira, seleccionador nacional de esperanças, escreve nestas páginas durante o Campeonato da Europa. Neste artigo lembra o papel fundamental dos jogadores criativos no início de Euro-2000.

O terceiro dia do Euro-2000 assegura, sem grandes margens para erro, o melhor pontapé de saída que recordo numa competição deste tipo. Quer no plano da qualidade dos jogo, quer na emotividade que os acompanhou.  

É normal, ou era, um início frouxo em especial por parte das equipas mais favoritas, ou melhor, as mais bem apetrechadas; exibições q.b., jogadores com prestações pouco convincentes, actuações pouco seguras no plano táctico, caracterizaram as entradas das melhores selecções nas grandes competições dos anos mais chegados: a Alemanha, no Euro-96, e quem não se lembra da Itália no Mundial de 82 ou da Alemanha no México-86.

Este Europeu não vai permitir distracções às melhores selecções. As diferenças são menos notadas, os equilíbrios evidentes, a qualidade dos jogadores aproximou-se, saltando fronteiras e aproximando países pelo talento dos seus jogadores. No mercado actual do futebol, e em especial nos últimos cinco anos, as transformações fazem perceber que os países de menores recursos apresentam selecções de grande qualidade, embora as suas competições internas não correspondam, em qualidade, ao nível das representações nacionais.  

Os melhores jogadores actuam nos melhores campeonatos, as respectivas selecções beneficiam de forma evidente dessa experiência. Já não se nota tanto num Itália-Turquia ou num Alemanha-Roménia, para não falar do Inglaterra-Portugal , quem é quem no plano do favoritismo. 

No nosso último escrito fazíamos, de forma discreta, um apelo ao retorno do talento, em fuga... à ordem e disciplina como únicas receitas de um futebol de qualidade. Sabemos que o «futebol» vencedor vai ter seguidores e o tipo de futebol dos campeões vai perdurar nos próximos anos como modelo a seguir. 

Esperamos que esse vencedor esteja na linha de qualidade que os seus números 10 exprimem ¿ um talento sem limites, dentro de colectivos cuja ordem e disciplina se medem na justa medida do prazer de jogar ... futebol. 

Del Piero na Itália, Rui Costa em Portugal, Hagi na Roménia, Sergen na Turquia, Zidane na França, Bergkamp na Holanda já assinaram a página de abertura, reclamando a atenção para o que aí vem, pois Raul na Espanha e Zahovic na Eslóvenia aquecem os motores para trazerem mais emoção misturada em tintas vivas que vão traçar o destino do futebol do futuro. Mesmo que Nedved transporte o nº 4 e Matthaeus, ainda e sempre o 10, se esconda nas linhas atrasadas, pensando na falta que faz, mais adiante, lá onde se conquista a glória. 
 

                                                          Jesualdo Ferreira 

                                                          12/06/2000   

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