Da NBA à MLS, os milhões e os negócios dos empresários que querem investir no Vitória

16 fev 2023, 09:11
Nassef Sawiris e Wes Edens (Foto Getty)

O egípcio Nassef Sawiris já esteve em Guimarães, a acertar o acordo para adquirir 46 por cento da SAD. O seu sócio na V Sports é o norte-americano Wes Edens. São os donos do Aston Villa, mas não só.

Nassef Sawiris esteve em Guimarães a 30 de janeiro, a ver na bancada do D. Afonso Henriques o Vitória vencer o Desp. Chaves por 2-1. O dono do Aston Villa acertou então os últimos detalhes da parceria que prevê a venda de 46 por cento das ações da SAD vitoriana e que vai ser votada pelos sócios do clube em Assembleia Geral a 3 de março. Se for aprovada, o clube português passa a fazer parte de um grupo lançado por dois homens de muitos negócios, milionários à frente de um fundo com projetos desportivos que vão de Inglaterra a África, passando pelos Estados Unidos – da NBA à NHL e também de olho numa futura equipa da MLS sedeada em Las Vegas.

O fundo que se propõe entrar no V. Guimarães é a V Sports, uma nova designação para a NSWE, como se identificava a companhia quando adquiriu o Aston Villa em 2018. Esse nome junta as iniciais dos dois investidores a que pertence: Nassef Sawiris e Wes Edens.

Foto Vitoria SC

O homem mais rico do Médio Oriente

Sawiris, que aparece a cumprimentar António Miguel Cardoso na fotografia do acordo divulgada pelo Vitória e é o presidente executivo do Aston Villa, pertence àquela que é considerada pela revista Forbes a família mais rica do Egito. Começou por herdar os negócios do pai, Onsi Sawiris, fundador da empresa de construção Orascom. Depois, além de liderar a expansão da companhia para outras áreas, do cimento a fertilizantes, Nassef Sawris dedicou-se a adquirir participações associadas a empresas desportivas.

Tem perto de seis por cento das ações da Adidas, onde faz parte do conselho de supervisão, e uma participação idêntica na Madison Square Garden Sports, dona da equipa de basquetebol New York Knicks e da equipa de hóquei no gelo New York Rangers. Segundo a revista Forbes, que estima a sua fortuna em 6.7 mil milhões de euros, é o homem mais rico do Médio Oriente e o 330º mais rico do mundo.

O coproprietário dos Milwaukee Bucks que até se fez sócio de Michael Jordan

O norte-americano Wes Edens é o sócio de Sawiris nos investimentos no futebol. E também tem o seu pecúlio. Começou por ganhar dinheiro com fundos de investimento e também diversificou a atividade para áreas como o gás natural e energias verdes, comboios de alta velocidade ou até uma marca de tequila. Em 2016 associou-se a vários donos de equipas da NBA, entre eles Michael Jordan, para lançar a tequila Cincoro.

Edens tinha chegado à NBA em 2014, em estilo. Nessa altura tornou-se coproprietário dos Milwaukee Bucks em conjunto com Marc Lasry, outro milionário com fortuna feita em fundos de investimento. Gastaram um recorde de 550 milhões de euros para adquirir a equipa, investiram num novo pavilhão e em 2021 viram os Bucks sagrar-se campeões da NBA.

Foram estes dois homens que no verão de 2018 se uniram para comprar o Aston Villa. O clube andava então pelo Championship, onde tinha caído em 2016. Nessa altura foi adquirido pelo empresário chinês Tony Xia, mas dois anos mais tarde estava em risco de entrar em liquidação por dívidas fiscais. Sawiris e Edens começaram por adquirir uma participação de 55 por cento, num investimento que a imprensa inglesa estimou em cerca de 35 milhões de euros. Disseram que queriam recuperar os tempos de glória de um clube que foi campeão europeu: o Villa levantou a Taça dos Campeões em 1982, batendo na final o Bayern Munique.

 

Em maio de 2019, foi já com os novos donos que o Villa conseguiu a promoção à Premier League. Nessa atura, eles adquiriram a totalidade do clube.

A sua gestão tem sido marcada por forte investimento, nomeadamente no mercado, onde gastaram mais de 450 milhões ao longo de quatro temporadas. A esse nível, o retorno não tem sido correspondente, apesar da transferência de Jack Grealish para o Manchester City por 117 milhões de euros em 2021, valor recorde entre clubes ingleses. Mas o Villa tem vindo a crescer e este ano surge na 21ª posição no estudo da Deloitte que avalia os clubes com maior capacidade de gerar receitas, com 210.9 milhões de euros.

