Samora Machel Júnior avança para candidatura à Presidência de Moçambique

3 abr, 10:27
Samora Machel Júnior

Político candidata-se ao lugar que é desempenhado hoje por Filipe Nyusi, que atinge o limite de mandatos, e que historicamente foi ocupado pelo seu pai. E precipita um debate na Frelimo, que tarda em discutir o seu candidato presidencial

É conhecido por Samito e não é surpresa para ninguém que é crítico do seu camarada Filipe Nyusi, pertencendo ambos à Frelimo – mas a “ramos” diferentes da mesma árvore. Uma árvore, aliás, que teve como uma das raízes Samora Machel, pai de Samito, e que o primeiro Presidente de Moçambique depois da independência e até à sua morte, de 1975 a 1986. Mas Samora Machel Júnior (53 anos) não quer afastar Nyusi, quer suceder-lhe: o Presidente atual atinge agora o limite legal de mandatos. Para ser candidato nas eleições de outubro, Samora Júnior começa por declarar-se como pré-candidato na Frelimo. Até porque não há ainda nenhum.

Este é o ponto nevrálgico do debate político neste momento no partido: é não haver debate político algum. A cerca de seis meses do ato eleitoral e a menos de três meses da entrega das candidaturas, a Frelimo ainda não escolheu nem promoveu debate interno alargado sobre quem será o seu candidato.

As pré-candidaturas são uma espécie de “primárias” à americana, em que cada candidato apresenta e defende as suas propostas, para escolha subsequente da Frelimo. Só que o tempo vai passando e não há apresentação de listas, o que alguns sectores consideram ser uma forma de vir a legitimar em cima da hora a apresentação do atual secretário-geral do partido, sem debate interno.

Samora Machel Júnior quer precipitar o debate. Numa reunião do comité central da Frelimo que se realiza nos próximos sexta e sábado, em que não há qualquer ponto na agenda sobre as eleições de outubro, o político irá tornar pública a sua pré-candidatura, conforme noticiou ontem o Negócios.

Samora Júnior é uma espécie de “enfant terrible” que “quer devolver a Frelimo ao povo”, diz fonte próxima do político, que alerta para a resistência do status quo ligado ao Presidente ainda em funções, no partido em que a “velha guarda” (que domina o comité) hostiliza Samora Júnior, em contraste com três organizações internas muito fortes que o apoiam: a associação dos descendentes dos veteranos de guerra, a representação das mulheres e a da juventude.

A pré-candidatura só deverá tornar-se oficial no próximo fim de semana, mas ela não é segredo em Moçambique, depois de ter sido avançada em alguns blogues, que inclusive anteciparam excertos do seu manifesto de pré-candidatura:

“A minha candidatura é fundamentada nos princípios da busca pela paz, pelo respeito à diversidade e à diferença, a promoção da inclusão e igualdade, dignidade humana e assegurar o crescimento económico de Moçambique para garantir um ambiente propício ao desenvolvimento económico e social, com especial atenção à criação de empregos para jovens e assistência aos mais necessitados”, arranca o manifesto, que sublinha que a candidatura “é um misto de inquietações mas também de esperança”, por visar dar respostas tanto “aos problemas” como aos “desejos dos moçambicanos”.

O manifesto desenvolve cinco princípios fundamentais da pré-candidatura: a busca pela paz; o respeito à diversidade e à mudança; o crescimento económico; a inclusão e assistência social; e a priorização dos setores de saúde, educação, agricultura e segurança.

Depois de ter sido candidato independente ao município Maputo em 2018, Samora Machel Júnior retoma assim as sua carreira política. Questionado, numa entrevista ao Público em 2021, sobre se poderia avançar com uma candidatura à presidência no fim do mandato de Filipe Nyusi, respondeu: “Qualquer pessoa tem condições para avançar, só depende do partido, o partido é que tem de tomar a decisão e escolher entre os vários nomes propostos.” É o que Samora Júnior quer agora. 

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