Compra do Minipreço pela Auchan cria quarto maior retalhista alimentar em Portugal

ECO - Parceiro CNN Portugal , António Larguesa
4 ago 2023, 10:46
Auchan (Photo by Michal Fludra/NurPhoto via Getty Images)

Auchan e Minipreço somam mais de 500 lojas e perto de 7% de quota de mercado, só atrás do Continente, Pingo Doce e Lidl. Analistas falam em “reequilíbrio de forças na distribuição” e marcas aplaudem

A compra por parte da Auchan da totalidade da operação do Grupo Dia em Portugal, que engloba 489 lojas de proximidade e a integração dos 2.650 colaboradores do Minipreço, vai criar o quarto maior negócio no mercado nacional do retalho alimentar, com uma quota a rondar os 7%. Em conjunto, as duas cadeias colocam-se a par do Intermarché, em termos de vendas, e ficam apenas atrás do Continente, do Pingo Doce e do Lidl.

Os dados relativos às quotas de mercado das diferentes retalhistas nos produtos de grande consumo (FMCG na sigla inglesa) no segundo trimestre deste ano, a que o ECO teve acesso, mostram ainda que o acordo assinado esta quinta-feira – sujeito à aprovação da Autoridade da Concorrência (AdC) – fará a Mercadona cair do top 5 em Portugal. A ascensão da empresa espanhola, com apenas 42 lojas a funcionar e outras sete previstas até dezembro, foi a principal novidade no primeiro semestre. Ultrapassou precisamente a Auchan, que aqui soma 32 hipermercados, quatro supermercados e 40 lojas de “ultra proximidade”, além de 17 franchisadas.

O diretor-geral da Auchan Retail Portugal, Pedro Cid, recusou prestar mais esclarecimentos ao ECO antes de a aquisição receber “luz verde” da AdC. Remeteu para o comunicado em que fala numa “forte aposta” do grupo francês, que junta “a experiência de mais de 50 anos de hipermercados em Portugal [antes com a marca Jumbo e Pão de Açúcar] ao segmento de proximidade e também ao modelo de franchising, que é um dos pontos fortes do Minipreço”. Curiosamente, trata-se de um regresso desta marca ao seio do grupo Auchan, que a tinha vendido ao Dia depois de comprar o Pão de Açúcar em Portugal.

Se mantiver todos os espaços agora comprados em funcionamento, a multinacional, que opera em 12 países, passa a ter o maior parque de lojas do país no retalho alimentar. O líder Continente (Sonae) diz ao ECO ter “mais de 300 lojas”, o Pingo Doce (Jerónimo Martins) contabilizava 477 no final do primeiro semestre e o alemão Lidl perto de 265, segundo escreve no site oficial. Já o grupo Os Mosqueteiros tem 263 com a insígnia Intermarché – operando noutros segmentos com a Bricomarché (53) e a Roady (36) –, enquanto o Aldi passará a ter 134 supermercados na próxima semana, quando abrir portas no Fundão.

Os 155 milhões de euros que vão ser pagos pela Auchan surpreenderam as fontes do setor ouvidas pelo ECO, que antecipavam um montante superior, depois de há um ano o grupo espanhol ter alienado um portefólio de 235 supermercados em Espanha à Alcampo, que integra o Grupo Auchan, por 267 milhões de euros. Martín Tolcachir, CEO do Grupo Dia, disse que “a decisão de vender o negócio em Portugal não foi fácil, mas é a acertada para centrar esforços nos mercados onde é mais relevante e tem capacidade de crescer com uma única insígnia, Dia”.

“As coisas do lado do Minipreço estavam a chegar a um ponto de não retorno. Estava numa situação em que dificilmente a cadeia, internamente, teria condições para retomar uma dinâmica de crescimento. Porque não estava a investir, o seu parque de lojas, sendo interessante, estava em alguns casos a precisar de remodelações e adaptações e porque no retalho de proximidade, introduzido muito na malha urbana, precisava de adaptar o sortido às populações que serve”, descreve Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, lembrando que há uma década valia 8% do mercado e hoje está abaixo dos 3%.

Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca

O especialista sublinha ao ECO que “com a junção das duas marcas, a Auchan vai transformar-se num operador já com um peso interessante do ponto de vista da competitividade no mercado”. Tendo estas duas cadeias quotas de mercado “relativamente baixas”, Pedro Pimentel não antecipa reservas na aprovação do negócio por parte da AdC, completando que esta acaba por ser uma “solução bastante equilibrada” para o mercado do retalho alimentar em Portugal.

A junção destas duas operações só pode significar um reequilíbrio das forças na distribuição, dada a evolução que em separado apresentavam. Poderá representar uma capitalização bastante forte do potencial e da intenção que a Auchan tem no nosso país, marcando uma posição para os restantes players", Marta Santos, Diretora comercial da consultora Kantar.

Marta Santos, diretora comercial da consultora Kantar, concorda que, “das várias opções que têm surgido ao longo dos tempos, esta solução parece ser a mais conveniente e certamente a mais vantajosa, tanto para quem vende poder focar-se em outras geografias, como para quem compra, uma vez que terá a oportunidade, com este vasto parque de lojas, de reforçar o conceito de proximidade e aproveitar o fracionamento das compras que se verifica em Portugal”.

“A junção destas duas operações só pode significar um reequilíbrio das forças na distribuição, dada a evolução que em separado apresentavam. A Auchan, aumentando consideravelmente o parque de lojas em Portugal, terá a oportunidade de aproximar-se ainda mais fisicamente dos portugueses, até apostando no conceito de proximidade. A confirmar-se, poderá representar uma capitalização bastante forte do potencial e da intenção que a Auchan tem no nosso país, marcando uma posição para os restantes players”, acrescenta.

Marcas dos fornecedores “respiram de alívio”

Sobre o impacto que este novo cenário na distribuição poderá vir a ter para os fornecedores portugueses e também para os clientes no país, Marta Santos acredita que “dadas as relações existentes com os fornecedores em Portugal e o portefólio alargado que a Auchan tem, ao nível de produtos e de marcas nos seus lineares, será uma mais-valia para o setor das marcas e (…) a garantia de que continuará a haver o espaço justo” para elas. Para o consumidor final, completa, “ter a opção de escolha sobre o que compra é o cenário justo, sem ser conduzido a comprar apenas por preço – e a Auchan, enquanto player de sortido amplo, tem um papel-chave aqui”.

Marta Santos, diretora comercial da Kantar

Pedro Pimentel corrobora que, do lado das marcas, este passo é “seguramente menos mau do que outros que estavam em cima da mesa”, argumentando que “a Auchan é reconhecidamente uma das cadeias que tem uma relação mais positiva com as marcas e com o espaço que lhes é dado”. Sustenta que “só o tempo dirá se é bom ou mau”. No entanto, salvaguarda desde já que esta é uma solução que “cria menos anticorpos do lado dos fornecedores”, que temiam cenários “mais complicados”.

Esta solução cria menos anticorpos do lado dos fornecedores. A Auchan é reconhecidamente uma das cadeias que tem uma relação mais positiva com as marcas e com o espaço que lhes é dado", Pedro Pimentel, Diretor-geral da Centromarca.

Continente e Pingo Doce enfrentariam entraves concorrenciais, pelo peso dominante que têm no mercado português, enquanto o Intermarché não era considerado pelos analistas por ter um modelo de negócio que vive de franquiados. Embora nunca tenham confirmado oficialmente o interesse em ficar com as lojas do Minipreço, o Lidl e a Mercadona eram encarados como potenciais candidatos pela oportunidade de desenvolvimento do negócio. Porém, sendo cadeias com sortidos curtos e que apostam nas insígnias próprias, deixando menos espaço na prateleira para as restantes marcas, eram uma “sombra” – agora afastada – que pairava sobre os fornecedores portugueses. 

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