Agora, os donos do Villa avançaram para a participação de 46 por cento no Vitória. Se o negócio se concretizar, o clube português manterá a maioria no capital, com 50.84 por cento – de acordo com o Vitória, «apenas 3,16 por cento do capital está disperso por pequenos acionistas».

O Vitória tem vindo a adquirir as ações do antigo sócio Mário Andrade Ferreira, que detinha 56,84 por cento do capital, processo que poderá ficar agora liquidado com a injeção de capital da V Sports. O investimento será de 5,5 milhões no imediato, segundo anunciou o clube português, com mais dois milhões destinados a infraestruturas nos próximos dois anos. O plano passa por um conselho de administração com três representantes do Vitória e dois da V Sports.

«As conversas decorriam há quase dois anos», disse Sawiris ao site do Villa, onde se define o acordo com o clube português como «um importante passo em frente na expansão global do portfolio da V Sports». A empresa, diz ainda o comunicado do clube inglês, pretende «criar uma sinergia entre os clubes do seu grupo, que encoraje a partilha de redes de olheiros por todo o mundo, metodologias no trabalho de formação, melhores práticas e estratégias de desenvolvimento de academias jovens na Europa e em África.»

Do Zed FC ao Las Vegas Villains, candidato a 30ª equipa da MLS

O Vitória é o segundo clube a que a V Sports se associa com uma participação significativa, depois do Aston Villa. Mas a empresa tem outras ligações, nomeadamente ao Zed FC, clube de formação recente que disputa a segunda divisão do Egito e pertence à família de Nassef Sawiris. Em novembro de 2021, Onsi Sawiris, presidente do Zed e sobrinho de Nassef – filho do também bilionário Nagwib Sawiris -, anunciou que o clube tinha um princípio de entendimento com o Aston Villa. «Vamos enviar vários jogadores jovens para passar lá algum tempo e aprenderem sobre o sistema europeu», disse ao canal OnTime SportTV.

Nassef Sawiris e Wes Edens estão a tentar outro grande investimento no desporto. Eles pretendem ganhar a concessão de uma futura 30ª equipa da MLS, a Liga Norte-Americana de futebol, para sedeá-la em Las Vegas. Já têm um nome registado, Las Vegas Villains, e um projeto que inclui a construção de um estádio. Don Garber, o comissário da MLS, disse em março de 2022 que o projeto de Sawiris e Edens estava «na frente da corrida», mas no final do ano afirmou por outro lado que havia mais candidaturas e possíveis localizações fortes, incluindo San Diego. A decisão deve ser anunciada ainda no primeiro semestre deste ano.

O investimento em vários clubes em simultâneo é uma tendência que veio para ficar. Em Portugal há casos notórios, sobretudo a entrada recente da QSI, detentora do PSG, na SAD do Sp. Braga, enquanto a ascensão do Casa Pia está associada à parceria com o norte-americano Robert Platek, que detém entre outros o Spezia, de Itália, e se prepara também para entrar no LKS Lodz, da Polónia.

Mas há mais. No último relatório de atividade dos clubes europeus, a UEFA diz que Portugal é uma das seis Ligas europeias «onde pelo menos um terço dos clubes têm pelo menos uma relação de investimento cruzado com outro clube – por vezes um clube na mesma Liga – em resultado de uma participação maioritária ou minoritária». As outras são Inglaterra, Itália, Espanha, França e Bélgica.

Como estão a aumentar os investimentos em mais do que um clube

É «uma tendência em rápido crescimento», segundo nota a UEFA, considerando que ela resulta «da combinação de factores macroeconómicos e tendências de investimento global». E é «predominantemente potenciada por investidores baseados nos Estados Unidos», que representam um terço do total de «grupos multi-clubes». No final de 2022 a UEFA identificou «180 clubes em todo o mundo que faziam parte de uma estrutura de investimento multi-clube, comparada com menos de 100 há quatro anos e menos de 40 em 2012.

O organismo nota ainda que essa tendência pode implicar riscos desportivos, com potenciais conflitos de interesses. «Tem o potencial de colocar uma ameaça material à integridade das competições europeias, com risco crescente de vermos dois clubes do mesmo dono ou investidor defrontarem-se em campo», admite o relatório, acrescentando que vários países, entre eles Portugal, adotaram ou estão a adotar medidas para controlar essa tendência.

Mas tudo indica que ela veio para ficar e deverá até, conclui a UEFA, «acelerar nos próximos meses, com muitos investidores na corrida para investir em clubes que são percecionados como subvalorizados e com perspetivas de crescimento forte e estável».

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