Da juventude à prisão: livro de memórias de Navalny é prova do seu "compromisso inabalável na luta contra a ditadura" russa

CNN Portugal , MTR
12 abr, 23:26
Alexei Navalny (AP)

Livro sai em outubro. Segundo a mulher do opositor russo que morreu este ano, obra é a última forma de "resistência"

Nos anos que antecederam a sua morte numa prisão russa, Alexei Navalny, líder da oposição russa, escreveu um livro de memórias sobre a sua vida e trabalho como ativista pró-democracia. Intitulada "Patriota", a obra será lançada nos Estados Unidos dia 22 de outubro, sendo que vai contar com um lançamento em simultâneo em diversos países, segundo a editora Penguin Random House (PRH). O livro, que narra a história do principal opositor de Putin nas suas próprias palavras, é a última forma de "resistência", afirmou a sua viúva, Yulia Navalnaya em comunicado e que poderá ter um efeito mobilizador sob os seus apoiantes.

"Este livro é a prova, não apenas da vida de Aleksei, como também do seu compromisso inabalável na luta contra a ditadura, uma causa pela qual deu tudo, inclusive a própria vida" afirmou Yulia Navalnaya. "Ao longo da leitura do livro, vão ter a oportunidade de conhecer o homem que eu amava profundamente, um homem de profunda  integridade e coragem inabalável. Partilhar a sua história é, não só uma maneira de honrar a sua vida, como também de inspirar outros a defender o que é justo e a importância de nunca perder de vista os valores que realmente importam".

Aleksei Navalny, ganhou notoriedade em 2008, ao alegar existir corrupção em empresas estatais proeminentes como a Gazprom, então a maior exportadora de gás natural do mundo e a Rosneft, uma das maiores petrolíferas do mundo através de blogs. Advogado de formação fundou, em 2010, um projeto anti-corrupção online intitulado RosPil, gerido por uma equipa de também advogados, que tinha como objetivo analisar os gastos de agências e empresas estatais, assim como explorar os seus contratos públicos e expondo abusos e ilegalidades dos mesmos em tribunal. Utilizavam também meios civis para levar a cabo as suas investigações, contando com denunciantes anónimos, que ajudam a identificar casos de corrupção mais rapidamente, divulgando-os ao público através de relatórios detalhados.

O nome "Rospil" é uma combinação de "Rospotrebnadzor", o órgão russo de proteção ao consumidor e "pill" que significa serrar em russo, sugerindo o "serrar da corrupção". O projeto sofreu  repressão e enfrentou resistência das autoridades russas, que bloquearam sites e processaram tanto Navalny como os seus associados.  Em 2011, Navalny cria a Fundação Anticorrupção (PBK), financiada por doações privadas tendo publicado investigações sobre alegada corrupção que envolvia altos funcionários do governo russo. A Fundação foi extinta em junho de 2021, depois do Tribunal da cidade de Moscovo a ter declarado uma "organização extremista".

De acordo com o New York Times, os apoiantes de Navalny e toda a sua equipa, que continuam o seu trabalho clandestinamente, estão sob vigilância apertada das autoridades russas pelas críticas que tecem ao Kremelin sobre a sua atuação na guerra da Ucrânia. Em agosto de 2020,  ficou doente durante um voo doméstico na Sibéria, tendo sido hospitalizado em Omsk. Os seus apoiantes conseguiram levá-lo até Berlim, tendo ficado em coma mais de duas semanas e onde foi descoberto que tinha sido envenenado, a comunidade internacional afirmou que o Kremlin estaria por detrás do sucedido alegando motivações políticas,tendo o Kremlin negado prontamente a alegação.

O livro abrange a sua juventude, o seu trajeto enquanto ativista político, a carreira política como líder da oposição política enquanto líder da oposição, o seu casamento e vida familiar, bem como tentativas de assassinato. Navalny escreveu a maior parte do seu livro enquanto recuperava na Alemanha da intoxicação que sofreu, tendo terminado na prisão onde morreu, ditando algumas partes.

Em fevereiro de 2021, voltou à Rússia tendo sido novamente detido e acusado de fraude ainda no aeroporto, num processo em que, mais uma vez, observadores e entidades internacionais consideraram ser politicamente motivado, recusou-se a viver em exílio e utilizou a sua detenção como um exemplo da corrupção do regime. Em agosto de 2023, foi acusado de "extremismo" e posteriormente condenado a 19 anos de prisão. Segundo a Human Rights Watch, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos afirmou que as "autoridades russas violaram o direito de Navalny à liberdade e segurança, julgamento justo, bem como as liberdades de expressão e associação", e que os seus direitos foram violados por motivos políticos.

De acordo com a AP, um tribunal russo acrescentou mais dois anos à pena de 7 anos e meio de prisão de Lilia Chanysheva, antiga associada de Aleksei Navalny. Foi condenada por "extremismo" e o Supremo Tribunal de Bashkortostan estendeu a sua sentença para um total de 9 anos e meio, segundo o seu advogado Ramil Gizatullin.  A repressão do Kremlin contra opositores intensificou-se depois do início da Guerra na Ucrânia, Leonid Volkov, um dos principais aliados de Navalny, foi atacado com um martelo e gás lacrimogéneo em frente à sua casa na Lituânia.

Milhares de apoiantes reuniram-se no dia do seu funeral, entoando palavras de ordem como: O amor supera o medo" e "Obrigado, Aleksei". Em 2017, em declarações à CBS News, quando questionado sobre se estava ciente dos riscos que estava dos perigos que corria respondeu "Estou a tentar não pensar muito nisso, se começar a ponderar sobre os riscos que enfrento, não seria capaz de agir". 

Aleksei Navalny morreu no dia 16 de fevereiro, segundo comunicado do Serviço Prisional Federal, a principal figura de oposição ao regime, sentiu-se mal depois de um passeio e de seguida perdeu os sentidos.Terá sido chamada uma ambulância ao local mas as tentativas de reanimação não foram bem sucedidas. 

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