O clima brasileiro para a Copa do Mundo

12 jun 2014, 00:14
Protestos no Brasil (Reuters)

Jessica Corais, jornalista brasileira, licenciada em História pela Faculdades Integradas Simonsen, vive no Rio de Janeiro e antecipa como poderá ser o segundo Mundial no Brasil

* por Jessica Corais, especial para a Maisfutebol Total


A Copa do Mundo é, sem dúvida, o maior evento desportivo
para o brasileiro de uma maneira geral. É um momento de festa, alegria em que dá a sensação de que todos, de facto, somos um só. 

Se isso já acontece de uma maneira geral em mundiais imagine o que seria então se a maior festa do futebol fosse realizada no Brasil? O espírito festivo, otimista e feliz iria se multiplicar?

Foi isso que muitos pensavam, mas que, surpreendentemente, não ocorreu.

Esta talvez seja a Copa de menos alegria para o povo brasileiro. Já vimos à população muito mais motivada como está hoje. Por exemplo, foi visto uma alegria muito maior quando o evento ocorreu do outro lado do mundo, em 2002, no Japão e na Coreia do Sul, do que agora. 

É facto que ainda o povo não entrou no verdadeiro clima de um mundial. O motivo todos tentam descobrir e as teses são diversas.

A primeira é de que aconteça novamente a perda do título mundial como aconteceu no ano de 1950 quando a Copa do Mundo foi realizada no Brasil. Na ocasião, perdemos no Maracanã lotado, onde será o palco da grande final novamente, em momento de vergonha nacional.

A segunda tese é a indignação com os mais de R$ 28 bilhões gastos com o Mundial, que para comparação é o mesmo que o Brasil gasta em aproximadamente um mês com a educação e, o pior, além de estourar totalmente o orçamento, muitas obras não ficarão prontas. Das 74 que seriam feitas, 32 delas ficarão para depois da Copa.

A terceira são as várias greves que estamos enfrentando no país. Aproveitando que o mundo está olhando para o Brasil, diversas categorias como as dos profissionais da educação, segurança e transporte pararam de trabalhar diversos dias reivindicando melhores condições de salário e de trabalho, o que provocou o caos em diversas cidades.  Em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo tivemos paralisação de ônibus e metrô. 

Greves sim, protesto global ainda não

Mas é preciso explicar que o que aconteceu há um ano não está se repetindo. O que está ocorrendo são apenas greves. Protestos mais violentos, com a força da população, não aconteceram mais este ano.

Há um ano, por esta altura, o Brasil explodiu. A indignação da maioria dos brasileiros se refletiu no protesto que levou 250 mil pessoas as ruas das maiores cidades, em fenómenos como a Revolta do Vinagre ou Revolta da Salada, e até mesmo o «Outono Brasileiro», uma referência à Primavera Árabe.

Desmontando a ideia de que «jovem brasileiro só protesta no Facebook», os protestos estalaram por Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco, Espirito Santo, Ceará, São Paulo e muitos outros estados.

O protesto, criado nas redes sociais, teve como motivo principal a indignação da população por conta do aumento das passagens em diversas cidades, que chegou até, em média, 1 real. A indignação cresceu e com motivos diversos, como os gastos excessivos de dinheiro público na Copa das Confederações e, obviamente, Copa do Mundo, além da corrupção, e da falta de investimento em escolas, hospitais, estradas, segurança pública e saneamento.

Por enquanto, a escala, este ano, tem sido reduzida a greves pontuais, com diferentes motivações nos diferentes estados. Mas será que vai ser sempre assim durante a Copa?

Distanciamento

Outra tese bastante defendida é que a Copa evidencia uma realidade social. A procura por ingressos foi enorme e milhares de brasileiros ficaram de fora. Com isso, abre-se espaço para termos uma Copa do Mundo tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante da população em geral.

Além disso, quando olhamos para o dinheiro gasto com estádios e pensamos que poderia ser investido em coisas muito mais urgentes como construção de novos hospitais, escolas, etc, isso cria ainda mais um sentimento quem de certa forma, chega a ser de tristeza.

Apesar de todos esses problemas, a expectativa é de que, nos jogos, se veja um espetáculo tipicamente brasileiro.

Brasileiro tem o costume de escolher um time para torcer e grita, incentiva, durante todo o jogo, apesar de não ser a sua pátria, gritamos como se fosse. Geralmente existe uma mística de torcer pela seleção mais fraca.

Por toda a ligação que possui com o Brasil, além de ter um dos atletas com mais torcida brasileira e envolto de uma grande expectativa por atuar nas terras tropicais, é muito provável que os brasileiros apoiem a Seleção Portuguesa em todos os jogos.

Agora, é esperar a Copa começar e ver se o espírito de um mundial finalmente possa chegar no povo brasileiro e que, acima de tudo, tenhamos um evento de paz e alegria digno do maior espetáculo do futebol. 


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