Marcelo (ex-Tirsense e Benfica): «É uma mágoa nunca ter representado a selecção portuguesa»

15 fev 2002, 21:00

Entrevistado pelo Maisfutebol

- Em Portugal, as pessoas já não se lembram muito de si. Parece que lhe perderam o rasto. Isso deve-se a quê?

- É engraçado fazer-me essa pergunta. Sou um jogador conhecido na First Division e na Division One, mas em Portugal nem por isso. Sabe porquê? É simples: a Imprensa portuguesa considera-me brasileiro. Nasci no Brasil, é certo, mas aos 12 anos já estava em Portugal e aos 22 já tinha nacionalidade portuguesa. Fui à inspecção militar e só não fiz tropa porque passei à reserva. Estou em Inglaterra há quatro anos e já fiz 60 golos. Além do mais, tenho marcos sonantes no meu currículo. Por exemplo, sou o melhor marcador do Sheffield United da década de 90 e já disputei uma final da Taça da Liga.

- Desculpe a consideração que vou fazer: mas o seu sotaque brasileiro poderá ser uma razão...

- É lógico que sim. Mas, repare, já não vou ao Brasil há seis anos. No entanto, criou-se uma imagem que sou brasileiro e isso tem a ver com o simples facto do audiovisual ter um grande peso em tudo. Se tivesse nascido na Alemanha, se calhar, teria uma outra prenuncia ou nem sequer teria sotaque.

- Por esse mesmo motivo nunca representou a selecção portuguesa?

- Isso é uma questão delicada. Mas é claro que podia ter ido à selecção. Quando estava no Tirsense falou-se disso, mas o seleccionador (nrd. António Oliveira) sempre me viu como brasileiro. Nunca fui convocado e essa é uma grande mágoa para mim, como é evidente. Por exemplo, nunca ninguém disse que o Dimas nasceu na África do Sul. Porquê? Mas toda a gente diz que ele é português. Quando era júnior da Académica, o professor Carlos Queiroz queria levar-me ao Mundial da Arábia Saudita, na mesma prova em que Portugal se sagrou campeão de sub-20. Porém, na altura, ainda não tinha nacionalidade portuguesa, porque só a tive aos 22 anos. Por isso, sou português.

- Curiosamente, nessa altura, em 1994 e 1995, antes do aparecimento do Nuno Gomes e do Pauleta, sempre se falou que faltava à selecção portuguesa um homem de área com as suas características. Podia ter sido esse ponta-de-lança?

- Se calhar, podia ter sido. Aliás, com este meio-campo da selecção não era difícil fazer golos. Jogadores como o Figo, o Rui Costa e o Sérgio Conceição conseguem fazer boas assistências para os avançados. Se marcava golos no Tirsense, também era capaz de marcar na selecção. Mas isso nunca aconteceu, não tive uma única oportunidade.

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