Benfica-Boavista, 3-1 (crónica)

20 fev 2023, 23:21

Herói improvável na noite de todas as emoções

Noite de emoções fortes no Estádio da Luz num jogo em que o Benfica teve de sofrer, como se calhar ainda não tinha sofrido esta época, para contornar um Boavista muito fechado e, desta forma, recuperar a «almofada» de cinco pontos sobre o FC Porto.

Os axadrezados resistiram até ao intervalo, sofreram depois com a reentrada endiabrada do Benfica, mas voltaram a empatar logo a seguir. O Benfica só conseguiu desatar o nó a dez minutos do final, já depois de João Mário desperdiçar um penálti, com um golo de Gonçalo Ramos que volta a destacar-se no topo da lista dos melhores marcadores.

Já com a Luz mais descansada, Musa fixou o resultado final em 3-1. Gilberto, a novidade no onze de Schmidt, por castigo de Alexander Bah, acabou por ser protagonista incontornável nesta noite de Carnaval, com um golo e uma assistência que o mascararam como o herói improvável num jogo que foi um verdadeiro carrossel de emoções.

Petit tinha previsto uma entrada forte e muita intensidade da parte do Benfica no arranque do jogo. Não era difícil de adivinhar, mas a verdade é que aconteceu isso mesmo, com a equipa de Roger Schmidt a entrar no jogo a todo o gás, a manietar o adversário e a concentrar todo o jogo junto à área do Boavista. Logo a abrir, Rafa Silva pressionou Salvador Agra e saiu a jogar com a bola nos pés, invadiu a área e rematou a rasar o poste. Estava dado o mote.

Com Gilberto e Grimaldo a descerem constantemente pelos corredores, João Mário e Aursnes juntaram-se a Rafa Silva no corredor central e colocaram muitas dificuldades ao Boavista que não conseguia respirar. Petit viu-se rapidamente obrigado a adaptar o onze que elegeu, pedindo a Makouta, inicialmente sobre a esquerda, que ajudasse Ibrahima Camara a fechar o corredor central, desviando Bruno Lourenço para a direita onde caía constantemente Grimaldo.

O Boavista ainda ensaiou algumas tentativas para sair a jogar, quase sempre pela esquerda, mas perdia a bola em dois tempos, face à tremenda pressão do Benfica e rapidamente optou pelos pontapés longos pela frente, quase sempre por Bracali. O Benfica carregava por todos os lados e Grimaldo teve uma oportunidade flagrante para abrir o marcador quando João Mário foi derrubado por Bruno Lourenço em mais uma investida pelo meio. Um livre que era quase um penálti para o espanhol. A Luz susteve a respiração, encheu os pulmões de ar, mas desta vez o especialista atirou por cima.

Nesta altura o Boavista já tinha desistido de tentar subir no terreno, limitando-se a despejar bolas para o lado contrário e o Benfica voltou a estar perto do golo quando Grimaldo, com um passe açucarado, solicitou a entrada de Gonçalo Ramos que, com o pé esticado, voltou a levantar as bancadas. Houve até quem tivesse gritado golo, mas ainda não era desta, a bola passou ao lado. Neste verdadeiro furacão no meio-campo do Boavista, os «axadrezados» viram dois amarelos, sinal de preocupação para Petit, depois de dois jogos consecutivos em que viu a sua equipa terminar em inferioridade numérica.

A verdade é que o Boavista conseguiu suster o primeiro impacto da entrada do Benfica e parecia que, com os minutos a correrem, estava cada mais confortável a defender. Sem bola, o Boavista transpirava confiança, mas com ela pouco mais podia fazer do que não fosse devolvê-la ao adversário, quanto mais longe melhor.

O Benfica foi perdendo intensidade e só voltou a despertar no último lance da primeira parte, com o primeiro remate enquadrado do jogo que por muito pouco não resultou em golo. Gilberto cruzou da direita, Gonçalo Ramos cabeceou junto ao segundo poste e Bracali defendeu mesmo sobre a linha fatal. Rafa ainda tentou a recarga, mas já havia uma multidão sobre a linha de golo e o nulo seguiu mesmo intato para o intervalo.

Festa, desilusão e nova festa

O Benfica precisava de mais combustível para explodir definitivamente e, nesse sentido, Roger Schmidt abdicou de Florentino, uma peça a mais no meio-campo, para abrir ainda mais a frente de ataque com David Neres a encostar à direita. O Benfica voltou a entrar com tudo na segunda parte, agora ainda mais acutilante, também com João Mário mais aberto sobre a esquerda, numa frente que se alargava e todo o campo e colocava ainda mais dificuldades ao Boavista.

Aursnes e Rafa Silva passaram a estar mais em jogo e as oportunidades sucederam-se a um ritmo endiabrado, com Gonçalo Ramos, Rafa Silva e David Neres a remarem sucessivamente à baliza de Bracali em poucos minutos. O muro que veio do Bessa parecia estar prestes a ruir e caiu mesmo, aos 55 minutos, com mais um cruzamento de Grimaldo. Bracali ainda susteve a cabeçada de Rafa, mas, desta vez, já não teve mãos para a recarga de Gilberto que entrou com tudo junto ao segundo poste. O Estádio da Luz explodiu em festa, no ponto mais alto de dez minutos demolidores do Benfica.

No entanto, enquanto as bancadas ainda festejavam o golo de Gilberto, o Boavista, discretamente, empatou o jogo. Kenji Gorré, que tinha acabado de entrar, desceu pela esquerda, foi por ali fora e cruzou para o centro da área onde apareceu Yusupha a marcar com um remate seco. Na primeira investida ao campo contrário, o Boavista chegou ao golo e obrigou o Benfica a recomeçar tudo outra vez, agora diante de um adversário mais confiante que já encontrava espaços para sair a jogar, o que não aconteceu nem uma vez na primeira parte.

Agora parecia tudo mais difícil para o Benfica que demorava a recuperar a incrível intensidade com que tinha regressado para a segunda parte. As oportunidades, apesar de tudo, continuavam a ser criadas. David Neres voltou a testar Bracali, mas agora tudo era feito de uma forma mais lenta, mais previsível, mais fácil para o Boavista. Nada saía bem ao Benfica nesta altura, mas os adeptos voltaram a festejar quando Hélder Malheiro, depois de indicação do VAR, foi ver as imagens de uma falta de Sasso sobre Rafa. O árbitro marcou mesmo penálti, mas João Mário, que podia destacar-se na lista dos melhores marcadores da Liga, permitiu a defesa do inspirado Bracali. Rafa ainda tentou a recarga, mas também não.

Roger Schmidt tentou, depois, dar um novo ímpeto à equipa, lançando Gonçalo Guedes para os últimos quinze minutos em detrimento do esgotado Rafa. O Benfica tinha menos intensidade, mas explorava bem os espaços, como ficou bem claro no golo que acabou por chegar aos 81 minutos. Grande passe de Gilberto a destacar Gonçalo Ramos que, depois de sentar Sasso, bateu Bracali de bico. A Luz voltou a ir abaixo. Gilberto, figura de recurso para este jogo, acabou por ser determinante, com um golo e uma assistência.

Agora era de vez. Roger Schmidt voltou a calibrar a equipa a partir do banco e o Benfica ainda marcou mais um golo, a fechar o jogo, por Musa, assegurando o essencial: a vitória que permite ao Benfica seguir com mais cinco pontos do que FC Porto no topo da classificação.

Três golos ao Arouca, outros três ao Casa Pia e, esta noite, o Benfica acabou por manter a bitola que fixou nos três primeiros jogos desta segunda volta, com mais três golos.

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