Rali Dakar: os «azares» de Elisabete Jacinto na primeira pessoa

19 jan 2004, 15:58

Portuguesa contou ao «Maisfutebol» as histórias que mais a marcaram Portuguesa contou ao «Maisfutebol» as histórias que mais a marcaram

Elisabete Jacinto aventurou-se este ano pela segunda vez no Rali Dakar ao volante de um camião. A piloto portuguesa, que noutros anos atravessou o deserto sozinha sobre duas rodas, viveu uma experiência totalmente nova na 26ª edição da prova africana.

Em 2003, Elisabete Jacinto partiu com um camião Mercedes com o objectivo de tornar-se a primeira mulher a concluir o Rali Dakar nessa categoria. Forçada a abandonar no final da 7ª etapa, por problemas mecânicos, Elisabete Jacinto decidiu rodar os restantes quilómetros dando apoio a outros participantes. Este ano, a história foi bem diferente. A portuguesa viu a missão cumprida, ao terminar a prova em 25º lugar. Entre as três mulheres que este ano partiram com camiões, Elisabete Jacinto foi a segunda a cortar a meta, atrás da francesa Aline Rambeau (Mercedes), 20ª classificada, que tal como a piloto lusa participou com uma equipa mista. A única equipa inteiramente feminina, liderada pela francesa Veronique Jacquot (MAN) terminou em 29º.

«Tive muitos azares que me deitaram abaixo»

E depois da missão cumprida, Elisabete Jacinto ficou com muitas histórias para contar. Ao Maisfutebol, a ex-motard recordou os momentos mais marcantes da sua passagem pelo 26º Rali Dakar, uma prova que terminou com grande satisfação, mas que acabou por saber a pouco a uma mulher que acredita que no próximo ano vai fazer melhor.

«Vim com um bom camião, mas as circunstâncias do rali não me permitiram conseguir um resultado melhor. O resultado que consegui foi excelente, mas tinha condições para fazer melhor. Tive muitos azares que me deitaram abaixo», começou por desabafar, lembrando a primeira situação que a prejudicou.

«Na primeira especial de Marrocos, deram-me uma penalização de uma hora, penalização que foi indevida e que depois retiraram, mas que fez com que eu partisse atrás de todos os camiões numa especial muito estreita, onde não podia ultrapassar e foi muito difícil», recordou.

«Noutro dia, estávamos a fazer muito bem o percurso e a certa altura havia um choque que tínhamos de contornar. Tivemos de passar por um lago seco, que por baixo só tinha lama, e o camião enterrou-se e não conseguia sair. Foi azar, porque um camião passou a trinta metros de nós sem problemas e nós ficámos atolados naquele sítio e foi uma trabalheira enorme para o tirar. Trabalhávamos imenso e o camião não saía, os outros passavam, eu pedia ajuda mas eles não paravam e iam embora. Houve depois uma equipa de simpáticos que disseram tudo bem, nós damos um puxão. Puseram o cinto de reboque, puxaram, perderam dez minutos e foram embora.»

Elisabete sorriu de contentamento, mas mal sonhava o que lhe sucederia no dia seguinte: «Fiquei contentíssima, não sabia como agradecer àqueles homens. A ajuda deles foi boa, o problema é que no dia seguinte, numa zona onde só havia areia, vou dar com aqueles homens enterrados num sítio de onde não conseguiam sair sozinhos e eu tive de os ajudar. Parei para dar um esticão com o meu camião e a verdade é que dei um esticão, dei dois e o camião deles não andava... Perdi muito tempo.»

A descansar no areal da Praia de Dakar, horas depois de ter terminado a prova, a piloto recordou ainda uma última história: «Parei à entrada de umas dunas para baixar a pressão dos pneus e conseguir passar pela areia. Veio logo um homem a correr ter comigo para pedir ajuda, porque tinha o carro virado ao contrário. É muito difícil dizer que não, tenho um camião e para mim é mais fácil ajudar. Perguntei-lhe se tinha cinta de reboque e disse-me que sim, mas quando cheguei lá a cinta não prestava, tive de ir buscar a minha que acabou por ficou presa depois do carro estar direito. A cinta não saía, tive de ir buscar ferramentas, tive de rebocar o carro noutra posição para a cinta sair... E perdemos imenso tempo.»

Leia ainda:

Patrocinados