Nova geração de medicamentos para perder peso é promissora mas os cientistas ainda não percebem bem porquê

17 ago 2023, 16:04
Balança (Joan Slatkin/ Getty Images)

Resultados na perda de peso e de apetite têm surpreendido a comunidade científica mas muito continua por explicar. Outra descoberta surpreendente é que estes fármacos não estão apenas a ajudar as pessoas a perder peso mas também, em alguns casos, a oferecer proteção contra complicações cardíacas. Questão: a maneira como apareceram parece ter sido por "sorte". E isso requer prudência na análise a isto tudo

São considerados os “game changers” no tratamento da obesidade. Atuam através da exposição de uma hormona natural no cérebro em níveis nunca antes vistos na natureza, o que resulta na perda de peso e na diminuição de peso. Nomes como Ozempic, Wegovy e Mounjaro estão a começar a aparecer no mercado e com resultados promissores. No entanto, os cientistas não sabem bem porquê e muito da forma como funcionam continua a ser um mistério.

“As companhias não gostam da expressão 'tentativa-erro'. Eles dizem ‘fomos extremamente inteligentes na forma de desenhar a molécula'”, afirma ao The New York Times Daniel Drucker, que estuda diabetes e obesidade no Instituto de Investigação Lunenfeld-Tanenbaum. Na verdade, “tiveram sorte”, sublinha.

O Ozempic, medicamento para a diabetes, e o Wegovy, medicamento irmão para a perda de peso, utilizam o mesmo medicamento, o semaglutido. Estes e outros medicamentos desta família, que inclui a tirzepatide e a liraglutido, atuam imitando uma hormona produzida naturalmente pelo organismo, a GLP-1. Uma das funções da GLP-1 é retardar a passagem dos alimentos pelo estômago, o que ajuda as pessoas a sentirem-se saciadas durante mais tempo.

Ao contrário de outros medicamentos que foram descobertos nas últimas décadas, que surgiram após um processo lógico - com as farmacêuticas a estabelecerem objetivos claros a cada passo do processo de criação -, estes fármacos foram criados por acidente.

“Todos gostariam de dizer que deve haver alguma explicação ou ordem lógica nisto que permita fazer previsões sobre o que funcionará. Até agora não há", disse ao Times David D'Alessio, chefe de endocrinologia da Duke.

No entanto, isso não significa necessariamente que sejam prejudiciais para a saúde. Ainda assim, os especialistas em obesidade pedem cautela na utilização deste medicamento. À semelhança de outros tipos de tratamentos, como para o colesterol elevado ou altos níveis de pressão sanguínea, estes produtos farmacêuticos têm de ser tomados indefinidamente ou as pessoas voltam a ganhar o peso que perderam.

A outra descoberta surpreendente

A necessidade de monitorizar pacientes em busca de efeitos colaterais raros, bem como entender os mecanismos exatos de ação, são aspetos que ainda têm de ser investigados, particularmente enquanto os cientistas ainda não compreendem o funcionamento destes medicamentos.

Uma descoberta surpreendente é que estes fármacos não estão apenas a ajudar as pessoas a perder peso mas também, em alguns casos, aparentam oferecer proteção contra complicações cardíacas, ataques cardíacos e derrames. No entanto, a relação entre o aumento do GLP-1 e esses efeitos benéficos ainda não está completamente esclarecida.

Esses medicamentos representam uma nova abordagem no tratamento da obesidade, oferecendo uma alternativa além das estratégias tradicionais de dieta e exercício. Enquanto muitos tratamentos anteriores falharam em fornecer resultados significativos ou tinham efeitos colaterais graves, Ozempic e Wegovy estão a oferecer uma nova esperança para aqueles que buscam uma solução eficaz para a perda de peso.

Depois de a obesidade se tornar “um beco sem saída” da indústria farmacêutica, que historicamente se focou no tratamento do colesterol e da diabetes, a descoberta da exposição de GLP-1 ao cérebro está a mudar tudo. Nenhum medicamento teve resultados tão bons quanto estes. Todos os outros tratamentos, mesmo aqueles que apresentavam modestos resultados, tinha vários efeitos secundários.

Num mundo onde a obesidade é frequentemente associada à falta de disciplina, os especialistas apontam que estes medicamentos começam a oferecer-nos uma nova perspetiva: mostram que a luta contra a obesidade não se trata apenas de força de vontade, mas sim de entender as complexas interações bioquímicas que regulam o apetite e o peso corporal.

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