opinião
Diretor de Contas da AMP Associates

O bom jornalismo e a qualidade da democracia

26 set 2023, 15:04

O bom jornalismo incomoda e interpela os bons políticos, mas ofende os maus.  Sempre foi assim e num país como Portugal, marcado pela incessante mutação da informação e da opinião pública, a fragilidade de ideias e argumentos políticos desempenha um papel fundamental.

Neste contexto, a relação entre a volatilidade do mercado e a fragilidade das ideias e pessoas é intrincada e merece a nossa reflexão.

É importante lembrar que a ideia de fragilidade contribui para dar algum rigor à perceção de que o tempo é o grande juiz de todas as coisas, como defende Nassim Taleb no seu livro “Arriscar a Pele”. Esta perspetiva, que abrange ideias, pessoas, arte, teorias científicas e muito mais, é profundamente relevante no mercado mediático português.

O mercado mediático nacional é um ecossistema complexo, onde o público é um árbitro implacável. A volatilidade, muitas vezes alimentada por agendas políticas e interesses económicos, pode amplificar momentaneamente as vozes que ecoam nas manchetes, mas a fragilidade das narrativas oportunistas frequentemente as condena ao esquecimento. A pressão por captar a atenção do público a todo o custo pode levar a resultados superficiais, ainda que marcados por um sucesso momentâneo.

Olhando para a política, a dinâmica entre fragilidade e volatilidade é evidente. Políticos e partidos esforçam-se para tirar vantagem de momentos de volatilidade para promover as suas agendas. Discursos inflamados, promessas grandiosas e estratégias de curto prazo podem gerar picos de popularidade temporários. No entanto, a capacidade de manter essa popularidade ao longo do tempo é desafiada pela própria natureza desses esforços. Mais uma vez, o público é um árbitro implacável e as consequências são cada vez mais evidentes.

Outro ponto a reter é que num cenário político cada vez mais polarizado, onde as redes sociais e os meios de comunicação desempenham papéis significativos, a fragilidade das alianças políticas e das promessas vazias é exposta com muito maior rapidez. Os eleitores estão mais atentos e críticos do que nunca, e as tentativas de manipular a volatilidade do ciclo noticioso muitas vezes são percebidas e denunciadas pelo que são: jogos políticos superficiais.

No entanto, esta fragilidade não é necessariamente uma desvantagem se a olharmos como uma oportunidade para a renovação e o crescimento. Curiosamente ou não, são os partidos ao centro que conseguem com maior facilidade reconhecer a fragilidade de ideias e estratégias, levando a uma abordagem mais humilde e responsável por parte dos atores políticos. O desafio reside num outro fator: o medo de perder eleições. A construção de políticas públicas mais sustentáveis e focadas no longo prazo exige coragem, capacidade de negociar com diversas plataformas e partidos, a procura de consensos e o certo abandono de ambições políticas pessoais.

Os meios de comunicação, sejam eles quais forem, têm um papel fundamental na promoção da informação precisa, no debate construtivo e na proteção da qualidade do discurso público. O mercado mediático português, como qualquer outro, está sujeito a flutuações e pressões externas.

Não podemos culpar os meios de comunicação por darem espaço mediático a ideias e políticas frágeis, políticos oportunistas e até perigosos para o sistema democrático, essa é uma dinâmica própria do tempo que vivemos, mas podemos e devemos pedir que sejam exigentes no escrutínio dessas ideias, políticas e políticos.

Precisamos de agentes políticos capazes de resistir e responder com seriedade a perguntas incisivas sem as acusarem de ofensivas. As boas políticas não podem temer um escrutínio agressivo.

Colunistas

Mais Colunistas

Mais Lidas

Patrocinados