Portugal exportador, o eclipse do Brasil e outros fenómenos

18 jun 2015, 11:27
At.Madrid-Real Madrid (REUTERS/ Sergio Perez)

Os números das cinco principais Ligas europeias

A temporada 2014/15 passou a marcar um novo máximo de jogadores formados em clubes portugueses a atuar nas principais Ligas europeias – Espanha, Alemanha, França, Inglaterra e Itália - segundo os dados de um estudo divulgado pelo CIES (Centro de Estudos Internacionais do Desporto). Na época que terminou a 6 de junho, houve 43 futebolistas provenientes do futebol luso que jogaram pelo menos um minuto nas Ligas Top-5: 23 em Espanha, 7 na série A, 6 na Premier League, 6 na Ligue 1,e 2 na Bundesliga. Silvestre Varela contou por duas vezes, dado que atuou em Inglaterra (West Browmich Albion) e Itália (Parma). Este total supera o anterior máximo de 42, registado na época 2012/13.

Destes 43 jogadores, 15 pertencem a equipas que garantiram acesso à Liga dos Campeões. Deportivo da Corunha, com cinco jogadores, e Real Madrid, Valência, Sevilha e Mónaco, com três cada, são os clubes mais representados nesta lista. Refira-se, entretanto, que os critérios do CIES dizem respeito a jogadores formados no país, e não à sua nacionalidade. Assim, por exemplo, Eric Dier (Tottenham, ex-Sporting) conta como jogador formado em Portugal, enquanto os internacionais Anthony Lopes (Lyon) e Raphaël Guerreiro (Lorient) entram nas estatísticas como formados em França.

Número de jogadores formados em Portugal a atuar nas Ligas top-5*

2010/11: 33
2011/12: 41
2012/13: 42
2013/14: 37
2014/15: 43

Por contraste com a situação portuguesa, pela primeira vez desde 2010 o Brasil deixou de ser o principal exportador de jogadores para as cinco principais Ligas europeias. A temporada 2014/15 marca assim uma viragem numa tendência de longo prazo: os 118 futebolistas made in Brasil
que atuar nas Ligas de referência na Europa representam um novo mínimo histórico, por contraste com os 138 da temporada 2012/13.

O Brasil cai diretamente do primeiro posto, que até aqui era crónico, para o terceiro lugar no ranking exportador, sendo ultrapassado pela França (um total de 122 jogadores colocados nas outras quatro Ligas) e também pela Argentina (119).

Esta mudança surge na sequência do Mundial 2014, mas seria precipitado atribuir essa baixa apenas aos desaires sofridos pelo escrete na parte final da Copa, em especial a derrota por 7-1 diante da Alemanha. Mais lógico será associar esta quebra ao forte investimento que alguns clubes locais fizeram nos últimos anos, tornando o mercado brasileiro capaz de competir com grande parte dos clubes europeus no que diz respeito a salários e custos de transferência, fazendo com que jogadores de outros países se tenham tornado mais apelativos para os bolsos europeus.

No ranking global de 2014/15, Portugal surge no sétimo lugar como país exportador de talentos, logo atrás de Bélgica e Suíça. A liderança francesa no capítulo da formação de jogadores exportáveis assenta não só nos futebolistas nacionais, mas também em jogadores provenientes de países africanos, que chegam muito novos às academias de formação dos clubes gauleses e acabam depois por seguir para o estrangeiro.

Principais exportadores para as maiores Ligas europeias em 2014/15*

França, 122
Argentina, 119
Brasil, 118
Espanha, 62
Suíça, 45
Bélgica, 45
Portugal, 43
Sérvia, 41
Holanda, 39
Uruguai, 27
Croácia, 27
Senegal, 27
Colômbia, 26
Dinamarca, 25
Costa do Marfim, 25
Alemanha, 22
Chile, 21
Polónia, 20

De referir, por fim, que esta foi a época em que as principais Ligas europeias menos investiram na formação
. No conjunto das cinco Ligas, apenas
14,3% dos jogadores utilizados foram formados pelo respetivo clube
- um valor que era de 16,4% em 2010/11. Como consequência desta política, registou-se também um máximo histórico na contratação de jogadores formados noutro país: em cinco anos, esse valor passou de 43,5% para 46,2%
. E, ainda como dano colateral dessa realidade, o tempo médio de permanência de cada jogador no seu clube baixou de 2,80 anos para 2,64.

A título de comparação entre Ligas, refira-se que a alemã
é a que tem a média de idades mais baixa (25,9 anos), os jogadores mais altos (1,833 de média) e aqueles que ficam mais tempo no seu clube (2,85 anos). A França
tem a Liga que mais aposta na formação local (69,3% do total)
e com a percentagem mais alta de jogadores formados no próprio clube (19,3%). A Série A
é a que aposta menos na formação (8% do total), e aquela onde os jogadores mudam de clube com mais frequência. Sem surpresa, a Premier League
é a que aposta de forma mais intensa no talento importado
: 57,6% do total de jogadores que atuaram este ano em relvados ingleses vieram de outros países.

*Dados do CIES/Football Observatory, referentes às Ligas de Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha e França

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