opinião
Jornalista,editor de Justiça

Bruno Paixão: a notícia de um facto, os acéfalos e quem os manipula

24 fev 2022, 17:48

A TVI e a CNN deram notícia de um facto com relevante interesse público: Bruno Paixão, árbitro de futebol, recebeu milhares de euros de uma empresa que a PJ e o Ministério Público consideram ter servido de "saco azul" ao Benfica, que para ali transferiu 1,9 milhões de euros por alegados falsos serviços informáticos. E isso levantou suspeitas de corrupção desportiva. Ponto. A demonstração disto é um problema deles, mas a suspeita de um crime público já é também problema nosso. E o jornalismo, salvaguardando a presunção de inocência, cumpriu o seu dever. Ou não, segundo os acéfalos da bola, cobardes acoitados no anonimato das "redes", e os espertos que os manipulam. Uns, que roçam a inimputabilidade e dizem tanto sobre o atraso do país, e, outros, apenas desonestos. Lançaram, como sempre, juras de morte ao mensageiro, para fugirem ao facto noticiado em si.

A minha duvida é: preferiam mesmo não saber que Bruno Paixão recebeu milhares de euros da empresa do alegado “saco azul” do Benfica, porque isso não é relevante? Ou entendem que, face à explicação do ex-árbitro, que confirma a notícia mas diz que se tratou de uma coincidência ter trabalhado para aquela empresa, a justiça perdia o direito de suspeitar, de investigar, e o jornalismo de noticiar? É difícil perceber de onde vem esta gente, que, em vez de se querer informada para poder formar opinião, automaticamente se atira ao facilitismo das infantis teorias da conspiração, segundo as quais o jornalismo está vendido a interesses rivais do planeta Bola. Nada de novo, mas sempre fascinante. E, no meu caso, até meio esquizofrénico: consoante a notícia, sempre que justiça e futebol se cruzam, já estive ao serviço de vários clubes, dos quais sou desde pequenino. Um “pesetero”. 

Sobre Bruno Paixão, não me deu oportunidade de o entrevistar. Apenas confirmou o que as perícias financeiras da PJ já tinham detetado e justificou os pagamentos, cujos montantes não se recordava, com serviços de controlo de qualidade que teria feito para a dita empresa. Depois vi-o dar entrevistas ao Expresso e à CNN pela mão do advogado Luís Miguel Henrique, ligado ao meio do futebol. Serão, afinal, 12 mil euros que Paixão recebeu da dita empresa. E uma prova, segundo os dois, de que Paixão não foi corrompido pelo Benfica há 5, 6 ou 7 anos, é o facto de, hoje, ter dificuldades financeiras e viver em casa dos pais. De resto, é uma fotografia de Paixão sentado na cama do quarto, em casa dos pais, que ilustra a capa do semanário. 

Acontece que Bruno Paixão goza de toda a presunção de inocência, mas não é seguramente isso que faz dele inocente. Eu, o dinheiro que ganhei há 5, 6 ou 7 anos, já o gastei. E se a vida for madrasta também não estou livre da casa dos pais. O que não diz nada sobre eu ter sido, ou não, corrompido há meia dúzia de anos, seja para o que for, com dezenas de milhares de euros. 

Bruno Paixão tem todos os seus direitos intactos, inclusive de se defender como entender – e eu não faço nem farei, sobre ele, quaisquer juízos de valor. Até porque este texto é sobre vigaristas e oportunistas, os tais que pastoreiam os acéfalos das redes sociais. Destes, só tenho pena. Por eles e por nós.

Opinião

Mais Opinião

Mais Lidas

Patrocinados