Morreu o médico que convenceu Trump que a hidroxicloroquina curava a covid-19

CNN Portugal , FMC
2 jul 2022, 20:51
Vladimir Zelenko, médico que defendia o uso de hidroxicloroquina para o combate ao covid-19 (Facebook)

Vladimir Zelenko tornou-se, em 2020, um especialista mediático no combate ao coronavírus quando defendeu que o medicamento contra a malária, a hidroxicloroquina, era a cura para o vírus que assustava o mundo, recebendo o apoio da Casa Branca, então liderada por Donald Trump

O médico Vladimir Zelenko, que ganhou notoriedade por defender o uso da hidroxicloroquina no combate à covid-19, morreu esta quinta-feira, nos Estados Unidos.

A notícia foi avançada pela mulher, Rinat Zelenko, que informou que o marido morreu num hospital de Dallas, no Texas, devido a um cancro do pulmão, com que lutava há cerca de quatro anos. 

Nascido na Ucrânia, em Kiev, em 1973, emigrou para os EUA quando tinha apenas três anos. Vladimir Zelenko, que se descrevia como um "simples médico do campo", trabalhava numa pequena cidade localizada a cerca de uma hora de Nova Iorque, onde tinha consultório desde 2007.  

Em 2018, foi diagnosticado com um cancro raro no pulmão e, na tentativa de o curar, removeram-lhe o pulmão direito. Nada que o impedisse, mais tarde, de enfrentar com toda a convicção a covid-19 e ter o apoio da Casa Branca, então liderada por Donald Trump. 

Vladimir Zelenko foi um, no meio de tantos, que procurou uma maneira de combater o vírus e a teoria que defendeu tornou-se numa das mais controversas.  

Aquando do início da pandemia, Zelenko começou a fazer vídeos para as redes sociais onde defendia que a cura contra a doença assentava numa combinação de medicamentos: hidroxicloroquina (usado para a malária), o antibiótico azitromicina (usado para infeções como otites, pneumonias, bronquites, entre outras) e sulfato de zinco (utilizado como suplemento dietético). Apelava ainda ao então presidente norte-americano que olhasse para esta solução terapêutica. E assim foi. 

Donald Trump começou a dizer que a hidroxicloroquina era a solução, tratamento que defendeu publicamente durante meses. A 18 de maio afirmou mesmo que estaria a tomar o coktail preventivamente. O regulador norte-americano, a FDA, chegou a aprovar, a 28 de março de 2020, o seu uso para emergências. 

Mas não foi só nos Estados Unidos que este tratamento ganhou notoriedade. A teoria correu mundo e no Brasil, por exemplo, Jair Bolsonaro foi um dos seus grandes apoiantes. 

Vários estudos acabariam por refutar a teoria, concluindo mesmo que não só a combinação de fármacos não teria qualquer efeito como até poderia ter consequências nefastas, como o risco de arritmias perigosas.

Menos de três meses depois, a FDA acabaria por revogar a autorização de uso de emergência. 

O tipo de atenção que o médico recebia acabou por mudar, começando a ser alvo de assédio e ameaças de morte. A situação tornou-se tão crítica que teve de fechar a sua clínica e abandonar a comunidade judaica onde residia.  

Acabou por morrer longe de Nova Iorque, num hospital em Dallas, onde estava a ser tratado. Além da mulher, deixa oito filhos, dois do primeiro casamento e seis do último.

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