Russos da Letónia fazem teste de letão para provar lealdade ao país. Se reprovarem, são deportados

8 mai 2023, 09:11
Bandeira da Letónia (Getty)

Russófonos constituem um quarto da população do país. Sentem-se cada vez mais excluídos da sociedade após o início da invasão da Ucrânia

Falar apenas russo na Letónia nunca foi um problema até 24 de fevereiro de 2022. O governo de Riga está a obrigar os cidadãos com passaporte russo no país, cerca de 20 mil, a fazer um teste de letão para provarem lealdade à Letónia, onde muitos viveram durante todas as suas vidas. Se reprovarem no teste, são deportados.

Valentina Sevastjonova tem 70 anos. Antiga professora de inglês e guia turística na capital, adotou a cidadania russa há 12 anos. “Tirei o passaporte russo em 2011 para ser mais fácil visitar os meus pais adoentados na Bielorrússia”, diz à agência Reuters. “Se for deportada, não tenho sítio para onde ir. Vivo aqui há 40 anos”.

Sevastjonova faz parte de uma turma de 11 mulheres, com idades entre os 62 e os 74 anos, que frequentam um curso de letão de três meses num colégio privado. Cada uma delas candidatou-se ao passaporte russo após o colapso da União Soviética, que as tornaria elegíveis para a reforma aos 55 anos e permitiria viajar para a Rússia e Bielorrússia sem precisar de visto.

Com a invasão russa, tudo mudou. Os canais em russo desapareceram, monumentos soviéticos foram destruídos. O governo local está mesmo a tentar acabar com o russo no sistema educativo, um golpe muito duro para a comunidade russófona do país, cerca de 450 mil pessoas, um quarto da população da Letónia, que agora se sentem excluídos da sociedade.

O governo letão defende esta medida acerrimamente. “Decidiram voluntariamente adotar a cidadania de outro país que não a Letónia”, diz Dmitrijs Trofimovs, secretário de Estado do Interior, que justificou a política na retórica de Moscovo, que garantiu que a “operação militar especial” foi lançada para proteger os seus cidadãos no estrangeiro”.

Trofimovs garante que os cidadãos russos com menos de 75 anos que não passarem no exame vão ter um “prazo razoável” para abandonar o país. Se não saírem, enfrentam uma “expulsão forçada”.

“Acho que aprender letão é correto, mas esta pressão é errada”, afirma Valentina. "As pessoas vivem num ambiente russo. Só falam com russos. Porquê? É uma grande diáspora. Há locais de trabalho onde se fala russo. Há jornais, televisão, rádio russas. Podemos conversar em russo nas lojas e mercados - os letões mudam facilmente para russo”, completa.

Para passar no exame, estes russos precisam de compreender e dizer frases básicas em letão como “Quero jantar e comer peixe, não carne”, explica Liene Voronenko, presidente do Centro Nacional de Educação da Letónia, à Reuters.

“Adoro aprender línguas, e esperava aprender francês na reforma, mas agora estou a aprender letão. Bom, porque não?”, afirma Valentina Sevastjonova.

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