Entrevista a Jairzinho: «O meu ídolo é o meu antecessor: Garrincha»

4 jun 2014, 10:51

Um dos heróis da seleção do Brasil no Mundial de 1970 em exclusivo ao Maisfutebol

Furacão da Cidadania
: assim se chama a escolinha de futebol de Jairzinho no Rio de Janeiro. Ninguém esquece o herói da Copa de 70 e ele faz tenções de não permitir que tal aconteça.

Quase septuagenário, Jairzinho passa os dias entre o Bairro de Manguinhos, na zona norte do Rio, a sua casa e o convívio com velhos irmãos de armas. É «uma vida calma»
, bem diferente da agitação nos estágios para os Mundiais. E Jairzinho está em três: 66, 70 e 74.

No primeiro, em 1966, todos os olhares estão postos em Mané Garrincha e Pelé. Jairzinho, de resto, parte para Inglaterra convencido que fará somente figura de corpo presente, como conta nesta entrevista ao Maisfutebol
.

«Fui para ser suplente do Garrincha, todo contente. Só se o Mané fosse expulso ou se lesionasse é que eu jogaria. O mais importante é que ia viver uma Copa do Mundo por dentro. Não imaginava é que a viveria mesmo no relvado»
, explica, paciente e bom conversador.

Jairzinho tem 22 anos e é só «um moleque bom de bola
». Estrela do Botafogo - que perdera Garrincha -, sim, mas candidato sério ao banco de suplentes na seleção treinada por Vicente Feola.

Brasil-Portugal: 1-3, Mundial de 66:




Até que… bem, Jairzinho diz tudo.

«Para a estreia no Mundial, contra a Bulgária, o Feola disse-nos quem ia jogar. Uma hora antes, por aí, fomos para o balneário e o técnico começa a mencionar os nomes. Desde o Gilmar [guarda-redes] até ao ataque»
.

«Quando chega ao último nome, o meu sangue gelou: 'na ponta esquerda joga o Jairzinho'»
, recorda o antigo internacional brasileiro, nome muito grande na canarinha de 1966, 1970 e 1974.

A surpresa, vinca Jairzinho, tinha razão de ser. «Eu nunca tinha treinado nesse lugar. Jogava na direita ou a ponta-de-lança. Mas eu queria era estar lá dentro»
.

Os resultados é que não ajudam. O Brasil ainda vence a Bulgária por 2-0 [golos de Pelé e Garrincha], mas depois é a desilusão total. O escândalo: 1-3 contra a Hungria [golo de Tostão] e o mesmo resultado frente a Portugal [Bené].

Jairzinho até hoje não percebe a estratégia de Feola. «Convocou 44 jogadores e foi riscando nomes até ao grupo final. Isto em cima da prova. E depois havia gente em final de ciclo: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Altair, Zito. Correu muito mal»
.

«Jogar com o Garrincha foi uma bênção divina»


Falar de Mané Garrincha é, para Jairzinho, falar do seu «maior ídolo»
. Ambos coincidem no Botafogo até 1965, mas nessa altura Mané, 11 anos mais velho, já olha com desinteresse crónico para quem o rodeia.

A categoria, porém, continuava naquelas pernas tortas. «Eu adorava fazer golos e o Garrincha, o meu antecessor, era a minha referência. Ele marcava de letra, de perna esquerda, de livre, de cabeça, de todas as formas. Ser colega de equipa dele, no clube e na seleção, só pode ter sido uma bênção divina»
.

Jairzinho chega até ao Mundial de 1974. Nesse ano Garrincha já nem joga futebol. Mais pesado e limitado por uma lesão muscular, Jairzinho ajuda o Brasil a chegar até a um desconsolado quarto lugar.

Golo de Jairzinho à Argentina (Mundial 74)




«Joguei o Mundial todo com uma contratura. Queria jogar mais e melhor do em 70. Não consegui, não deu. Foi uma das minhas maiores tristezas»
.

É depois desse Mundial que Jairzinho experimenta o futebol europeu, ao serviço do Marselha. Fica só um ano e volta ao Brasil querido para jogar em vários clubes: Cruzeiro, Portuguesa, Noroeste, Fast Clube e, para despedida, o clube de sempre: o Botafogo, em 1981.

Jairzinho é, mais do que uma lenda, uma estátua viva. Na entrada principal do Estádio do Engenhão, casa do clube da Estrela Solitária, lá está ele lado a lado com Mané Garrincha e Nilton Santos.

Em bronze. Orgulhosamente imóvel.


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