FC Porto-V. Guimarães, 1-2 (crónica)

Ricardo Jorge Castro , Estádio do Dragão, Porto
7 abr, 22:54

Pódio em aberto e dragão num poço. Com que fundo?

Numa jornada com contornos cruciais na corrida ao título, entre Sporting e Benfica, são afinal as contas pelo pódio da Liga que ficam mais equilibradas e tomam proporções que pareciam, à partida, improváveis.

Quatro dias depois de perder no D. Afonso Henriques com o FC Porto na primeira mão das meias-finais da Taça, o Vitória gelou o Dragão. Venceu por 2-1, somou a quinta vitória seguida na Liga, igualou o Sp. Braga no quarto lugar e ficou a dois pontos dos dragões, que não aproveitaram as derrotas dos bracarenses (ante o Arouca) e do Benfica (no dérbi) para, não só cimentar o terceiro lugar, como renovar esperanças pelo segundo. Tudo isto numa (mais uma) noite muito quente e penosa para as hostes azuis e brancas.

Depois de uma noite difícil na jornada anterior, na Amoreira, o FC Porto sofreu a segunda derrota seguida no campeonato. Nova escorregadela numa época que, na Liga, tem estado longe da consistência, estabilidade e resultados desejados. Num poço sem fundo absolutamente conhecido.

A expulsão de Pepe, a 20 minutos dos 90 – por perceber se por palavras ou gestos – foi o clímax de uma noite que começou fria com o autogolo de Galeno e se tornou ainda mais gelada com o golo de Jota Silva. Em cima do intervalo, esteve perto do escândalo – não fosse Diogo Costa negar o 3-0 a Kaio César – mas Galeno compensou o lance que abriu o marcador, ao reduzir antes do intervalo. Não chegaria, por fim, num jogo que teve mais ritmo e intensidade do que o da Taça e do qual o FC Porto saiu com várias queixas.

O resultado – é preciso dizer pelo que se viu em campo – é extremamente penalizador para o FC Porto, que foi mais em quase tudo. Menos nos golos, na frieza e na capacidade de decisão (e finalização). Teve mais bola, mais remates, mais ataques, instalou-se quase por absoluto no meio-campo do Vitória na segunda parte à procura do empate – mesmo com menos um – mas foi a equipa de Álvaro Pacheco a sorrir, por fim. O Vitória põe fim a 11 derrotas seguidas com o FC Porto e vence no Dragão pela primeira vez desde agosto de 2018.

Mas também é um resultado que premeia a estratégia do Vitória, que fez uma primeira parte de elevada competência a defender, mas não só: na frente, foi letal nas ocasiões que teve – tirando a não concretizada por Kaio César. Na segunda parte, sofreu mais, criou menos perigo, mas conseguiu defender a vantagem.

Sem os castigados Otávio Ataíde e Evanilson, Conceição apostou em Fábio Cardoso e Namaso e fez regressar Diogo Costa e Francisco Conceição, após o castigo na Taça. Taremi voltou, começou no banco e entrou já na segunda parte, na aposta total para mudar o resultado. Do lado do Vitória, Álvaro Pacheco mudou três, apostando em Afonso Freitas na esquerda (jogou dois meses depois) além de Jorge Fernandes e Kaio César (titular no Vitória pela primeira vez). Juntou João Mendes mais ao meio e deixou o brasileiro a par de Jota mais à frente.

Mas o que podia ser uma noite que servisse como ponto de partida para uma reta final de época ainda no ataque ao lugar de Champions e com a final da Taça em jogo, cedo se tornou negra.

O FC Porto entrou a tentar assumir, mas foi o Vitória a marcar, a partir de um livre de Tomás Händel na direita, desviado por Galeno para a própria baliza (12m). O golo não demoveu o FC Porto, mas o Vitória montou um muro de betão à frente de Bruno Varela e picaria a defesa portista com silvas, quando Tiago lançou Jota nas costas de Fábio Cardoso, antes de o recém-tornado internacional português superar Pepe e bater Diogo Costa (33m).

A desvantagem traduziu algum nervosismo do FC Porto, que apesar de alguns remates enquadrados – por Alan Varela, Conceição e Fábio Cardoso – e chegadas à área, pecou também em alguns passes na construção, quando tinha espaços para definir melhor. O Vitória, lá bem fechado atrás, não se inibiu de sair com perigo. Pouco, mas bem. E só Diogo Costa negou o 3-0 a Kaio César, antes de Galeno relançar o jogo para a segunda parte, após uma belíssima jogada ao primeiro toque entre Pepê e Namaso.

Ao intervalo, Conceição lançou Zé Pedro e tirou Fábio Cardoso. No Vitória, Tomás Ribeiro e Ricardo Mangas foram a jogo e Manu Silva (grande jogo) passou para o meio com a saída de Händel, mas Miguel Maga iria a jogo ao fim de dez minutos, com a lesão madrugadora de Mangas.

Por essa altura, as mangas estavam era arregaçadas do outro lado: já quase só se via FC Porto e isso seria o espelho de quase toda a segunda parte, perante um Vitória que teve um par de saídas, mas sem o perigo da primeira parte. O lance de maior perigo para Diogo Costa foi mesmo quando Manu Silva ficou perto do golo de uma vida desde o meio-campo (78m).

Pelo meio, já o FC Porto tinha ameaçado várias vezes o empate e foi superior e quis mais, mesmo em inferioridade numérica. Bruno Varela negou o golo a Iván Jaime (67m) numa das ocasiões mais evidentes, entre outras que pecaram por melhor resolução. E a crença de Namaso quase foi premiada no risco de Bruno Varela, que afastou a bola in extremis e o inglês quase marcou ao interceptar.

A expulsão de Pepe elevou a tensão do campo às bancadas, no meio de várias assobiadelas e decisões contestadas e o FC Porto não conseguiu evitar a derrota. O dragão parece estar num poço. Resta saber quão fundo e quão rapidamente sairá de lá. O Vitória sai em alta e sabe que pode aspirar à final da Taça se repetir a dose no mesmo palco, dentro de dez dias.

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