opinião
Economista e Professor Universitário

O envolvimento direto do Irão no conflito militar Israel-Hamas é uma ameaça severa à economia europeia

15 abr, 13:53

É provável que o mundo assista a uma “lenta metástase da violência”, escrevia o Financial Times em dezembro de 2023, a propósito da crise no Médio Oriente. Subentendia-se que o conflito continuaria a alastrar geograficamente ao longo de muito tempo. 

Em outubro de 2023, imediatamente após o ataque do Hamas a Israel, a agência de notícias financeiras norte-americana Bloomberg referia que, no pior cenário traçado para o conflito no Médio Oriente - de confronto direto entre Irão e Israel - o preço do barril de petróleo subiria 64 dólares. 

Na altura, a possibilidade de o preço do crude poder aumentar mais de 60 dólares parecia muito menos plausível do que hoje. Esta hipótese só se concretizaria perante um eventual constrangimento no fluxo diário daquele recurso no Estreito de Hormuz.

O Estreito de Hormuz liga o Golfo Pérsico aos oceanos. Para além de fundamental para o escoamento do gás natural liquefeito do Catar, no Estreito de Ormuz também passa 20% do petróleo utilizado diariamente à escala global.

O Estreito de Ormuz confronta, a norte, com o Irão e, a sul, com Omã. No seu ponto menos largo, a área navegável é de apenas 10 Km.

Agora que o Irão se envolveu ativamente no conflito Israel-Hamas, a probabilidade de o Estreito de Hormuz sofrer alguma forma de limitação está mais longe de ser nula.

O Goldman Sachs, a propósito da crise do Médio Oriente e dos diferentes cenários de preços para o petróleo, destaca que “um aumento persistente de 10% no preço do petróleo pode reduzir o PIB real da área do Euro em cerca de 0,2% após um ano”.

Considerando a possibilidade de o pior cenário traçado pela Bloomberg se concretizar – cenário em que, no seguimento de um conflito direto entre Irão e Israel, a navegabilidade no Estreito de Hormuz ficaria altamente condicionada e o valor do crude nos mercados escalaria 64 dólares – então o preço do barril de petróleo subiria hoje cerca de 71%.

Ao comparar os estudos da Bloomberg e do Goldman Sachs, a conclusão é alarmante: se o Estreito de Hormuz for afetado no decurso do envolvimento direto do Irão no conflito Israel-Hamas, a economia europeia poderá encolher cerca de 1,42%. A Europa perderia praticamente uma parte e meia de cem do todo o seu produto, o que não deixa de ser extraordinariamente preocupante. 

Com o efetivo envolvimento direto do Irão na crise militar e com a previsão de que a instabilidade continuará a evoluir lentamente e por metástases, é cada vez mais admissível o pior dos cenários para o conflito no Médio Oriente. Seria catastrófico para a Europa.

Colunistas

Mais Colunistas

Patrocinados