Nuno Melo ministro da Defesa pensa diferente de Nuno Melo presidente do CDS (e foi ao Parlamento para explicar isso)

8 mai, 20:57
Nuno Melo na Comissão de Defesa Nacional (Lusa)

Nuno Melo insiste que não propôs o serviço militar como alternativa para quem comete pequenos delitos, mas justifica a hipótese com os casos do Reino Unido, França, Grécia, Austrália, Nova Zelândia, Luxemburgo e dos Estados Unidos

O ministro da Defesa, Nuno Melo, voltou esta quarta-feira a defender que não apresentou nenhuma "medida, proposta, intenção ou qualquer estudo" que abrisse a possibilidade de garantir o serviço militar como alternativa para os jovens que cometem pequenos delitos.

“Não apresentei nenhuma medida, proposta, intenção ou qualquer estudo. No limite, emiti uma opinião. Estou aqui por algo que eu não disse e, no limite, por uma opinião”, afirmou Nuno Melo, durante a comissão parlamentar de Defesa, na Assembleia da República, convocada pelo Chega e a Iniciativa Liberal para o esclarecimento das palavras proferidas pelo governante.

Nuno Melo, que começou a intervenção a passar as imagens na íntegra das declarações que causaram polémica, garantiu que se limitou a fazer "uma pergunta retórica" em resposta a um estudante, sublinhando que esteve presente no evento enquanto "ministro da Defesa, não como presidente do CDS", o que não significa que "não tenha pensamento". 

"Vivi 24 horas numa realidade paralela e a ler que Melo quer substituir tropa por penas, li interpretações delirantes", disse o ministro, que acusou os meios de comunicação de propagar "fake news".

O ministro da Defesa respondeu ao enunciar os exemplos de vários países aliados de Portugal que aplicam medidas para que incluem a formação militar para jovens que "cometeram pequenos delitos", dando os exemplos do Reino Unido, França, Grécia, Austrália, Nova Zelândia, Luxemburgo e dos Estados Unidos para justificar a medida que não propôs.

"Em todos estes países encontra uma dimensão militar na formação de jovens que cometeram delitos, em três patamares: casos de contexto escolar, contexto de formação e outros de formação militar pura e dura", defendeu.

A Iniciativa Liberal acusou o ministro de estar a fugir à discussão e mostrou-se disponível para ter adiado a audição, caso o ministro tivesse anunciado previamente que não ia apresentar medidas para a Defesa aos deputados, uma vez que queria apresentar as propostas do Governo aos vários ramos das forças armadas.

"O senhor ministro é que está agarrado à polémica. Por algo que era só uma sugestão académica, estudou profundamente o tema. Eu não quero saber nada esses detalhes todos sobre esses países todos", atirou o deputado liberal, Rodrigo Saraiva.

No entanto, o ministro admitiu que as Forças Armadas portuguesas "estão longe" de ter ao seu dispor os meios e condições de que necessitam para "realizar as operações", em particular no que toca ao salário. "Nós temos a obrigação de conseguir resolver os problemas. Eles estão identificados", defendeu.

"Nós não vamos resolver em 30 dias aquilo que não se resolveu em oito anos. Acredito que no caso do PS até não fosse por falta de vontade, embora exista uma margem de opções políticas, mas as nossas são de ter as Forças Armadas como uma prioridade neste governo", frisou o ministro.

Em resposta ao deputado socialista, Nuno Melo deixou uma farpa em relação às "declarações insólitas" do antigo primeiro-ministro que no passado defendeu "a vinda de refugiados para limpar florestas". 

"O PS sai do governo deixando o país com 23.230 militares. Muito longe dos 32 mil. Como bem sabe é o compromisso assumido. Se compararmos com o governo da coligação, que saiu com 29 mil militares. Faça as contas, senhor deputado", atirou ao socialista Luís Dias.

Recorde-se que, após duras críticas, nomeadamente das associações representativas de oficiais, sargentos e praças das Forças Armadas, que consideraram a ideia “peregrina” e “absurda”, o Ministério da Defesa emitiu um comunicado no dia 30 de abril negando que Nuno Melo tenha anunciado o recrutamento de jovens delinquentes e referindo que a hipótese foi abordada em contexto meramente académico.

“Se bem acautelarem a minha resposta perceberão que fiz duas coisas: em primeiro lugar enalteci as Forças Armadas, o que é um exercício de evidente justiça. E depois mostrei preocupação em relação às vidas de muitos jovens que cresceram em contextos desfavorecidos”, afirmou.

Nuno Melo insistiu que estava apenas a responder a uma pergunta de um jovem num contexto meramente académico e disse ter vivido nos últimos dias “sob uma realidade paralela” e defendeu que não pode comentar “o que não disse”.

“A Assembleia da República não é espaço para exercícios de ficção científica”, insistiu.

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