Mundial de andebol: espectáculo e luxo garantidos no Qatar

15 jan 2015, 10:23

24º Mundial arranca nesta quinta-feira. Carlos Resende ajuda a explicar o que podemos esperar

Favoritos? Os do costume. Espetáculo? Garantido. Portugueses? Só a apitar, infelizmente. É já a partir desta quinta-feira, e até 1 de fevereiro, que o título mundial de andebol volta a estar em jogo, como em todos os anos ímpares. No Qatar, mais precisamente nas cidades de Doha e Lusail, numa organização que não se poupa esforços para ostentar riqueza e tecnologia de ponta, 24 seleções vão discutir o cetro da modalidade. Bom, na verdade não serão tantas: o lote de favoritos pode facilmente reduzir-se a cinco ou seis equipas – e todas europeias, para não variar: apesar de o Mundial ser organizado em solo asiático, ainda não é desta que o fosso entre a Europa e o resto do mundo será atenuado.

Carlos Resende
, atual treinador do ABC e quase unanimemente considerado o melhor andebolista português de todos os tempos, aceitou fazer para o Maisfutebol
o lançamento da 24ª edição da prova. Ele, que entre 1997 e 2003 participou em três fases finais pela seleção portuguesa, concorda com a definição de um núcleo reduzido de favoritos – Espanha, Croácia, Dinamarca e França
- para suceder à Espanha que, em 2013, beneficiou do apoio do seu público para conquistar o título.



A sua análise começa precisamente pelo campeão mundial: «A Espanha terá sempre uma palavra a dizer, mas o seu andebol sentiu muito os efeitos da crise económica, com as dificuldades em alguns clubes a afetarem vários jogadores. O seu comportamento neste Mundial é uma incógnita», diz, apontando outros favoritos ao título que considera mais fortes: «Salvo algo de invulgar, acredito que a França vá estar nas últimas decisões. E a Dinamarca, embora tenha perdido as últimas finais em que participou, habituou-se a estar sempre lá», refere Carlos Resende que fora deste quarteto, habitual dominador dos lugares de semifinalista nas últimas grandes provas, aponta ainda a repescada Alemanha como possível outsider: «é uma seleção renovada, que beneficia de ter um campeonato muito forte», lembra.

Seguidor atento das grandes competições, Carlos Resende não espera grandes inovações táticas neste Mundial, mas deixa uma chamada de atenção para «a prestação defensiva das seleções de França e Espanha, muito elásticas nas suas movimentações. No resto, espero jogo com ritmo bastante elevado, em que ocasionais falhas defensivas ou no ataque têm menos importância, porque o jogo prossegue de imediato e se marcam muitos golos», conta.



Quanto a destaques individuais, os monstros sagrados são fáceis de identificar: «Gosto muito de ver em ação o Nicola Karabatic e o Narcisse
, da França, que são garantia de ações espectaculares. E, claro, o Mikkel Hansen
(Dinamarca) também é um nome incontornável em todas as grandes competições», enumera o homem que, no Europeu de 2000, integrou o sete ideal da competição, numa distinção inédita para um jogador português.



Quanto ao nível da competição, nenhuma dúvida - a primeira fase (quatro grupos com seis seleções) servirá apenas para as grandes potências aquecerem os motores e definirem hierarquias, já que apenas oito equipas são eliminadas. No entanto, é importante evitar escorregadelas para não haver emparelhamentos complicados a partir dos oitavos de final, onde os jogos a eliminar são garantia de emoções fortes. «É preciso ver que um Mundial é bastante mais desequilibrado do que um Campeonato da Europa. Vamos ter em ação algumas equipas objetivamente fracas, como a Arábia Saudita ou o Irão – e algumas potências europeias, como a Hungria, até ficam de fora», lembra Carlos Resende.

A curiosidade em relação à seleção do Brasil, que prepara os Jogos Olímpicos do Rio, é um dos fatores extra de atração num Mundial que não se poupou a esforços para passar a ideia de riqueza: uma claque de Espanha até foi «contratada» pela federação para apoiar a seleção local, treinada pelo espanhol Valero Rivera, um dos grandes nomes do andebol mundial, que liderou os campeões de 2013.



Além de três arenas com todas as condições, e construídas de raiz – a principal é em Lusail, com 15.300 espectadores, e vai acolher a final - a organização vai pôr à disposição das equipas iPads programados para fazerem a gravação instantânea dos jogos com tratamento de dados, de forma a cada ação poder ser analisada em tempo real no banco, tanto em termos táticos e técnicos. A mesma tecnologia será posta ao serviço das equipas de arbitragem, que incluem a dupla portuguesa formada pelos madeirenses Duarte Santos e Ricardo Fonseca, representantes nacionais numa prova da qual a seleção voltou a ficar ausente, como acontece regularmente há quase dez anos.

Até quando? Não muito mais, acredita o treinador do ABC, que aponta os bons resultados recentes dos clubes nacionais como um sintoma de crescimento competitivo. «Está para surgir em breve o alargamento do Campeonato da Europa, e isso vai ajudar à regularidade competitiva dos portugueses. Acredito que esta geração, pelas qualidades que tem, depois de entrarem na rotina das grandes competições, dificilmente de lá sairão. A verdade é que o andebol português já tem outra vez um nível muito interessante. Em termos internacionais falta essa competição para dar o lastro, porque a experiência e a confiança contam muito», conclui.

Os participantes do Mundial:

GrupoA

Espanha, Eslovénia, Catar, Bielorrússia, Brasil e Chile

Grupo B

Croácia, Bósnia Herzegovina, Macedónia, Áustria, Tunísia e Irão

Grupo C

França, Suécia, Argélia, Rep. Checa, Egito e Islândia.

Grupo D

Dinamarca, Polónia, Rússia, Argentina, Arábia Saudita e Alemanha

Jogos da primeira fase entre 15 e 24 de janeiro. Fase a eliminar começa a 25 de janeiro, cruzando os primeiros com os quartos de cada grupo e os segundos com os terceiros. A final está marcada para 1 de fevereiro.

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