Morreram macacos num projeto da empresa de Elon Musk, que nega alegações de crueldade

CNN , Hannan Ryan
22 fev 2022, 23:00
Elon Musk. Samuel Corum/Bloomberg/Getty Images

A Neuralink, empresa de implantes de Elon Musk, que tem como objetivo permitir que os cérebros se conectem e comuniquem com computadores, reconheceu que morreram macacos como parte dos seus testes, mas nega alegações de crueldade animal.

Numa publicação no blogue do seu website, a Neuralink abordou os “artigos recentes” que “levantaram questões sobre o uso de animais em investigação por parte da Neuralink no Davis Primate Center da Universidade da Califórnia” (UC Davis) e disse que “todos os dispositivos médicos e tratamentos novos têm de ser testados em animais antes de serem eticamente testados em humanos”.

A Neurolink tem usado macacos reso para o desenvolvimento de chips implantáveis ativados por Bluetooth – inseridos no cérebro dos macacos. A empresa diz que estes podem comunicar com computadores através de um pequeno recetor.

Em abril do ano passado, a Neuralink alegou que os macacos conseguem jogar Pong – um jogo de computador – usando apenas as suas mentes quando divulgou um vídeo de Pager, um macaco reso macho, a mover o cursor no ecrã sem ter de usar um joystick.

A empresa disse que isto foi alcançado depois de o chip da Neuralink ter transmitido a informação dos neurónios do macaco para um descodificador que foi depois usada para prever os movimentos das mãos que Pager queria fazer – permitindo que a saída do descodificador fosse usada para mover o cursor em vez de Pager manipular o joystick.

A declaração da Neuralink surge depois de o Comité de Médicos para uma Medicina Responsável (CMMR) – uma organização sem fins lucrativos norte-americana que defende alternativas ao uso de testes em animais – enviar uma carta ao Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (DAEU) onde fazia referência a violações e pedia uma investigação àquilo que chamou de “aparentes e flagrantes violações à Lei do Bem-Estar Animal, relacionado com o tratamento de macacos em experiências cerebrais invasivas”.

O documento diz que as experiências foram levadas a cabo em conformidade com os contratos celebrados entre a UC Davis e a Neuralink. Na carta, que tem mais de 700 páginas, o Comité de Médicos disse que os registos que obteve dos 23 macacos usados na experiência refletem um “padrão de sofrimento extremo e de negligência por parte dos funcionários”. O comité disse que a carta para o DAEU se baseia em quase 600 páginas daquilo a que chama de documentos “perturbadores” divulgados depois de o comité ter interposto um processo judicial para obter os arquivos públicos em 2021.

O Comité de Médicos disse num comunicado, a 10 de fevereiro, que a UC Davis recebeu mais de 1,4 milhões de dólares de financiamento por parte da Neuralink para prosseguir com as experiências nos macacos reso.

A CNN contactou a UC Davis e o Conselho de Administração para comentarem o assunto. Numa declaração à KCRA 3, Andy Fell, representante da UC Davis, disse: “Os protocolos de investigação foram cuidadosamente revistos e aprovados pelo Comité Institucional de Cuidados e Utilização de Animais (CICUA)”. Fell acrescentou: “O trabalho foi conduzido por investigadores da Neuralink em instalações do California National Primate Research Center na UC Davis. Os funcionários da UC Davis providenciaram cuidados veterinários, incluindo monitorização constante de animais usados para fins experimentais. Quando ocorreu um incidente este foi reportado ao comité, que exigiu as necessárias alterações à formação e ao protocolo.”

Neuralink, empresa de Elon Musk, nega acusações de crueldade animal nos seus testes.

No dia 10 de fevereiro, o Comité de Médicos disse que interpôs um segundo processo de acesso a arquivos públicos para compelir a universidade a divulgar vídeos e fotografias dos macacos. A Neuralink não faz parte deste processo.

No processo, o comité alega que funcionários da universidade “removeram partes dos crânios de macacos reso e inseriram elétrodos nos cérebros dos animais.”

O processo alega que os macacos não receberam cuidados veterinários adequados e que uma “substância não aprovada”, conhecida como BioGlue, “matou macacos destruindo porções dos seus cérebros.”

No blogue da Neuralink, a empresa disse que houve “uma complicação cirúrgica que envolveu o uso de um produto aprovado pela FDA (BioGlue),” e que o macaco foi eutanasiado.

No processo, o comité alega também que a Universidade da Califórnia recusou divulgar fotografias e vídeos das experiências, dizendo que os registos pertencem à Neuralink, uma empresa privada não sujeita à Lei de Arquivos Públicos da Califórnia.

Numa declaração publicada no website da Neuralink, a Neuralink disse que a empresa está “absolutamente empenhada em trabalhar com animais da forma mais humana e ética possível”.

Também disse que “a sua missão principal é desenhar um programa de cuidados animais que dê prioridade às necessidades dos animais em vez da estratégica típica de criar um programa apenas para a conveniência humana”.

A Neuralink disse “que o uso de cada animal foi extensamente planeado e analisado para equilibrar a descoberta científica com o uso ético de animais”. Referindo-se às alegações de eutanásia pelo Comité de Médicos, a Neuralink declarou que “dois animais foram eutanasiados em datas planeadas para reunir dados histológicos importantes, e seis animais foram eutanasiados segundo conselho médico da equipa veterinária na UC Davis”.

A Neuralink disse que tomou a decisão de fazer parceria com a UC Davis em 2017 para realizar investigação em animais. Em 2020, a empresa de Musk abriu um viveiro interno com 557 m2 para abrigar animais de criação e macacos reso, de acordo com a declaração da Neuralink.

A Neuralink disse na declaração que “nunca está satisfeita com os padrões atuais para o bem-estar animal e iremos sempre tentar fazer mais pelos animais que estão a contribuir tanto para a humanidade”.

Jeremy Beckham, investigador coordenador e representante do Comité dos Médicos, disse num comunicado à imprensa que documentos usados pelo comité na sua carta ao DAEU “revelam que os cérebros dos macacos foram mutilados em experiências malfeitas e que foram deixados a sofrer e a morrer”.

A Neuralink disse anteriormente que o objetivo da sua investigação é permitir que uma pessoa com paralisia possa usar um dispositivo, como um computador ou telefone, usando apenas a atividade cerebral.

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