Sporting-Benfica: «troika» de misters deu alma lusa ao dérbi

3 mar 2016, 19:25
Sporting-Benfica (Lusa)

Último embate entre leões e águias foi um dos mais portugueses dos últimos anos e essa tendência pode verificar-se de novo em Alvalade, provando que menor desinvestimento é mesmo sinónimo de maior aposta no talento luso. Mas isso não serve para explicar tudo...

Ainda é daqueles que julga que o futebol não tem uma relação direta com o que se passa no país? Pois engane-se, tem muito a ver, e nem mesmo os ditos «grandes» escapam a esta fase negativa.

No próximo sábado, Sporting e Benfica defrontam-se em Alvalade de olhos postos na liderança do campeonato. Neste que será certamente o princípio do «sprint» final até ao título, leões e águias podem replicar um duelo com muitos nomes portugueses, tal como no último confronto entre ambos.

No dérbi da Taça da Portugal foram 14 os jogadores lusos presentes em campo, em 26 utilizados, e a nova reedição para o campeonato pode voltar a registar números idênticos, confirmando a inversão de uma tendência que se vinha implementando ao longo dos últimos anos: existe agora uma aposta muito maior na prata da casa, ainda que provavelmente forçada pelo desinvestimento económico dos dois clubes.

Ao longo deste artigo vai poder verificar isso mesmo, embora a falta de dinheiro não seja o bode expiatório para tudo. Curioso?

Vamos por partes, então.

Foi preciso bater no fundo…bem no fundo

O último dérbi com o mesmo número de jogadores portugueses foi em setembro de 2010. Corria então a época 2010/11 e, na Luz, o Benfica de Jorge Jesus venceu o Sporting por 2-0, num jogo que acabou também com 14 portugueses nos 28 que estiveram em campo.

Oscar Cardozo foi o homem do jogo ao apontar os dois golos do Benfica

Parece tudo bem, mas, na verdade, e por incrível que pareça, foi o passo em frente rumo ao precipício. É fácil perceber isso quando damos uma vista de olhos ao jogo que se realizou na época anterior.

Em abril de 2010, o Benfica repetiu o mesmo resultado em casa frente ao eterno rival, num encontro onde tinham alinhado 15 portugueses em 27 jogadores utilizados, ainda que distribuídos de forma bastante desequilibrada, 4 do lado das águias, 11 do lado dos leões, que por essa altura colhiam os frutos da Academia de Alcochete.

A partir daí, a cortina foi fechando. A cada época que passou, foram sendo utilizados cada vez menos portugueses até a situação chegar a uma dimensão quase impensável.

O dérbi de dezembro de 2012 ficou na história como aquele que teve menos jogadores portugueses. Três apenas, dois a titular, Rui Patrício no Sporting e André Gomes no Benfica, que fez entrar depois André Almeida.

Este fenómeno histórico tem uma explicação simples. O Sporting, que até então contribuía e muito para o rácio de portugueses, estrangeirou-se com a gestão Godinho Lopes. O presidente eleito assumiu funções no início de 2010/11, e contratou diversos jogadores, a maioria estrangeiros. Mais investimento foi sinónimo de menor aposta na prata da casa daí em diante. Mas essa gestão haveria de sofrer um volte-face em 2012.

Leão escalou primeiro a encosta

Com a entrada de Bruno de Carvalho, o Sporting voltou a mudar a política de contratações e decidiu apostar de novo em jovens jogadores portugueses. Menos dinheiro disponível trouxe essa mudança de paradigma e veio a refletir-se nos dérbis que se seguiram, onde os leões se apresentaram em campo com vários portugueses e sempre em superioridade em relação ao rival.

Número de portugueses utilizados desde abril de 2010 até novembro de 2015

Interessante perceber também como foi a evolução das apostas lusas desde esse último jogo com forte presença portuguesa até ao último dérbi para a Taça de Portugal.

Portugueses entre os utilizados nos dérbis dos últimos seis anos (até ao da Taça de Portugal)

O que o dinheiro faz. Mas será só isso? Bem, talvez não.

Do Jardim fez-se um Marco e Jesus só viu a Luz em Alvalade

A condição financeira dos clubes é uma parte importante desta equação, mas os treinadores não podem ser subtraídos, uma vez que são eles que definem as apostas a fazer. E é curioso perceber que os técnicos desempenharam um papel decisivo nos confrontos recentes entre ambas as equipas.

Leonardo Jardim tinha uma missão simples quando assumiu o comando técnico do Sporting, aproveitar ao máximo os jogadores formados na academia leonina. E assim foi. No ano de leão ao peito, o técnico madeirense apostou em 17 jogadores portugueses no lote de 45 utilizados nos três dérbis com o Benfica.

Quando deixou Alvalade, o Jardim de Leonardo continuou a dar frutos e o seu sucessor aproveitou. Marco Silva manteve a mesma linha e confirmou a veia formadora do Sporting, confirmando isso mesmo nos dérbis com os encarnados. Em 30 dos jogadores utilizados diante dos encarnados, mais de metade foram portugueses (16).

Esta época o Sporting contratou Jorge Jesus, mas manteve a política de contenção de custos, mesmo que à frente dos comandos técnicos estivesse alguém que não tinha deixado boas indicações nesse capítulo do outro lado da 2ª Circular.

Nos três onze já escalados para defrontar o antigo clube, mais de metade das escolhas de Jesus recaíram sobre jogadores portugueses (24 em 44 utilizados). Uma média de 55%, praticamente o triplo da obtida em seis anos de Benfica (17%).

Parece que só de Alcochete avistou o Seixal, ou seja, só no Sporting é que abriu horizontes para a formação.

Treinadores e as apostas em portugueses entre os utilizados nos dérbis

Rui Vitória fez os primeiros voos rasantes

Não, não foi esquecimento. Neste artigo fala-se também de Benfica e de Rui Vitória, e o agora técnico encarnado teve o mérito de iniciar os primeiros voos rasantes das águias.

Depois de seis anos de Jorge Jesus, o Benfica parece ter mudado finalmente a sua política de contratações, apostando bastante mais na prata da casa.

O notório desinvestimento verificado esta época obrigou Vitória a incluir mais jovens portugueses na equipa principal e, em pouco tempo, já conseguiu ultrapassar a média do seu antecessor.

Significa então que este segundo acréscimo de jogadores portugueses nos dérbis deveu-se, em grande parte, à maior aposta do Benfica nos jovens, equilibrando mais um pouco a coisa, como já foi referido anteriormente.

Guedes (esquerda) e Adrien mostram tendência de portugueses nos dérbis desta época

Depois do Sporting, foi o Benfica que se viu obrigado a encontrar alternativas dentro de portas, provando que, de facto, é preciso um contexto de desinvestimento para facilitar o aparecimento de portugueses.

O dérbi de sábado, o quarto e último desta temporada, pode acentuar então esta tendência de Benfica e Sporting apostarem mais em jogadores lusos, tal como aconteceu há praticamente seis anos, provando também que o português afinal serve, só precisa é de ser lembrado mesmo quando o dinheiro insiste em fazer esquecê-lo.

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